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Gazeta Mercantil

Bem Nascidos (1 notícias)

Publicado em 05 de agosto de 1998

Emílio Gastesi, sócio da Indústria Mecânica Fina, desenvolveu um novo aparelho para lipoaspiração. Só chegou ao produto porque entrou na incubadora de empresas da Fundação Parque de Alta Tecnologia, de São Carlos (SP). O País abriga hoje 67 incubadoras que garantem a sobrevivência e o desenvolvimento de 614 empresas. INCUBADORA DE EMPRESAS É O SEGURO DE VIDA DAS PEQUENAS Alessandra Yoshida - São Paulo Sistema dá apoio gerencial, tecnológico e de infraestrutura até os novos empreendimentos se firmarem Participar de uma incubadora de empresas é excelente remédio contra a morte prematura dos empreendimentos. Enquanto 80% das pequenas empresas fecham no primeiro ano de vida, entre as incubadas esse índice é 25%. Quase sempre um galpão dividido em várias salas onde se instalam as empresas nascentes, as incubadoras oferecem as condições para a consolidação do empreendimento. O aluguel é inicialmente simbólico e os custos da infra-estrutura comum são rateados. Têm também assessoria gerencial e tecnológica. Estudos do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae/SP) mostram que as principais causas do fechamento de empresas são as dificuldades de se estruturar e de adequar seu produto ou serviço ao mercado. "A incubadora é um ambiente favorável ao crescimento da empresa que está em sua fase inicial e que precisa de uma estrutura de apoio", diz Sylvio Goulart Rosa Jr., diretor do ParqTec - Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (SP), onde fica a mais antiga incubadora da América Latina, criada há 14 anos. As empresas nascentes têm um prazo, que varia na maioria dos casos de 2 a 3 anos, para gozar os benefícios da incubadora. Os custos para a incubada vão aumentando com o passar do tempo, de forma que, ao seu final, quando estiver pronta para se emancipar, a empresa esteja com gastos de manutenção semelhantes aos do mercado. De acordo com levantamento da Anpotec - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançada, à qual se ligam as incubadoras, no ano passado elas eram 67 no Brasil. São mantidas por universidades, centros de pesquisa e de desenvolvimento de tecnologia, associações de classe, entidades governamentais ou sociedades como o Sebrae. A VANTAGEM DE USAR INSTITUTOS DE PESQUISA Com o apoio da Universidade de São Paulo (USP). Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), além do suporte administrativo do Sebrae, o Cietec - Centro Incubador de Empresas Tecnológicas, inaugurado em abril em São Paulo, conta hoje com sete empresas-incubadas. Outras 12 propostas encontram-se em fase de pré-avaliação. Além de preferência na utilização dos laboratórios do IPT, da USP e do IPEN, a incubadora coloca à disposição dos empreendedores assessoria de marketing, orientação na formação gerencial e apoio na participação de feiras. O Cietec funciona em área de 1.160 metros quadrados, dentro do IPEN. A adaptação do imóvel, no valor de R$ 200 mil, foi paga pelo Sebrae/SP, que custeia também parte dos gastos com manutenção. O restante é dividido entre as empresas. Às incubadas são oferecidos, a custo zero, sala individual, que varia de 50 a 60 metros quadrados, serviços de secretaria, sala de reuniões, auditório e biblioteca. Despesas com telefone, fax, Internet, copiadora, limpeza, água, luz e segurança são rateadas entre as empresas. O Cietec publica na imprensa editais oferecendo vagas na incubadora. As empresas interessadas passam por um processo de seleção. Suas propostas podem ser apresentadas por pessoas físicas ou jurídicas, individuais ou em grupo. O projeto técnico deve ser comercialmente viável e o empreendedor precisa apresentar qualificações técnicas. Os candidatos pré-selecionados fazem um curso de iniciação empresarial no Sebrae/SP, de 40 horas, e só depois dessa etapa são selecionadas as empregas que farão parte da incubadora. O período de incubação é de até três anos. (AY) IMPLANTE DENTÁRIO MAIS RÁPIDO, UM DOS PROJETOS NO CIETEC Um implante dentário que reduz o tratamento de seis meses para dois é o projeto que a Pro-Line Serviços e Produtos Ortopédicos e Odontológicos Ltda. desenvolve no Cietec. Laura de Oliveira e Francisco Corrêa Braga tocam a empresa e contam com o apoio do pai e sócio de Laura, João Prestes Oliveira. Ela acredita que o projeto só estará finalizado no segundo semestre de 1999. Com um projeto para área médica, Aron José Pazin de Andrade, engenheiro mecânico biomédico, sócio proprietário da Intermédical Indústria e Comércio Ltda., está no Cietec desde a sua fundação. Seu produto é um cateter para infusão de drogas, em fase de testes. Andrade tem dois sócios: Marco Mendonça, cirurgião geral, e a Interciência, grupo de professores e pesquisadores de tecnologia para a medicina. Andrade diz que estar em um centro de pesquisas, de uma universidade como a USP, com o apoio do IPEN e do IPT torna o processo mais fácil, mais barato e o êxito mais certo. Estar junto de um instituto de pesquisa também é fundamental para a R3M Controle de Qualidade. O físico Marcos Leandro Garcia Andrade participa de um grupo responsável pelo desenvolvimento de uma técnica que permite a radiografia de materiais leves (como nitrogênio) dentro de estruturas de materiais pesados como chumbo, aço, ferro, que é impossível com raio-X. Esse tipo de ensaio não destrutivo é muito usado pela indústria automobilística, petroquímica, eletrônica e aeroespacial. Como o processo utiliza nêutrons, é chamado neutrongrafia. Ele utiliza o equipamento do IPEN. "Se não estivesse no Cietec pagaria