Um diagnóstico inédito de todos os grupos de organismos vivos conhecidos no Estado de São Paulo promete dar novos rumos à política de conservação e uso sustentável da biodiversidade paulista. Um balanço do conhecimento acumulado ao longo de quase 500 anos sobre vertebrados, invertebrados de água doce, marinhos e terrestres, microrganismos, algas, plantas criptógamas (sem flores, como musgos e samambaias) e fanerógamas (com flores) está na obra Biodiversidade do Estado de São Paulo. Brasil: Síntese do Conhecimento ao Final do Século XX, organizada pelos professores Carlos Alfredo Joly, do Departamento de Botânica do Instituto de Biologia, Unicamp, e Carlos Eduardo de M. Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo.
Financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado de São Paulo) e elaborada por mais de 100 pesquisadores de todo o Estado, a publicação está dividida em sete volumes. Ao todo, são mais de mil páginas descrevendo o conhecimento atual das espécies paulistas. "Esse projeto reflete o esforço da comunidade de pesquisadores do Estado em dar um primeiro passo para a implantação de um programa de pesquisa voltado para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade", explica o coordenador do projeto, professor Joly, que é também diretor do Jardim Botânico "Professor Hermógenes de Freitas Leitão Filho", da Unicamp.
Para reunir e sistematizar os dados apresentados na publicação, pesquisadores paulistas de diversas instituições trabalharam durante os últimos dois anos. Além de um quadro geral do nível atual de conhecimento sobre a biota paulista, o trabalho traça um perfil da infra-estrutura de conservação "in situ" do Estado - como parques, reservas biológicas e estações ecológicas onde as espécies estão integradas ao ecossistema - e "ex situ", locais em que amostras das espécies são retiradas de seu ambiente natural para análise. Exemplos disso são os museus, zoológicos, herbários, bancos de germoplasma e coleções de cultura.
A qualidade das informações coletadas estimulou o grupo a publicar a série, composta de sete volumes independentes, mas que se complementam. Assim, de acordo com o professor Joly, cada pesquisador ou estudante poderá utilizar os livros da forma que lhe parecer mais conveniente. "Não é nenhum exagero afirmar que o resultado final é uma obra impar, já que não há no mundo nada similar em termos de abrangência taxonômica e geográfica", garante.
Continuidade - O sucesso do empreendimento foi tão grande que no dia 25 de março a Fapesp lançou oficialmente o "Biota-Fapesp: o Instituto Virtual da Biodiversidade", um programa especial de pesquisas em conservação e uso sustentável da biodiversidade do Estado de São Paulo. A partir de agora os pesquisadores do Estado passam do diagnóstico para uma nova etapa de projetos que pretende preencher importantes lacunas do conhecimento e realizar sínteses integrando diferentes componentes da biodiversidade visando à sua aplicação prática.
"Pretendemos não só dar continuidade à importante tarefa de descrever e catalogar espécies como também desenvolver projetos de pesquisa que incorporem aspectos estruturais e funcionais da biodiversidade, como a distribuição espacial e temporal dos organismos e as relações entre seus componentes nos diversos níveis organizacionais. O programa deve também incorporar a valorização da biodiversidade, tentando estabelecer um vínculo entre os serviços e produtos da diversidade biológica e os sistemas produtivos", observa Joly.
Segundo o professor, várias tentativas anteriores de iniciar um programa desta abrangência não tiveram êxito devido ao distanciamento entre os órgãos que as propunham ou administravam e os pesquisadores cujo conhecimento científico e técnico é essencial para sua realização.
"Pela primeira vez um projeto dessa natureza foi elaborado pela comunidade científica em conjunto com uma agência de fomento á pesquisa, a Fapesp, e com um órgão público, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Assim, temos a certeza de que estamos atendendo tanto aos interesses dos pesquisadores como dando subsídios para o trabalho empreendido pelos órgãos responsáveis pela tomada de decisão para o manejo e regulamentação de uso e conservação de recursos naturais", conclui Joly. (M.T.S.)
Vendas pela Internet
Os livros estão sendo vendidos a preço de custo e somente pela Internet. Os interessados poderão adquiri-los por meio do endereço: www.bdt.org.br/bdt/biotasp/livros. Os recursos obtidos com a venda serão utilizados para financiar a disponibilização eletrônica de todos os volumes que compõem a série.
Risco de extinção é presente
A cena é comum em lojas de souvenirs e artesanatos de estâncias turísticas. Entusiasmados com a beleza da flora e fauna brasileiras, turistas não hesitam em adquirir pratos, quadros, copos e toda sorte de quinquilharias decoradas com asas de borboletas como lembrança de sua passagem pelo Brasil. Como existe demanda, a caça às borboletas continua sendo feita de forma indiscriminada.
Assim como as borboletas, muitas outras espécies correm o risco de um dia desaparecer pela prática constante do extrativismo. "A falta de dados sobre animais e plantas que compõem a flora e a fauna de cada estado brasileiro contribui para que o homem retire da natureza aquilo de que necessita sem qualquer preocupação com o manejo e a reposição das espécies", adverte Carlos Alfredo Joly.
Para inverter este quadro, os pesquisadores consideram essencial que se conheça detalhadamente a biologia das espécies e, para isso, a série "Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX" representa uma importante contribuição. Com os dados em mãos, medidas podem ser adotadas para evitar o desequilíbrio dos ecossistemas e a extinção das espécies sem que haja necessidade de o homem deixar de utilizar os recursos que a natureza lhe oferece.
Notícia
Jornal da Unicamp