Os laboratórios farmacêuticos Biosintética, Biolab/Sanus e União Química, todos de capital nacional, concluíram neste mês a criação do Coinfar, um consórcio que conta com a participação do Instituto Butantan e financiamento da fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver pesquisas e novos medicamentos.
De acordo com Márcio Falei, diretor médico da Biosintética, o consórcio existe desde 2000, mas apenas agora conseguiu seu cadastro de pessoa jurídica, o CNPJ. "Do ponto de vista jurídico, sem o CNPJ não podíamos fazer nada. Agora iremos levar o contrato para Fapesp e também começar a analisar outras possibilidades de linhas de financiamento", diz Falei.
O trabalho de pesquisa, no entanto, já está em andamento e hoje o Coinfar possui cinco projetos em andamento, sendo que para quatro deles já foi depositada patente. Segundo Falci, pelo menos três dos projetos têm potencial para se tornarem inovações radicais, ou seja. medicamentos completamente novos. "'Os testes ainda não estão terminados e só poderemos ter certeza após realizar os primeiros testes clínicos em humanos", diz. O projeto em estágio mais avançado é o Evasin, medicamento para tratamento de hipertensão originado do veneno da cobra jararaca. "Ainda temos de oito a dez anos para que a pesquisa seja concluída e cerca de mais três anos até iniciarmos os testes clínicos", afirma Falei. A Biosintética investiu R$ 500 mil no Coinfar neste ano e para 2005 pretende triplicar o montante. A empresa possui hoje 15 patentes de medicamentos e alocou RS 10 milhões para pesquisa interna neste ano, crescimento de 30% sobre o volume de 2003. Segundo Josimar Henrique da Silva, presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), a pesquisa de medicamentos inovadores no Brasil é possível apenas para empresas de grande porte como Biosintética e Biolab, porque os investimentos necessários são volumosos e de alto risco. "Não existe no Brasil atualmente nenhum mecanismo de apóio financeiro que viabilize pesquisa de risco. Esse é o principal entrave", diz Silva.
Ele afirma que a indústria nacional precisa encontrar alternativas para realizar pesquisas. "É o único passo possível para evolução da indústria nacional, se não realizarmos pesquisa não iremos sobreviver".
Entre as alternativas hoje disponíveis para laboratórios nacionais está a pesquisa de inovações incrementais e fitoterápicos, que necessitam de investimentos de menor porte e proporcionam retorno mais rápido. Segundo Falei, dos produtos patenteados pela Biosintética cerca de 12 são inovações incrementais e o restante produtos fitoterápicos. Política Industrial
Para Silva, é expressivo o fato de que o governo tenha se disposto a criar uma política industrial e ter colocado o setor farmacêutico e farmacoquímico entre as quatro principais prioridades. No entanto, os mecanismos para financiamento e incentivo à pesquisa ainda não são suficientes. "A Alanac está realizando reuniões periódicas com os ministérios do Desenvolvimento. Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e da Ciência e Tecnologia (MCT), para discutir essa questão e sugerir soluções".
De acordo com Silva, alguns caminhos possíveis podem ser delineados ainda neste ano. "Neste mês houve uma reunião no MCT e deixamos algumas sugestões para serem analisadas. Nas próximas três semanas seremos convocados para conversar com a equipe que irá analisar as propostas", afirma.
Gabriel Attuy
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