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Bibliotecas brasileiras buscam suas coleções (2 notícias)

Publicado em 20 de julho de 2022

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Coleções sobre cultura e história do país investem em digitalização e incorporação de objetos

Em estudos realizados ao longo de mais de 15 anos em uma coleção na Universidade do Texas em Austin, EUA. Antonio Dimas, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), descobriu o legado da editora americana Alfred Knopf (1892-1986), culpada pela tradução e publicação em inglês das primeiras obras do pernambucano Jorge Amado (1912-2001) e gilberto Freyre (1900-1987). A análise de correspondências, revisões e contratos revela, entre outras coisas, que esses autores foram bem conquistados pelos leitores norte-americanos, especialmente por apresentar visões selecionadas do Brasil, ligadas às culturas negras de Salvador e Recife. ” Presentes em outras partes do mundo, coleções como a de Knopf merecem ser pensadas também. como brasileiros, eles não são estritamente compostos de livros”, diz o estudioso. Ao propor a expansão do conceito, delimitado pela primeira vez através das coleções de obras dos séculos XVI ao XIX no Brasil, Dimas A Imagem Refletida faz parte de um movimento que se fortaleceu nos últimos cinco anos e foi tema de um evento organizado pela Biblioteca Brasileira Guita e José Mindlin (BBM-USP), fevereiro passado.

O termo brasiliana é um neologismo e, segundo a historiadora Marisa Midori, da Faculdade de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), suas origens estão ligadas aos bibliófilos, mais particularmente aos colecionadores interessados. pelo Brasil, como acontece com viajantes e intelectuais que examinam o Oriente e são conhecidos como orientalistas. A partir do século XVI, principalmente na Europa, começaram a se acumular coleções de livros e documentos sobre as colônias de Portugal e Espanha no chamado Novo Mundo. “As primeiras coleções desse tipo eram chamadas de ‘americanas’ e a produção sobre o Brasil passou a ser considerada como uma de suas seções”, diz. Segundo Midori, desde que o Brasil começou a se configurar como Estado-nação, ou seja, após sua independência em 1822, líderes e estamentos tentaram identificar e organizar esse corpus bibliográfico. Um marco nesse esforço foi a exposição organizada pelo médico e filólogo Ramiz Galvão (1846-1938), então diretor da Biblioteca Nacional, em 1881. “O catálogo da exposição, com um acervo geral de fontes, livros e documentos sobre o país , composto por mais de mil verbetes, marcou o início da tradição bibliográfica brasileira, mas, apesar do medo de compilar e mapear coleções sobre o Brasil, ainda não se usava o termo brasiliana”, explica.

Ao contrário do Brasil, a bibliologista Marina Garone Gravier, da Biblioteca Nacional do México (BNM) e da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), explica que em seu país o conceito de “bibliografia mexicana” abrange tudo o que é editado ou publicado. material sobre o México, adicionando produção indígena, livros e documentos do século XX. Também implica que não existe tal coisa como o termo “mexicano, nesse sentido, que é o equivalente ao conceito de brasileiro. “Muitas de nossas impressões da era colonial foram escritas na língua indígena”, diz ele, mencionando que o documento mais antigo preservado através do BNM data de 1554. Segundo ele, o conceito de Brasiliana está ligado à burocracia do acervo bibliográfico no século XIX nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, um país que organizou seu orçamento de acordo com esta nomenclatura. Por trás do acordo com a atualização do conceito de Brasiliana esconde o conceito de que terá que “refletir os ajustes internos de um país e acompanhar os campos de estudo, que estão em andamento”.

Donaldson Collection/Getty ImagesAmerican Alfred Knopf e sua esposa, Blanche, que atuaram como fiadores ocasionais de autores brasileiros no mundo de língua inglesa Donaldson/Getty Images Collection

A NL mexicana está sob a custódia da Unam, que possui outras redes de pesquisadores que pesquisam e divulgam sua coleção, através do Instituto de Pesquisa Bibliográfica, que existe há mais de 50 anos. “Com livros e documentos de toda a América Latina, publicados desde o século XVI, a NL do México também coleta documentos do depósito legal nacional”, diz Garone Gravier, que é professor da própria NL para bolsistas de pós-graduação de outras carreiras da Unam, acrescentando os da história, linguística, literatura e artes.

