Duas empresas de bioenergia instaladas no Interior Paulista estão perto de produzir combustível para a aviação civil tendo a cana-de-açúcar como matéria-prima. A Amyris, instalada em Brotas, perto de Bauru, desde dezembro de 2012 utiliza o caldo de cana e linhagens de leveduras geneticamente modificadas para produzir o farneseno, uma substância que depois de um processo de hidrogenação se transforma no bioquerosene. Trata-se de um produto líquido feito a partir do caldo de cana com o uso de linhagens de leveduras Saccharomyces cerevisiae. Esses microrganismos transformados atuam no processo de fermentação e levam à produção do farneseno, e não do etanol. A partir desse produto será possível, por processos de refino específicos, fabricar tanto o bioquerosene como produtos para a indústria química ou, ainda, o diesel que foi o primeiro alvo da empresa no Brasil.
BIOQUEROSENE
A outra empresa é a Solazyme instalada desde 2011 em Orindiúva, na região de S. José do Rio Preto, num acordo comercial com a Bunge. Ela utiliza algas e caldo de cana para produzir um óleo primordial que, depois de um processo de craqueamento semelhante ao do petróleo, é transformado em bioquerosene com as mesmas especificações do querosene usado em aeronaves.
PESQUISA
Essas informações estão na edição de julho da Revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que acaba de ser publicada. Amyris e Solazyme fizeram parte de um grupo de 33 parceiros, entre empresas e instituições de pesquisa, que participaram do estudo “Plano de voo para biocombustíveis de aviação no Brasil”, patrocinado pela Embraer e pela Boeing, financiado pela Fapesp e coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
TENDÊNCIA
De acordo com a revista Pesquisa da Fapesp, a aviação comercial deverá reduzir em 50% as emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2050 em relação ao que foi emitido pelos motores de aviões em 2005. Para isso, um grande esforço de pesquisa e desenvolvimento está sendo feito em vários países por instituições e empresas no sentido de alcançar um querosene não mais produzido de petróleo, mas de origem renovável, que lance menos gases nocivos na atmosfera. O bioquerosene tem grandes chances de levar o Brasil a novamente se tornar um centro de referência mundial importante para o desenvolvimento e produção de um biocombustível como foi com o álcool e o biodiesel, diz a reportagem.
PEIXE 'PAULISTINHA'
Como curiosidade científica, a revista da Fapesp traz também matéria sobre o ‘paulistinha’, um peixe ornamental asiático de apenas 5 centímetros de comprimento, que começa a ajudar os pesquisadores brasileiros a identificar alterações bioquímicas que atingem o cérebro em algumas doenças neurológicas como a epilepsia e também a testar compostos candidatos a medicamentos. Usado no exterior para o estudo do desenvolvimento de vertebrados, o zebrafish, como é conhecido por lá, passou a ser adotado nas pesquisas em neurociências há cerca de uma década e só mais recentemente no Brasil. “Em alguns testes, o zebrafish pode funcionar como uma alternativa ao uso de roedores”, afirma o biólogo Denis Rosemberg, daUniversidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), de Santa Catarina.
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