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Brasil cria detector portátil de anemia (1 notícias)

Publicado em 24 de maio de 2009

Por Alvaro Fraga

A incômoda coleta de sangue para exames laboratoriais que detectam a anemia pode estar com seus dias contados. Um grupo de pesquisadores brasileiros criou um aparelho portátil, o hemoglobinômetro, capaz de diagnosticar a doença a partir de uma simples picada no dedo do paciente. O resultado é conhecido em três segundos, eliminando a espera do exame normal, que hoje é de no mínimo 48 horas.

O custo do exame também é uma vantagem para o novo equipamento, segundo o físico Paulo Alberto Paes Gomes, coordenador do projeto do hemoglobinômetro. Ele informa que o custo de um exame normal para diagnosticar a anemia varia de R$ 8 a R$ 10. Já com o uso do hemoglobinômetro esse custo fica entre R$ 1,30 e R$ 1,80.

O aparelho foi criado por um grupo de pesquisadores oriundos de universidades públicas e privadas de São Paulo. Eles montaram a empresa Exa-M Instrumentação Biomédica Ltda. em funcionamento na Incubadora Tecnológica de Mogi das Cruzes (Intec). Com financiamento no valor de R$ 1 milhão, repassados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Sebrae, o grupo desenvolve diversos equipamentos para a área de saúde.

O hemoglobinômetro é o primeiro equipamento da empresa a ter sua eficácia comprovada. Ele foi testado numa unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) na Zona Sul de São Paulo, em comunidades ribeirinhas do Amapá e em campanhas de combate à anemia em escolas públicas em Ilhabela (SP) e Santa Luzia do Itanhy, em Sergipe. Os resultados foram superiores aos obtidos por equipamentos importados, já em uso no país. O custo do produto nacional ficaria em torno de R$ 2 mil. Já o equipamento importado é adquirido por R$ 3 mil.

Por sua facilidade de uso, o hemoglobinômetro também auxilia no tratamento das crianças, permitindo o acompanhamento contínuo da evolução dos pacientes. Onde ele foi testado, a taxa de recuperação entre as crianças portadoras da anemia foi superior a 90% depois de três meses de tratamento.

O equipamento já foi patenteado no Brasil e esta semana recebeu o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Vencida essa etapa, os pesquisadores agora querem ver o hemoglobinômetro usado no Sistema Único de Saúde (SUS). “Captamos recursos públicos para desenvolver e testar o equipamento. Agora ele pode ser usado para combater um problema nacional e mundial sério”, diz Paulo Alberto.

A anemia é uma doença muito comum no Brasil. Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, elaborada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, com apoio do Ministério da Saúde, e divulgada em 24 de abril, atestam que mais de 20% das crianças brasileiras com idade inferior a 5 anos sofrem de anemia.

Entre as mulheres em idade fértil o índice é ainda mais preocupante: 29,9%. Na distribuição regional da incidência da anemia, o Nordeste tem índices alarmantes. Entre as crianças com menos de 5 anos analisadas pela pesquisa, 25,5% apresentam quadro de anemia. No caso das mulheres em idade fértil, entre 15 e 39 anos, o índice alcançou 39,1%.

Os índices da doença no Brasil não diferem muito de outros países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a anemia a carência nutricional mais prevalente em todo o mundo, principalmente nos países mais pobres. A doença é causada pelo consumo insuficiente de alimentos ricos em ferro. Crianças com anemia têm problemas motores e de aprendizado, enquanto, nos adultos, a doença pode acarretar problemas imunológicos e baixa produtividade.