Com vista ao desenvolvimento de biocombustíveis de aviação, a fabricante de aviões americana Boeing anunciou ontem que vai abrir, ainda neste ano, um centro de pesquisa e tecnologia em São Paulo. A unidade representa o sexto centro de pesquisas avançadas da companhia fora dos Estados Unidos, unindo-se a operações do tipo na Europa, na Austrália, na Índia, na China e na Rússia.
No estágio inicial do projeto, os investimentos anuais da Boeing devem girar entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões, em recursos direcionados à contratação de uma pequena equipe inicial - para coordenação dos projetos - e ao financiamento de pesquisas. Em uma segunda fase, esses investimentos poderão evoluir para a contratação de engenheiros e a instalação de um laboratório de pesquisas.
Além dos biocombustíveis usados em aeronaves, estarão no foco as pesquisas relacionadas à gestão de tráfego aéreo e desenvolvimento de novos metais e materiais dos aviões. Para isso, serão feitas parcerias com empresas e instituições de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, incluindo agências governamentais, setor privado e universidades.
A Boeing já havia anunciado, em julho do ano passado, uma parceria com a Embraer com o objetivo de financiar pesquisas para produção de biocombustíveis de aviação. Após isso, em outubro, o grupo americano e a Embraer, junto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), assinaram uma carta de intenções para avaliar oportunidades e desafios ao surgimento no Brasil de uma indústria de produção e distribuição de combustíveis bioderivados para aviação.
A fabricante americana estima que a demanda por aeronaves no Brasil nos próximos 20 anos irá superar mil aviões, com custo superior a US$ 100 bilhões.
Durante o anúncio do projeto à imprensa, a direção da Boeing no Brasil procurou desvincular a criação do centro tecnológico da competição pelo fornecimento de caças à Força Aérea Brasileira (FAB).
A presidente da filial brasileira, Donna Hrinak, classificou o novo centro de pesquisa como o "carro-chefe" nos planos da companhia de se estabelecer no país. Mas ressaltou que a finalidade dessa unidade é o desenvolvimento e não a transferência de tecnologia - um dos pontos exigidos pelo governo brasileiro na compra dos caças.
Com seu FX-18 Super Hornet, a Boeing concorre com a Dassault, fabricante do francês Rafale, e a sueca Saab, que fabrica o Gripen NG, pelo fornecimento de 36 caças que vão equipar a FAB.
Segundo Donna Hrinak, que foi embaixadora dos Estados Unidos no Brasil entre 2002 e 2004, o novo centro de pesquisa visa a projetos de desenvolvimento de longo prazo e não está relacionado à concorrência.
"O centro de pesquisa e tecnologia é muito abrangente. Cobre a parte de aviões comerciais, aviões militares e veículos aeroespaciais. Então, vai muito além de qualquer decisão do governo brasileiro sobre o FX", disse Donna, que assumiu o cargo em outubro do ano passado.