Quanto às brasilianas, as coleções foram formadas a partir do século XVI, as fórmulas do conceito tomaram forma na década de 1930, devido ao movimento do mercado editorial. A historiadora Eliana Regina de Freitas Dutra, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa a coleção homônima, publicada pela Companhia Editora Nacional desde 1931. A proposta editorial foi elaborada por meio do sociólogo Fernando Azevedo (1894 -1974 ). Ao longo de sua existência, foram publicados 415 títulos de autores brasileiros e estrangeiros. “A Coleção Brasiliana publicou títulos raros, como cronistas e viajantes do período colonial, reeditou obras esgotadas e produziu novas publicações sobre história, formação social brasileira, educação, geografia, etnologia e outras áreas do conhecimento, tendo sido culpado de inaugurar a prática do colecionismo editorial no Brasil”, diz. Todo esse acervo foi digitalizado por meio do projeto Brasiliana Eletrônica, da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenado pelo historiador e engenheiro Israel Beloch Além da Companhia Editora Nacional, Diffusion Europea do Livro (Difel), José Olympio , Civilização Brasileira e Livraria Martins Editora são outras que apresentaram as coleções brasileiras da década de 1930.

Arquivo NacionalConstituição do Império do Brasil, um dos documentos expostos em exposição organizada na Biblioteca Nacional, em 1881

Também pesquisador desses projetos editoriais, o historiador Fábio Franzini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o Acervo de Documentos Brasileiros de José Olympio publicou obras que têm clássicos da historiografia e da ideia social no país, e acrescenta Raízes do Brasil. , através do historiador Sérgio Buarque da Holanda (1902-1982), que inaugurou o acervo em 1936, e Casa-grande

Foi em 1965, seguindo o procedimento de letras de coleções brasileiras através de editoras, que o historiador e bibliófilo Rubem Borba de Moraes (1899-1986), em seu e-book O bibliófilo Aprfinishiz, propôs pela primeira vez uma definição para a noção. Segundo sua interpretação, as brasilianas vêm com “e-books sobre o Brasil publicados do século XVI ao final do século XIX, e e-books de autores brasileiros publicados até 1808”. Uma carta do comerciante e explorador Amerigo Vespucci (1454-1512), escrita em 1504, é considerada como o ponto de partida deste corte. “Além de Moraes, outros intelectuais estabeleceram definições, acrescentando o advogado e historiador José Honório Rodrigues [1913-1987], que elaborou listas de e-books que considerava básicos para entender o Brasil”, disse o historiador Carlos Zeron, diretor do BBM-USP até o início deste ano.

Biblioteca John CarterA carta de Amerigo Vespucci escrita em 1504 é o ponto de partida das coleções brasileiras John Carter Library

Quanto às primeiras coleções constituídas por bibliófilos, o historiador Thiago Lima Nicodemo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo, lembra que o naturalista alemão Carl von Martius (1794-1868) um dos pioneiros na reúnem tal coleção no século XIX, bem como o historiador e viajante francês Ferdinand Denis (1798-1890). No século XX, cresceu o número de credores interessados em livros sobre o Brasil. Moraes e Yan de Almeida Prado (1898-1991) fazem parte do grupo pioneiro. Após sua morte, Moraes legou cerca de 2. 300 livros ao advogado, empresário e bibliófilo José Mindlin (1914-2010) e sua esposa Guita (1916-2006). Há mais de 80 anos, o casal acumulou uma coleção de 32 mil títulos e 60 mil volumes de livros e manuscritos sobre o Brasil. Todos foram doados à USP em 2005, quando o BBM foi criado.

Na obra “Memória Digital: Arquivos e Documentos Históricos no Mundo Contemporâneo”, apresentada há dois anos, Nicodemo trabalha com o conceito de que as mulheres brasileiras são vitais para coletar sabedoria para a formulação de políticas públicas. As Brasilianas também servem para divulgar obras de modernização no país, permitindo maior sabedoria de sua população e suas fronteiras”, disse. Segundo ele, desde o século XIX, outros estabelecimentos passaram a investir nessas coleções, preocupados em identificar vínculos entre a produção de sabedoria e intervenções sobre a realidade. “O conceito clássico de Brasiliana chega aos livros produzidos por viajantes estrangeiros sobre o Brasil e trabalha através de autores emblemáticos da nossa historiografia. Hoje, defendemos que a produção e a literatura indígenas da periferia, por exemplo, sejam incorporadas a essas coleções. É preciso dar uma olhada nas novas lentes para pensar no Brasil”, diz o sociólogo Alexandre Saes, atual diretor do BBM.

