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Bioenergia será estratégica para a economia sustentável (1 notícias)

Publicado em 09 de novembro de 2017

Por Karina Toledo, da Agência FAPESP

Especialistas estimam que iniciativas em diferentes setores serão necessárias para reduzir as emissões de gases estufa, manter o aquecimento global abaixo de 2 ºC até o fim do século e, dessa forma, minimizar os impactos da mudança climática para a humanidade. Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, a bioenergia tem lugar garantido nesse conjunto de soluções.

A avaliação foi feita nesta terça-feira (17/10) durante a palestra de abertura da terceira edição da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST). Organizado no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o evento aconteceu em Campos do Jordão e teve como foco principal discutir a bioenergia no contexto da bioeconomia, ou seja, na construção de uma economia sustentável.

“Energia é essencial para o desenvolvimento. Nos próximos anos, países como China, África, Índia, Oriente Médio, Rússia e Brasil vão precisar de mais energia para criar uma vida melhor para sua população. Isso torna ainda maior o desafio de conter as emissões e, portanto, será preciso buscar novas formas de lidar com esse problema”, disse Brito Cruz. A bioenergia, acrescentou, pode ajudar a mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa principalmente no setor de transportes – que atualmente é o que mais demanda energia no mundo (27% de toda a energia consumida).

Para Brito Cruz, a ideia de que os carros elétricos vão substituir totalmente os motores a combustão interna precisa ser vista com cautela. A indústria automobilística ainda precisaria superar o desafio de aumentar a densidade energética das baterias – que determina a autonomia dos veículos entre uma recarga e outra. “A conveniência de usar combustível líquido é relevante e ainda há espaço para os motores a combustão se tornarem menores e mais eficientes. A eletricidade e os biocombustíveis são soluções complementares e terão de trabalhar juntos. A demanda por biocombustíveis no futuro estará associada principalmente à aviação, navegação oceânica e viagens rodoviárias de longa distância”, afirmou.

A fatia representada pelas fontes renováveis na matriz energética cresce em quase todos os países. Em locais como Nova Zelândia, Suécia, Noruega e Islândia já representa mais de 40%. “No Brasil esse índice é de 41%, algo que poucos conseguem alcançar. A principal fonte renovável brasileira é a cana-de-açúcar, que atende a 17,2% da demanda. Quase 9% da energia elétrica gerada no Brasil hoje é oriunda da queima de biomassa, o que mostra que além dos transportes a bioenergia tem espaço em outros setores”, disse Brito Cruz.

Projetando uma Bioeconomia Sustentável

Presente na Cerimônia de Abertura da BBEST 2017, o Presidente da FAPESP, José Goldemberg, destacou que até 2050 a bioenergia corresponderá a quase 30% de toda a energia usada no mundo. Atualmente, esse índice está em torno de 10%, segundo dados da International Energy Agency (IEA), organização intergovernamental autônoma criada no âmbito da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. “Por estar ciente dessa situação a FAPESP criou o BIOEN, que desde sua criação em 2008 já recebeu R$ 80 milhões de investimento”, disse à Agência FAPESP.

Gláucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do BIOEN, afirmou que a BBEST nasceu praticamente ao mesmo tempo que o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia com o intuito de congregar a academia, a indústria e fazer um esforço de comunicar os avanços no campo da ciência e da tecnologia para os formuladores de políticas públicas do setor.

“Nas edições anteriores da BBEST, conseguimos mostrar como a bioenergia pode interagir com questões como segurança alimentar, segurança ambiental, segurança climática e com o desenvolvimento sustentável. Nos últimos três anos, começamos a pensar em todas essas questões de uma maneira mais integrada, buscando o desenvolvimento de uma bioeconomia. Por meio do BIOEN, estamos desenvolvendo tecnologias para usar a biomassa e para fazer muitas outras coisas além do bioetanol, como combustíveis de aviação e bioprodutos que substituam aqueles hoje produzidos pela indústria petroquímica”, afirmou.

Para Luuk van der Wielen, diretor do Biotechnology based Ecologically Balanced Sustainable Industrial Consortium (BE-Basic) e organizador da BBEST ao lado de Mendes Souza, a bioeconomia é um caminho para o Brasil superar a turbulência e as dificuldades econômicas atuais. “Há muitas iniciativas nesse sentido que serão mostradas ao longo destes três dias”, afirmou.

Também participaram do evento Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), e Marcio de Castro Silva Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) – ambos secretários-gerais da BBEST 2017.

Mais informações sobre o BBEST: www.bbest.org.br