Um protótipo desenvolvido por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) pode mudar o diagnóstico e o tratamento do câncer de boca.
O dispositivo, do tamanho da ponta dos dedos, é um biossensor capaz de identificar sinais de metástase a partir da saliva, dispensando procedimentos invasivos e podendo evitar cirurgias desnecessárias.
A tecnologia detecta concentrações de três biomarcadores ligados à doença — as proteínas LTA4H, CSTB e COL6A1 — que indicam a disseminação do câncer para os gânglios do pescoço, fase que costuma agravar o quadro clínico. O processo utiliza espectroscopia de impedância eletroquímica, técnica que mede a reação das proteínas ao entrarem em contato com a área ativa do sensor, composta por ZIF-8 e anticorpos específicos.
Coordenado pela pesquisadora Adriana Franco Paes Leme, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio/CNPEM), o projeto identificou os marcadores por meio do mapeamento de proteínas em tecidos tumorais, posteriormente analisadas na saliva. O desenvolvimento contou com apoio da FAPESP e foi publicado na revista Small.
Segundo o CNPEM, o objetivo é que o biossensor chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS). De baixo custo e fácil aplicação, o exame não é invasivo e permite decisões clínicas mais rápidas, auxiliando médicos a definir o tratamento mais adequado.
Os pesquisadores também utilizaram algoritmos de inteligência artificial para interpretar os dados do teste. Modelos de aprendizado de máquina conseguiram identificar com até 76% de precisão os casos de metástase, com destaque para o biomarcador LTA4H.
De acordo com a pesquisadora Luciana Trino Albano, que participou do estudo durante o pós-doutorado no CNPEM, cerca de 70% das cirurgias de dissecção cervical realizadas em pacientes com câncer de boca poderiam ser evitadas com o novo exame. A expectativa é que, em até três anos, o biossensor seja transformado em um kit portátil para uso em hospitais, consultórios e programas públicos de rastreamento.