Os milhares de pontinhos brilhantes no céu tiveram origem em diferentes momentos ao longo dos 15 bilhões de vida da Via Láctea. Houve dois instantes, no entanto, que o universo assistiu a uma formação de estrelas acima da média naquela galáxia. O boom estelar foi constatado por pesquisadores do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, que, através da análise da presença de metais pesados em diferentes épocas da Via Láctea, descobriram que o ritmo de formação de estrelas não é constante, como se pensava.
O processo de formação de estrelas é semelhante ao das galáxias. Primeiro, nuvens de gás, contendo principalmente hidrogênio, condensam. Como a temperatura no interior dessas concentrações gasosas é muito elevada - alguns milhares de graus Celsius -, ocorre um processo de fusão termonuclear. Átomos de hidrogênio se fundem, formando outro elemento químico: o hélio. Toda vez que isso acontece, há liberação de energia, o que faz a estrela brilhar.
O ritmo de consumo dos átomos de hidrogênio varia de estrela para estrela. As grandes - com massa no mínimo dez vezes maior do que a do Sol - consomem mais rápido e, por isso, morrem mais cedo. Vivem apenas alguns milhões de anos, o que no mundo da astronomia é muito pouco. Ao morrerem, essas estrelas deixam um rastro de metais pesados, como o enxofre, que são produzidos enquanto estão vivas.
"Constatamos uma presença forte desses metais pesados em dois períodos da vida de nossa galáxia, o que mostra que no momento anterior houve atividade intensa de formação estelar", disse o astrônomo Walter Maciel, da USP. O pesquisador calcula que o primeiro surto tenha ocorrido há cerca de 13 milhões de anos e o segundo, há 8 milhões de anos. Segundo ele, a quantidade de elementos químicos pesados na Via Láctea é pelo menos quatro vezes maior hoje, do que no momento de sua formação.
Walter não sabe ao certo o que causou o fenômeno. A hipótese é que a Via Láctea teria passado perto de outra galáxia, o que teria provocado uma perturbação, tornando o gás interestelar da Via Láctea mais denso e favorecendo a geração de novas estrelas. "As galáxias estão em constante movimento. Quando elas se aproximam, acontece o chamado efeito maré, que faz com que as nuvens de gás fiquem mais densas", explicou.
O astrônomo não estudou as estrelas pequenas, como o Sol, porque estas têm uma vida mais longa, superando 5 bilhões de anos. Diferente das grandes, estas estrelas não produzem metais pesados e gastam pouco combustível - o hidrogênio - para se manterem acesas. "Precisaríamos de mais tempo para avaliar o intervalo de formação dessas estrelas", disse Walter.
Notícia
Jornal do Brasil