A Biblioteca Pública Municipal "Prof. Ernesto Manoel Zink", em Campinas, não realizou uma compra efetiva de livro este ano. A revelação é do coordenador das bibliotecas públicas municipais de Campinas, João Henrique Cuelbas. Segundo ele, apenas foram feitas aquisições para manter o funcionamento do local, como a renovação de assinaturas de jornais e revistas e a compra de almanaques. Em 2003, cerca de 35,5 mil títulos foram lançados no País, segundo Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). O acervo da biblioteca estagnou.
Mesmo que fossem comprados novos títulos pela Secretaria de Cultura de Campinas, a biblioteca não teria prateleiras suficientes para acomodá-los, conforme Cuelbas. Algumas estantes de madeira, que são da década de 1970, estão com cupins. Faltam mobiliários. O local não dispõe de ventiladores. A informatização é precária. O software só oferece controle e busca de parte do acervo. Com isso, o empréstimo de livros é manual. Para fazer qualquer aquisição para as bibliotecas, Cuelbas precisa solicitar à Secretaria, que fica responsável de fazer a licitação e enviar a compra.
"Encaminhei em 2003 e também no início deste ano, o pedido de compra de cerca de 300 títulos, quedariam aproximadamente 1,2 mil livros", disse Cuelbas. No ano passado, a Secretaria comprou cerca de 400 exemplares. E mais 200 livros chegaram às estantes da biblioteca devido à mobilização do público GLTTB (gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais), que conseguiu verbas do Orçamento Participativo (OP). Os exemplares tratam sobre questões ligadas a este segmento. "O que podemos fazer é encaminhar as solicitações, mas o que é prioritário passa por outra esfera e pode esbarrar na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)", disse.
O secretário municipal de Cultura, Valter Pomar, foi procurado por cinco dias consecutivos, mas não retornou as ligações telefônicas. Novo contato foi tentado uma semana depois, mas a informação foi de que ele não tinha disponibilidade para falar sobre o assunto. No ultimo dia 30, o secretário afirmou à reportagem, por telefone, que não daria entrevista sobre o tema.
"Não há um inventário real do acervo da biblioteca devido à feita de funcionários e à informatização precária", disse Cuelbas, que há oito anos é funcionário da biblioteca e há cerca de um ano assumiu o cargo de coordenador.
"Fazemos um balanço anual do acervo, mas não é atualizado."
Ele estima que hoje o acervo possua aproximadamente 60 mil exemplares.
Mais de 200 mil usuários usam os serviços das quatro bibliotecas públicas municipais em Campinas. Cerca de 80% deste público é freqüentador da biblioteca "Prof. Ernesto Manoel Zink". Há épocas, segundo Cuelbas, em que cerca de 1 mil pessoas transitam diariamente pelo local, onde trabalham 30 pessoas.
Para Cuelbas, o ideal é dobrar o número de biblioteconomistas - atualmente, são oito — e contratar mais oito assistentes para ajudar o trabalho dos dez atuais. Nos últimos quatro anos, segundo Cuelbas, nove pessoas foram contratadas.
"Mas, não posso dizer que nada foi feito", ressalvou Cuelbas. Segundo ele, nesta Administração, a parte elétrica do prédio foi reformada e fichários foram trocados.
Para a estudante Paula do Prado Silva, poderia haver mais opções de títulos. "Teve uma vez só que vim aqui e não encontrei o livro que precisava."
Doações amenizam problema
Para a estudante Fernanda Cristina de Paula, que faz o curso de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), "a impressão é que falta investimento" na Biblioteca Pública Municipal "Prof. Ernesto Manoel Zink". Segundo ela, livro novo é difícil de achar. "Estou acostumada a pegar livros de 1900 (ano de edição) para baixa" Em uma de suas últimas visitas, buscou o livro O Cavaleiro Inexistente, de ítalo Calvino, e não encontrou. "Só tinha três obras do autor, que é bem conhecido." Segundo o coordenador das bibliotecas públicas municipais de Campinas, João Henrique Cuelbas, a maior parte do acervo é proveniente de doações.
Ele informou que, devido às férias de um funcionário e o recesso escolar, a biblioteca não está abrindo aos sábados neste mês. Isso também vale para a sala de acesso à internet. Dos nove computadores, cinco estão funcionando. "Estamos aguardando a doação de 20 computadores do Banco do Brasil." Há ainda um espaço com livros em braile e textos de livros gravados em fitas para pessoas com necessidades especiais.
Além desta biblioteca central, há mais três bibliotecas públicas municipais em Campinas (no Bonfim, no distrito de Sousas e no Bosque dos Italianos, no Guanabara). Há ainda duas bibliotecas móveis adaptadas em ônibus. Os livros foram comprados com verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) (NB/AAN)
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)