Um consórcio com a Boeing para o desenvolvimento de modelos de negócios e tecnologias em biocombustíveis para aviação foi uma das possíveis parcerias entre entidades brasileiras e norte-americanas identificadas durante a 3ª Conferência de Inovação Brasil-Estados Unidos, realizada em 11 e 12 de setembro, no Rio de Janeiro (RJ). O evento contou com a participação do vice-presidente do centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil, Al Bryant, e de dezenas de outros executivos de empresas, universidades e poder público dos dois países.
Desde 2011 a Boeing , a Embraer e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) têm um acordo de colaboração em pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis para aviação e, em março de 2012, a Boeing, a Airbus e a Embraer assinaram um memorando de entendimento para trabalhar em conjunto nesse sentido. A parceria visa estimular uma indústria de produção e distribuição de combustível de aviação bioderivado, sustentável e economicamente viável.
Outros potenciais projetos bilaterais mapeados ou fortalecidos durante o evento foram anunciados pelo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges Lemos, na sessão de encerramento. Na área de saúde, a equipe da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vislumbrou a construção de uma agenda bilateral de inovação, incluindo questões de marco regulatório e a especificação de produtos inovadores nas farmacopeias dos dois países. Outra possibilidade é a expansão da cooperação entre a Anvisa e o FDA, agência ligada ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos.
Ainda nesse setor, o Grupo Farmabrasil - que reúne as dez maiores empresas farmacêuticas nacionais - sugeriu uma parceria bilateral para conhecimentos em biotecnologia, além de governança e mecanismos de apoio à utilização de produtos binacionais de inovação. Outra proposta em saúde, feita pela ABDI, Anvisa e Inmetro, trata da interação em áreas de fronteira e em bioengenharia de tecidos, para a substituição de animais em laboratórios de testes pré-clínicos.
Na área de educação, a Universidade de Nebraska sugeriu a criação de uma plataforma online para o ensino de inglês, de modo a contribuir para a superação da barreira idiomática, ainda considerada um obstáculo na cooperação entre os dois países. A Capes propôs, também, uma plataforma para conectar pesquisas brasileiras e norte-americanas através do programa Ciência Sem Fronteiras.
BNDES formaliza participação nos esforços de cooperação
A 3ª Conferência de Inovação Brasil-Estados Unidos foi promovida pela ABDI, o Movimento Brasil Competitivo (MBC), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Council on Competitiviness (CoC), entidade dedicada a fortalecer a competitividade dos Estados Unidos. No dia 11 de setembro, durante a abertura oficial do evento, o BNDES assinou um acordo com a ABDI, MBC e CoC (parceiros nas três edições do evento) formalizando sua participação nos esforços de cooperação Brasil-Estados Unidos.
"A aproximação que estamos promovendo é um jogo de "ganha ganha", interessante para todos. Trata-se da união dos dois maiores países do continente americano em prol do desenvolvimento de conhecimento, em torno de desafios globais", declarou o presidente da ABDI. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, lembrou que nos últimos anos o Brasil não só estabilizou a economia e a inflação, mas também promoveu avanços substanciais na construção de instituições em áreas estratégicas, que protegem a economia de grandes choques.
"Nossas instituições se aprimoraram em transparência, práticas públicas e respeito ao setor privado e seus contratos. Hoje, temos a dinamicidade do setor público mobilizando a iniciativa privada. Exemplo disso é que em breve começaremos uma grande onda de concessões para o setor privado na área de logística", declarou o presidente do BNDES. Coutinho falou ainda sobre o programa Inova Empresa, lançado este ano pelo governo federal. "É um ótimo momento para fortalecermos a cooperação Brasil-Estados Unidos, porque temos a ambição de mobilizar grandes projetos de inovação por meio do Inova Empresa. E as companhias norte-americanas podem e devem liderar alguns desses projetos", assinalou.
A presidente do CoC, Deborah Wince-Smith, acredita no desenvolvimento de uma plataforma de inovação bilateral, liderada pelo setor privado. "Podemos criar um laboratório de projetos-piloto. Pelo lado americano, já temos um forte grupo de líderes da iniciativa privada e da academia comprometidos em participar dessa parceria tecnológica. Em nosso próximo encontro, já teremos um plano de ação, em um novo patamar de parceria".
O representante do Departamento de Estado Americano no evento, José Fernandez, destacou a agricultura e a segurança alimentar como campos promissores da cooperação, além dos biocombustíveis. Reforçou, ainda, a importância do financiamento doméstico para o desenvolvimento e a transparência no processo de parcerias. "Podemos planejar um tratado de investimento bilateral. O cenário é favorável para isso, pois já temos mais de 80 mil norte-americanos empregados em empresas brasileiras instaladas nos Estados Unidos, além de milhares de alunos brasileiros no nosso país e profissionais norte-americanos vindo ao Brasil", acrescentou.
O representante da empresa de softwares Totvs, Gilberto Girardi, finalizou sua participação na conferência com um exemplo simbólico do que o encontro e seus debates proporcionaram. "Nesses dois dias de evento, só na área de gestão agrícola e hídrica, observei a possibilidade de combinarmos conhecimentos e técnicas desenvolvidos pela Universidade de Nebraska com os conhecimentos de solo trazidos pela Embrapa, com equipamentos fabricados pela empresa Deere &Company, suportados por softwares desenvolvidos em conjunto pela IBM e a Totvs. Esse tipo de ação conjunta é o caminho para a melhoria de produtividade, rentabilidade e sustentabilidade".