A tecnologia de fusão nuclear, processo que nos próximos 15 anos promete se tomar uma fonte inesgotável de energia com baixo impacto ambiental, foi incluída no orçamento do Plano Plurianual (PPA) do governo federal até 2007. Agora, os grupos brasileiros de pesquisa em física de plasmas termonucleares querem acelerar a criação de um Plano Nacional de Energia por Fusão e, além disso, viabilizar a instalação do Laboratório Nacional de Plasma.
O programa, segundo o chefe do Laboratório de Plasma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos pioneiros de pesquisa nessa área no Brasil. Edson Del Bosco, tem o objetivo estratégico de capacitar o país para o desenvolvimento e futuro domínio da tecnologia de geração de energia por fusão termonuclear controlada. "Além de gerar uma oportunidade de inserção do Brasil no esforço mundial pela independência energética, esse programa facilitará a organização e concentração dos esforços dos atuais grupos de pesquisa na área", explicou o pesquisador. O Inpe desenvolveu a primeira máquina brasileira de fusão nuclear controlada, com geometria esférica. O projeto, que também inclui a montagem do Laboratório Associado de Plasma, teve um custo de R$ 2,2 milhões.
O equipamento segue o conceito russo de confinamento magnético de plasma, conhecido como "tokamak" (termo russo que significa câmara toroidal magnetizada). Em um tokamak, o plasma é produzido dentro de uma câmara de vácuo com forma toroidal.
Em operação desde o final de 2000, o experimento tokamak esférico do Inpe já produz plasmas de altíssimas temperaturas (aproximadamente 2 milhões de graus Celsius). O plasma é um gás ionizado com alta energia térmica, definido como o quarto estado da matéria. O processo de fusão dos átomos de hidrogênio ou fusão nuclear, segundo Del Bosco, ocorre em temperaturas maiores, superiores a 10 milhões de graus Celsius.
Del Bosco, e que ela não produz lixo radioativo, pois não libera resíduos de plutônio durante o processo de geração de energia.
Outro aspecto positivo da nova tecnologia, segundo o pesquisador do Inpe, é que não existe risco de explosão ou vazamento porque o plasma só fica quente enquanto está confinado ou sendo alimentado com combustível. No caso de haver quebra do confinamento o reator é desligado e o processo de fusão é automaticamente interrompido. '"A fusão do hidrogênio é semelhante ao processo pelo qual o sol e as estrelas liberam energia para o universo"', disse.
As pesquisas mundiais sobre fusão nuclear terão um grande salto a partir deste ano, com o início da construção do primeiro reator experimental para confinamento magnético de plasma, projeto com investimento estimado em 3 bilhões. A decisão sobre o local onde será instalado o reator deve ser anunciada no próximo mês de março, segundo Del Bosco.
Disputa entre cidades
As cidades de Cadarache, situada na França, e Rokkasho-Mura, no Japão, estão sendo avaliadas como as opções finais para sediar o projeto ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor), do qual fazem parte os Estados Unidos, a Rússia, o Japão, os países da União Européia e, mais recentemente, a Coréia do Sul. O Brasil também está negociando a sua inserção no âmbito do projeto ITER por meio do governo de Portugal — que tem a sua participação garantida por conta da parceria da União Européia.
A China iniciou a sua participação no projeto em janeiro do ano passado. Hoje, participa com 10% dos custos de construção do reator, além de fornecer pessoal qualificado. Segundo Del Bosco, a China possui o maior número de doutores em física de plasmas entre os países em desenvolvimento.
Del Bosco desenvolveu seu pós-doutorado em física de plasmas para fusão nuclear na Inglaterra. Ele trabalhou no desenvolvimento do primeiro tokamak esférico do mundo, o "Start", no laboratório de Culham. Embora o primeiro protótipo de reator termonuclear no mundo tenha sido baseado no conceito convencional de tokamak, a geometria esférica vem ganhando adeptos no mundo.
"Em tokamaks esféricos é possível produzir plasmas estáveis em um campo toroidal com intensidade dez vezes menor que nos tokamaks convencionais, reduzindo drasticamente o custo da máquina", explicou. Além do Start, os mais conhecidos tokamaks esféricos do mundo são o NSTX, do Laboratório de Princeton, nos Estados Unidos e o MAST, também desenvolvido pelo Laboratório de Culham, na Inglaterra.
O Brasil também possui atualmente outros tokamaks em funcionamento, além do localizado no Inpe. Um deles está na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e foi doado pelo Japão no início dos anos 90. O grupo do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para instalar um tokamak de porte médio que veio do Laboratório de Lausanne, na Suíça.
O Inpe foi pioneiro no mundo no desenvolvimento de um tokamak com geometria esférica, mas a falta de apoio financeiro ao projeto. colocou a Inglaterra na, liderança cientifica nessa área. "É fundamental ainda que o país incentive a formação e fixação de pessoal especializado. Qualquer plano nacional só poderá ser bem sucedido se houver a participação de no\os talentos, formando uma massa mínima de especialistas".
Notícia
Gazeta Mercantil