Especialistas estimam que iniciativas em diferentes setores serão necessárias para reduzir as emissões de gases estufa, manter o aquecimento global abaixo de 2 ºC até o fim do século e, dessa forma, minimizar os impactos da mudança climática para a humanidade. Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, a bioenergia tem lugar garantido nesse conjunto de soluções.
A avaliação foi feita nesta terça-feira (17/10) durante a palestra de abertura da terceira edição da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST). Organizado no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o evento aconteceu em Campos do Jordão e teve como foco principal discutir a bioenergia no contexto da bioeconomia, ou seja, na construção de uma economia sustentável.
“Energia é essencial para o desenvolvimento. Nos próximos anos, países como China, África, Índia, Oriente Médio, Rússia e Brasil vão precisar de mais energia para criar uma vida melhor para sua população. Isso torna ainda maior o desafio de conter as emissões e, portanto, será preciso buscar novas formas de lidar com esse problema”, disse Brito Cruz. A bioenergia, acrescentou, pode ajudar a mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa principalmente no setor de transportes – que atualmente é o que mais demanda energia no mundo (27% de toda a energia consumida).
Para Brito Cruz, a ideia de que os carros elétricos vão substituir totalmente os motores a combustão interna precisa ser vista com cautela. A indústria automobilística ainda precisaria superar o desafio de aumentar a densidade energética das baterias – que determina a autonomia dos veículos entre uma recarga e outra. “A conveniência de usar combustível líquido é relevante e ainda há espaço para os motores a combustão se tornarem menores e mais eficientes. A eletricidade e os biocombustíveis são soluções complementares e terão de trabalhar juntos. A demanda por biocombustíveis no futuro estará associada principalmente à aviação, navegação oceânica e viagens rodoviárias de longa distância”, afirmou.
A fatia representada pelas fontes renováveis na matriz energética cresce em quase todos os países. Em locais como Nova Zelândia, Suécia, Noruega e Islândia já representa mais de 40%. “No Brasil esse índice é de 41%, algo que poucos conseguem alcançar. A principal fonte renovável brasileira é a cana-de-açúcar, que atende a 17,2% da demanda. Quase 9% da energia elétrica gerada no Brasil hoje é oriunda da queima de biomassa, o que mostra que além dos transportes a bioenergia tem espaço em outros setores”, disse Brito Cruz.
Projetando uma Bioeconomia Sustentável
Presente na Cerimônia de Abertura da BBEST 2017, o Presidente da FAPESP, José Goldemberg, destacou que até 2050 a bioenergia corresponderá a quase 30% de toda a energia usada no mundo. Atualmente, esse índice está em torno de 10%, segundo dados da International Energy Agency (IEA), organização intergovernamental autônoma criada no âmbito da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. “Por estar ciente dessa situação a FAPESP criou o BIOEN, que desde sua criação em 2008 já recebeu R$ 80 milhões de investimento”, disse à Agência FAPESP.
Gláucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do BIOEN, afirmou que a BBEST nasceu praticamente ao mesmo tempo que o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia com o intuito de congregar a academia, a indústria e fazer um esforço de comunicar os avanços no campo da ciência e da tecnologia para os formuladores de políticas públicas do setor.
“Nas edições anteriores da BBEST, conseguimos mostrar como a bioenergia pode interagir com questões como segurança alimentar, segurança ambiental, segurança climática e com o desenvolvimento sustentável. Nos últimos três anos, começamos a pensar em todas essas questões de uma maneira mais integrada, buscando o desenvolvimento de uma bioeconomia. Por meio do BIOEN, estamos desenvolvendo tecnologias para usar a biomassa e para fazer muitas outras coisas além do bioetanol, como combustíveis de aviação e bioprodutos que substituam aqueles hoje produzidos pela indústria petroquímica”, afirmou.
Para Luuk van der Wielen, diretor do Biotechnology based Ecologically Balanced Sustainable Industrial Consortium (BE-Basic) e organizador da BBEST ao lado de Mendes Souza, a bioeconomia é um caminho para o Brasil superar a turbulência e as dificuldades econômicas atuais. “Há muitas iniciativas nesse sentido que serão mostradas ao longo destes três dias”, afirmou.
Também participaram do evento Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), e Marcio de Castro Silva Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) – ambos secretários-gerais da BBEST 2017.
Mais informações sobre o BBEST: www.bbest.org.br