Os gastos das empresas brasileiras com compra de tecnologia deram um salto este ano. Apenas no primeiro semestre de 1995, o País já remeteu ao exterior US$ 338,3 milhões a título de importação de tecnologia, segundo dados do Banco Central. A cifra significa um crescimento de 113,4% em relação aos gastos registrados durante todo o ano de 1992 com compra de tecnologia, é 50% maior do que o total, de gastos para este fim durante o ano de 1993 e já representa mais de 90% de todos os gastos para compra de tecnologia registrados em 1994, quando o volume financeiro chegou a US$ 367,2 milhões. Nunca as empresas, brasileiras e multinacionais que estão no País, gastaram tanto para compra de tecnologia como agora.
"Isso já era previsto", diz, sem espanto, o professor Octávio de Barros, diretor técnico da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (SOBEET)."Esse movimento de compra de tecnologia é bastante coerente com a retomada dos investimentos produtivos no País", acrescenta. Dois eventos são, basicamente, os grandes responsáveis por esse salto nos gastos com compra de tecnologia: a flexibilização para remessas a título de pagamento com importação de tecnologia e a abertura do mercado nacional. "As empresas estão despreparadas para esse novo ciclo de desenvolvimento e estão comprando tecnologia para serem competitivas", observa Barros.
Por trás dos frios números do Banco Central está em ebulição um mercado que, nos últimos dois anos, se viu frente a frente com a economia mundial. Some-se a isso uma onda de modernização e busca de eficiência estimulada pelo programa de privatização nacional. A ex-estatal Usiminas, por exemplo, registrou em 1994 um aumento de mais de 100% no número de contratos de transferência de tecnologia em relação ao período em que ainda estava nas mãos do governo. Desde sua privatização, em 1991, o número de certificados de averbação para compra de tecnologia dado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), à Usiminas vem crescendo (era de seis em 1991 e chegou 13 em 1994).
Esses contratos mostram, na prática, a disposição da Usiminas em estar em pé de igualdade com o mercado internacional. A expectativa da empresa é de fechar esse ano com um investimento de US$ 166 milhões na melhoria de processos e produtos. Desse total, US$ 26,4 milhões serão investidos em automação industrial, US$ 12 milhões em pesquisa e desenvolvimento e US$ 27 milhões em informática. A subsidiária brasileira da Olivetti, com a abertura do mercado nacional, introduziu toda a linha de montagem de produtos que são desenvolvidos na Itália e que antes chegavam ao Brasil com defasagem de até um ano. "Hoje temos uma simultaneidade com os lançamentos da matriz", diz Humberto Carnavale, gerente de engenharia da Olivetti. "Tivemos que importar máquinas e equipamentos da matriz", acrescenta.
Com a reserva de mercado de informática no Brasil, a Olivetti, como todas as multinacionais, tinha problemas para produzir no País suas linhas de micro computadores e impressoras. Com o fim da reserva de mercado esse cenário muda. "Em 1993 começamos a instalar nossa linha de montagem no País e em 1994 foi um período de consolidação dessa operação no Brasil", diz Carnavale.
O presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria de Base (Abdib), José Augusto Marques, também vice-presidente da Asea Brown Boveri (ABB), diz que a palavra-chave é globalização. "O Brasil está a caminho de uma economia extremamente competitiva e isso pressupõe tecnologia de primeiro nível", diz Marques. A ABB é um dos mais importantes conglomerados multinacionais gerador de tecnologia para infra-estrutura.
Segundo Marques, há duas formas básicas de as multinacionais comprarem tecnologia da matriz. Na primeira delas, as subsidiárias aportam recursos para um centro de desenvolvimento de tecnologia do grupo e têm o direito de estar sempre em sintonia com o os avanços tecnológicos da matriz. No segundo caso, é o modelo de compra direta mesmo, como também fazem as empresas brasileiras que compram tecnologia no exterior. "Esse aumento de gastos com importação de tecnologia tem que ser comemorado", anima-se Marques.
Segundo dados do INPI, o setor metalúrgico foi o que mais registrou certificados averbados para transferência de tecnologia. Em 1990, este setor estava na quarta posição. Naquela época, a liderança era do setor mecânico, que em 1994 está na segunda posição.
Petrobrás lidera ranking do INPI
Mara Luquet - de São Paulo
A Petrobrás é a empresa que mais compra tecnologia, segundo dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Mas o mesmo INPI mostra uma queda de 20% no número de contratos averbados para a empresa em 1994 se comparado a 1990. "O número de contratos diminuiu, mas o seu valor aumentou bastante", avalia José Augusto Marques, presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria de Base (Abdib). Procurada por este jornal, a Petrobrás não quis falar sobre sua política tecnológica.
No ranking do INPI, a Petrobrás é seguida por Autolatina, CSN, Metagal, Furnas, Villares e Usiminas. Os Estados Unidos respondem por 38.5% do fornecimento de tecnologia para o Brasil. Em segundo lugar está a Alemanha, com 17,5%. Japão, França e Itália estão empatados no terceiro lugar e são responsáveis, cada um, por 6,5% do total das importações brasileiras de tecnologia.
Os números do Banco Central mostram que as remessas ao exterior para importação de tecnologia experimentaram um crescimento em todos os cinco itens acompanhados pelo BC. Mas o maior salto foi observado na licença para exploração de patentes, que apenas no primeiro semestre de 1995 somou US$ 59,9 milhões. Em 1990, esses gastos eram de US$ 3,1 milhões (total das remessas no ano) e durante todo o ano de 1994 somaram US$ 79,1 milhões.
Outro crescimento importante foi observado nas remessas para compra de tecnologia industrial. Os gastos nesse item no primeiro semestre de 1995 já somavam US$ 109,3 milhões. A cifra representa um crescimento de 126,3% sobre os gastos totais de 1994. Há pouco mais de dez anos, as despesas das empresas com compra de tecnologia industrial mal chegavam a US$ 10 milhões. Em 1984, o Banco Central registrou um volume de US$ 6,7 milhões com importação de tecnologia industrial.
As despesas com serviços técnicos especializados cresceram 11,43% no primeiro semestre do ano se comparado ao ano de 1990. Nos primeiros seis meses do ano, US$ 156,1 milhões foram gastos para este fim, ante um volume de US$ 140 milhões registrados em 1990. No item cooperação técnico industrial houve um crescimento de 256% no período de 1993 a 1994. No ano passado, as remessas para este fim checaram a US$ 51,3 milhões. Mas em 1995, houve uma queda neste caso específico e o total dos gastos do primeiro semestre ficaram em US$ 10 milhões.
Notícia
Gazeta Mercantil