O conceito de ampliação do conceito de brasiliana proposto por Antonio Dimas, do IEB, é composto por coleções abrangentes sobre a cultura brasileira, não necessariamente compostas por livros. Uma dessas coleções é a da historiadora Simona Binková, da Universidade da Carolina, na República Tcheca, com documentos iconográficos da cartografia brasileira produzidos nos séculos XVII e XVIII que mostram facetas da participação de naturalistas tchecos em uma expedição clínica para país em 1817. Nos Estados Unidos estão as coleções do geólogo John Casper Branner (1850-1922), com manuscritos e mapas de estudo do Brasil do final do século XIX, e do historiador Ludwig Lauerhass (1936-2020), que inclui aproximadamente 4. 000 artigos sobre história, antropologia e sociologia brasileira do século passado. Segundo Dimas, assim como a coleção Knopf, essas e outras coleções ainda são pouco compreendidas e podem servir de base para novas descobertas clínicas. “Por exemplo, correndo com a herança da editora norte-americana, soube que Freyre e Amado atuavam como promotores da cultura de nosso país nos Estados Unidos, enquanto Knopf atuava como uma espécie de fiador casual de autores brasileiros no mundo da fala inglês”, disse. Ele diz.

Em relação ao conceito de incorporação, nas coleções brasileiras, de elementos além do livro eletrônico e do calfinishar proposto por Moraes, Ana Virginia Pinheiro, da Faculdade de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de JaneiroArray tem ressalvas. “Uma ampliação sem critérios pode descaracterizar esses acervos”, argumenta Pinheiro, que atuou como bibliotecária ocasional de livros eletrônicos na Fundação Biblioteca Nacional (FBN) entre 1982 e 2020. A ampliação do conceito que ela propõe inclui a adição de livros eletrônicos que circulavam nas ex-colônias portuguesas, por exemplo, as pinturas usadas pelos jesuítas na instrução dos alunos, ou livros eletrônicos sobre moedas e selos portugueses. “Existe uma literatura vital, por exemplo, sobre educação e economia, que, embora não tenha sido escrita por brasileiros ou sobre o Brasil, foi fundamental para sua constituição como nação”, diz Array. Com origem na Real Biblioteca de Portugal, a FBN possui coleções deste tipo que ainda não foram investigadas. “No Brasil, o interesse pelo livro eletrônico antigo como objeto de exame é recente, a partir do final dos anos 1970”, aponta Pinheiro, definindo o status quo das alianças com universidades para divulgar as pinturas das coleções. pouco conhecido Foi justamente no esforço de identificar documentos e livros eletrônicos sem visibilidade que João Marcos Cardoso, curador do BBM-USP, descobriu, em 2015, um tratado feminista publicado em 1868. “Esse documento foi escrito por uma mulher imigrante, em no contexto do Brasil imperial e escravocrata, reivindicando o direito das mulheres de participar da política, do mercado de trabalho e da escolarização”, diz ela, ao especificar que a descoberta foi objeto de pesquisa de uma professora. Publicadas pelo editor do tipógrafo Francisco de Paula Brito (1809-1861), culpado de lançar a primeira revista brasileira voltada para o público feminino, as pinturas foram escritas por Anna Rosa Termacsics, húngara que chegou ao Brasil aos 7 anos e ele ficou aqui até sua morte em 1886.

Hoje, 15% da coleção do BBM-USP está digitalizada. A BBM tem uma reserva técnica para adquirir mais 90 mil livros e está em processo de definição de novas políticas para assessorar na expansão de seu acervo, a partir de 2023?, diz Saes, diretor da instituição. O procedimento de digitalização do acervo teve início em 2007, com investimento da FAPESP. A partir deste projeto, chamado “Brasiliana Digital”, cerca de 4. 000 peças coletadas através da Mindlin foram disponibilizadas na internet, adicionando livros, gravuras, mapas, manuscritos e outros documentos. Na NBF, o procedimento de digitalização começou em 2001 com trabalhos raros. Cinco anos depois, a Coleção Brasileira aderiu ao projeto.

