Notícia

USP - Universidade de São Paulo

Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais traz algumas das maiores riquezas do acervo da USP para a internet (1 notícias)

Publicado em 14 de janeiro de 2009

Por Luiza Caires

O acervo das bibliotecas da USP inclui livros anteriores à fundação da Universidade - alguns datam dos séculos XV e XVI. Este é o caso, por exemplo, do Liber Chronicarum (no latim, livro de crônicas), uma “história” do mundo ricamente ilustrada, escrita em 1493, colorida à mão, com texto em gótico e notas marginais manuscritas. Colocar estas verdadeiras preciosidades à disposição de um público mais amplo sem, por outro lado, danificá-las pelo manuseio é a finalidade da Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais, mantida pelo Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP.

Preocupado com a preservação deste material, desde o final da década de 1980, o SIBi já desenvolvia projetos, alguns deles com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para identificar e tratar tecnicamente as obras: isto é, catalogá-las e conservá-las. “Como resultado de um destes projetos, tivemos a confecção de dois catálogos que indicam inclusive a descrição física de cada uma das obras, em muitos casos diferente de exemplar para exemplar, lembrando que em períodos mais antigos eram feitas muito poucas impressões por edição”, conta a bibliotecária Mariza Do Coutto, diretora da área de Desenvolvimento e Inovação do Sistema.

A partir dos projetos, foi possível identificá-las e recuperá-las, já que muitas das obras estavam bastante danificadas, demandando um trabalho de restauração. “Algumas vezes não é possível a recuperação total de uma obra, mas se interrompe o processo de degradação”, explica Mariza. Outro projeto apoiado pela Fapesp previu a melhoria da infraestrutura das bibliotecas, com possibilidade de controle de umidade, temperatura, e armazenamento adequado das obras para maior facilidade de identificação de infestações por pragas, e melhores condições ambientais para a conservação dos livros.

A ideia de digitalizar parte deste acervo integra, também, as iniciativas de preservação do acervo do SIBi. “Alguns acervos, como o do IEB [Instituto de Estudos Brasileiros], não são abertos ao público em geral, mas somente a pesquisadores e interessados previamente inscritos, evitando assim o manuseio desnecessário que pode danificar as obras”, explica a diretora. Mas não é só isso: trata-se de ampliar e democratizar o acesso, fazendo com que o pesquisador não tenha que se deslocar nem marcar a consulta, atendendo ainda àqueles que, por curiosidade intelectual, também buscam esse tipo de material.

Em 2004 foi contratado serviço terceirizado de uma empresa para a digitalização de obras selecionadas, enquanto o SIBi constituiu uma equipe para elaborar um catálogo virtual, nos mesmos moldes da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, em formato de dados com padrão internacional, deixando disponíveis pela internet os livros que foram digitalizados.

Atualmente, são 41 os volumes disponíveis no site, escolhidos por critérios diversos, relacionados às necessidades de cada biblioteca naquele momento: porque um título tinha um número de consultas maior, ou porque era a obra mais importante que ela guardava, por exemplo.

É necessário destacar que nem tudo que é antigo é raro, do mesmo modo que nem tudo que é raro é tão antigo, como explica a bibliotecária. “Há um conceito mais complexo envolvido, e por isso dizemos que a biblioteca é de obras raras e especiais. A caracterização da raridade preenche critérios como idade da obra, entre outros: pode se tratar de um primeiro exemplar, um original da obra, uma edição com comentários do autor, ou com uma figura de um desenhista ilustre, para citar algumas possibilidades”.

Para a digitalização, utiliza-se equipamento fotográfico profissional, acoplado a uma infraestrutura para esse fim. A depender da obra, não se pode desmontá-la para submetê-la ao processo. Então, é preciso aplicar técnicas de manipulação do objeto, de modo a não provocar a curvatura da página ou reduzir distorções.

Em 2006, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Governo Federal, foram comprados equipamentos e iniciou-se a montagem de uma oficina dentro do próprio Departamento Técnico do SIbi para continuar a manutenção da Biblioteca. Para o desenvolvimento dessa atividade foi treinada uma equipe técnica interna.

A Oficina de Digitalização do SIBi ficou pronta no final de 2008, quando também foi nomeada uma comissão para estabelecer as políticas para o processo de digitalização do Sistema, isto é, não só no caso das obras raras e especiais, em todas as bibliotecas da USP. “O objetivo é que desde os critérios de seleção de obras até o formato de digitalização sejam padronizados em todo o SIbi, e esta comissão de especialistas deverá definir as diretrizes. Uma vez que elas estejam estabelecidas, a Oficina passará a receber as obras das unidades para ampliação da Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais, instituindo um programa permanente de atualização da mesma”.