Em 28 de fevereiro de 2020, a sequência completa do genoma do SARS-CoV-2 – coronavírus que provoca a covid-19 – foi divulgada por Ester Cerdeira Sabino, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina e diretora do Instituto de Medicina Tropical, ambos da Universidade de São Paulo (USP), e Jaqueline Goes de Jesus, biomédica e pós-doutoranda, com a colaboração de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido).
Isso aconteceu apenas 48 horas depois que o primeiro caso da doença foi confirmado num hospital de São Paulo. Em geral, o sequenciamento de um genoma leva, em média, 15 dias.
As informações obtidas por Ester e Jaqueline foram muito importantes para se entender como o vírus se dispersava globalmente e ajudar no desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos.
Por isso, todas as homenagens a essas duas mulheres são muito bem vindas. Não só devido a questões de gênero, mas também aos ataques à ciência perpetrados no Brasil – com o governo Bolsonaro – e no mundo.
Por aqui, a primeira homenagem de que tivemos notícia foi feita por Maurício de Souza e sua Turma da Mônica, como contamos aqui, em março de 2020. Ester e Jaqueline foram desenhadas como os personagens dessa turma e passaram a integrar a galeria das Donas da Rua, espaço mantido em parceria com a ONU Mulheres para contar histórias de mulheres de destaque em qualquer área e inspirar meninas de todo o país.
Em março deste ano, Ester foi novamente notícia ao dar nome ao Prêmio Ester Sabino para Mulheres Cientistas – contamos aqui-, que visa incentivar a participação de mulheres na ciência e reconhecer sua contribuição ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do estado.
“Como mulher negra, me ver representada numa boneca Barbie é um sonho”
Agora, é a vez de falarmos novamente de Jaqueline: pelo trabalho realizado com Ester, ela foi escolhida para integrar a linha de cientistas da Barbie – que faz parte da coleção Mulheres Inspiradoras da Mattel -, e virou boneca junto com outras cinco pesquisadoras que tiveram trajetória de destaque durante a pandemia.
“Em toda a minha história, jamais imaginei que me tornaria uma boneca e confesso que ainda estou processando tudo que está acontecendo (…). Enquanto mulher negra, ser presenteada com uma boneca Barbie que tem todas as minhas características é simplesmente um sonho”, destaca Jaqueline em seu Instagram.
“Neste momento, só consigo pensar em quantas meninas podem ser inspiradas por ela, quantas meninas negras podem olhar e sonhar em seguir a profissão de cientista, onde mulheres ainda são sub-representadas no mundo todo”. E Jaqueline finaliza:
“Me tornar um modelo para novas gerações é provar que através das oportunidades, o talento e a inteligência podem alcançar e gerar frutos positivos para uma nação. Quando crianças são estimuladas a novas percepções de mundo, grandes mudanças começam a acontecer no futuro do que chamamos hoje. Elas imaginam que podem ser o que quiserem, mas ver o que podem se tornar, ouvindo as trajetórias de outras pessoas e reconhecendo-se nelas faz toda a diferença”.
Pesquisadora especializada em arbovírus
Jaqueline tem apenas 31 anos e chama a atenção por suas realizações no campo da biomedicina. Antes da pesquisa do novo coronavírus, ela fez parte da equipe que sequenciou o genoma do vírus da zika.
Atualmente, ela se dedica à pesquisa de arboviroses emergentes, que são doenças causadas por arbovírus – transmitidos por artrópodes como insetos, aranhas e carrapatos – como os da dengue, zika, febre chikungunya e febre amarela.
A biomédica nasceu em Salvador – sua mãe é enfermeira e seu pai, engenheiro civil – e é pesquisadora bolsista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em nível de pós-doutorado, no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo — Universidade de São Paulo (IMT-USP).
As cientistas que viraram Barbies
Além de Jaqueline (a segunda boneca da esquerda para a direita), outras cinco cientistas foram homenageadas pela Mattel com uma linha de cientistas – da coleção Mulheres Inspiradoras – que, em suas especialidades, atuaram de forma impactante na pandemia para combater ou ajudar a combater a covid-19. São elas:
Sarah Gilbert (Reino Unido): professora de vacinologia na Universidade de Oxford, liderou o desenvolvimento da vacina de AstraZeneca, na parceria entre a universidade e a indústria farmacêutica;
Amy O’Sullivan (Estados Unidos): enfermeira veterana do Hospital Wyckoff, no Brooklyn, Nova York, ela atendeu o primeiro paciente com covid-19 nessa cidade, tendo sido eleita, pela revista Time, como uma das 100 pessoas mais influentes de 2020. Veja a reportagem sobre sua Barbie, na mesma revista;
Audrey Cruz (Estados Unidos): a médica atuou na linha de frente no combate à pandemia em Las Vegas;
Chika Stacy Oriuwa (Canadá): a psiquiatra residente na Universidade de Toronto lutou contra o racismo sistêmico na área da saúde durante a pandemia; e
Kirby White (Austrália): esta médica desenvolveu uma bata cirúrgica para proteger trabalhadores que atuam na linha de frente contra a covid-19.