Considerada uma das maiores bibliotecas a céu aberto do Brasil, a Biblioteca Oliveira Lima da Universidade Católica da América em Washington, EUA, concluiu parte da digitalização de seu acervo, que acaba de ser colocado online gratuitamente. Em um esforço que começou há 10 anos, 3. 800 publicações, cartas e folhetos foram digitalizados, totalizando mais de um milhão de páginas. O livro eletrônico mais antigo e pouco frequente data de 1507. “Mais do que uma brasiliana, a Biblioteca Oliveira Lima pode ser caracterizada como ibero-americana, pois reúne elementos semelhantes à expansão portuguesa no mundo e à história das Américas, acrescentando as pinturas dos Jesuítas e a história da escravidão”, explica a astrônoma Duília de Mello, vice-reitora da Universidade Católica da América. Ela destaca que, por essa característica, a coleção de Manoel de Oliveira Lima (1867-1928 ), diplomata e historiador brasileiro, destaca-se dos demais brasileiros: “Como próximos passos, planejamos digitalizar as milhares de páginas que fazem parte da vasta correspondência que Lima trocou com intelectuais brasileiros, como Machado de Assis [1839-1908 ]”, diz Mello, referindo-se a uma carta na que o infeliz brasileiro escreve sobre a morte da esposa. Segundo ela, apenas 10% da correspondência foi digitalizada. Outro objetivo, segundo MelloArray, é buscar pesquisas ções para traduzir o site, ultimamente em inglês, para o português (ver Pesquisa FAPESP nº 266).

Biblioteca Oliveira Lima – Universidade Católica da América Um tratado feminista de esquerda de 1868 encontrado no BBM-USP. Duas peças do acervo da Biblioteca Oliveira Lima, Universidade Católica da América, EUA. carta em que Machado de Assis escreve sobre a morte de sua esposa (à direita) Biblioteca Oliveira Lima – Universidade Católica da América

O acervo da Biblioteca Oliveira Lima é composto basicamente por livros, documentos e artigos recolhidos ao longo de sua vida pelo próprio diplomata. Há outras mulheres brasileiras vitais nos Estados Unidos, como a coleção do Lemann Center for Brazilian Studies, da Universidade de Illinois, e da Biblioteca John Carter Brown. “As coleções e bibliotecas de estabelecimentos estrangeiros possivelmente teriam se beneficiado dos projetos do primeiro governo de Getúlio Vargas (1882-1954). Gustavo Capanema [1900-1985], Ministro da Educação de 1934 a 1945, estabeleceu políticas de doação e envio de livros publicados através das coleções brasileiras de editoras brasileiras e do Instituto Nacional do Livro para embaixadas, universidades, associações de artistas e escritores em todo o mundo. “relata Dutra, da UFMG.

Quanto às brasilianas europeias, segundo Midori, da USP, sua ênfase característica é nas obras dos séculos XV e XVI. também porque atestam a progressão das técnicas de impressão desse período”, diz o historiador, lembrando, por exemplo, as xilogravuras feitas para os relatórios. . . Viajando. Em um exame realizado com documentos mantidos no Palácio Nostitz de Praga, ele aprendeu sobre registros de navegação com papéis dobrados, até os livros emergentes de hoje. “Esses trabalhos são valiosos porque mostram as técnicas existentes para criar os primeiros livros de imagens do mundo. “Conclui.

Projeto Biblioteca Digital Brasileira (n° 07/59783-3); Modalidade de bolsa de pesquisa – Regular; Pesquisador da Tarifa Pedro Luis Puntoni (USP); Investimento R$ 908. 042,85.

Artigos científicos DEAECTO, Marisa Midori. Una Brasiliana para el lector del siglo XXI. Da sala de leitura a um projeto de museu atual. Revista del Centre d’études du livre et de l’édition (Nele), v. 7/8 , 2019. DUTRA, E. F. The Atlantic space and global civilization: the history and development of e-books in Latin America. Lingua Franca – A história do livro eletrônico em tradução. v. 7, 2021. ZERON, Carlos. Biblioteca Brasileña Guita e José Mindlin . Futuro além e longo prazo além. Revista del Centre d’études du livre et de l’édition (Nele), v. 8/7, 2019.

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