muito caro para isso e não teria meios para tocar as pesquisas", afirma Marcos. (AY) RUMO AO MERCADO PARA GERAR EMPREGO Beatriz Borges e Carla Aragão - Brasília e Salvador Com ajuda do Sebrae/DF, Ministério da Ciência e Tecnologia e de outras instituições, 35 empresas já passaram pela etapa de incubadas nos oito anos de existência do Projeto Incubadora de Empresas da Universidade de Brasília (UnB) e tornaram-se independentes. Sheila Oliveira Pires, gerente do Projeto, informa que hoje 13 empresas estão incubadas na universidade. Elas têm um prazo, não muito rígido, de três anos para ficarem no campus da Universidade de Brasília sob a supervisão técnica. Há um ano e três meses na incubadora da UnB, a MJ Software, especializada em produtos educativos de informática para crianças de 6 a 10 anos, prepara o lançamento de um software para dar noções de ortografia a escolares. A empresa recebe auxílio de um pedagogo e de um professor de português que indicam os melhores exercícios para o programa. Segundo o diretor de marketing da MJ, Ednilson Lins Rodrigues, até fevereiro do ano que vem cerca de mil exemplares do CD ROM educativo estarão no mercado, com preço sugerido de R$ 45,00 cada. Empregos - Enquanto estão nas incubadoras, o número de empregos gerados pelas empresas incubadas é pequeno. Segundo dados da Anprotec - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas, as 614 empresas incubadas no final de 97 tinham 2.382 empregados, ou 3,8 em média, por empresa. Os números são bem diferentes quando os empreendimentos completam o processo de maturação. Três empresas da Incubadora de Base Tecnológica (Incubatec) do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Ceped) da Bahia, a Biofert, a Microbiol e a Carbat, após quatro anos como incubadas estão de saída marcada e deverão até novembro chegar no mercado com a promessa de criar 100 empregos diretos. "Depois de anos investindo em pesquisas, fazendo testes para melhorar e desenvolver o produto e estudando o mercado, dá para ser otimista", diz o engenheiro sanitarista Domingos Barbosa Neto, da Biofert. Ele acredita que o faturamento deverá crescer aproximadamente 90% já no segundo ano de funcionamento da empresa fora da incubadora. A Biofert muda-se para sua nova sede, no município de Camaçari (BA), com compradores garantidos para as 1.500 toneladas de adubo orgânico e adubo organomineral que produz por ano. "E já no segundo ano pretendemos produzir 3 mil toneladas e faturar, algo em tomo de R$ 160 mil", acredita o engenheiro. O produto da Biofert é politicamente correto, uma mistura de lixo orgânico urbano (restos de comida, poda de árvores, frutas) com o lodo biológico gerado pelo tratamento de esgotos industriais e domésticos. "Este tipo de adubo, além de não levar produtos químicos, ajuda a recondicionar solos degradados e valoriza a produção da agricultura", afirma o engenheiro sanitarista. APOIO GARANTIU AVANÇO TECNOLÓGICO Emílio Gastesi, sócio proprietário da Industra Mecânica Fina Lida., começou a desenvolver um projeto de equipamento para lipoaspiração, o Lipsonic, quando trabalhava como gerente de engenharia em uma empresa de São Carlos. Assim que fez um protótipo, resolveu que precisava entrar na incubadora do ParqTec para dedicar-se em tempo integral ao aparelho. Está lá há quatro anos e faz sete produtos diferentes. "Vendemos para todo o País. Só não exportamos porque a burocracia é muito grande, mas quando participamos de congressos módicos muitos profissionais de outros países se interessam pelo que fabricamos", afirma Gastesi. Nem sempre projetos desenvolvidos numa incubadora dão totalmente certo. É o caso da Sensis São Carlos Indústria e Comércio de Equipamentos Ltda-ME, há três anos na ParqTec. A empresa desenvolveu o BM 12 Monitor de Emissão Acústica, usado principalmente na fabricação de autopeças. O aparelho capta o som produzido pela máquina retificadora de peças e avalia se ela está trabalhando corretamente. Juarez Felipe Jr., um dos sócios, diz que a ajuda tecnológica na incubadora permitiu à Sensis aperfeiçoar o produto mesmo após iniciar a sua venda. "O BM 12 teve uma boa aceitação, mas existiam dificuldades na instalação", conta Juarez. Com o apoio do ParqTec, o projeto voltou à prancheta para que ser aperfeiçoado. (AY) A PIONEIRA FARÁ 14 ANOS O começo da incubadora da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos - ParqTec foi em dezembro de 1984 em um sobrado de 200 metros quadrados. Hoje ocupa uma área construída de 1.470 metros quadrados. A Fundação coloca à disposição das empresas incubadas seus laboratórios de multimídia, de informática e eletrônica, oficina mecânica, rede de computadores, show room, centro de informação tecnológica, além de serviços de consultoria e assessoria. A incubadora é dividida em duas partes, com 18 módulos cada. Em uma delas ficam as empresas que atuam nas áreas de automação, instrumentação eletrônica, mecânica de precisão, novos materiais, ótica e química fina. A segunda divisão apóia empresas nas áreas de informática e também os Núcleos de São Carlos dos Programas Softex 2000 e Gênesis. As empresas incubadas podem ficar no ParqTec durante quatro anos. As que necessitarem de um tempo maior dependem de uma decisão da diretoria da Fundação. Para entrar no ParqTec, o empreendedor deve tirar na Fundação um roteiro que servirá para ele elaborar seu plano de negócios e a viabilidade econômica do projeto. No plano devem constar os objetivos da empresa e do empreendedor, descrição detalhada do produto ou serviço a ser desenvolvido e as perspectivas de gastos. Este plano de negócios passa por uma avaliação da diretoria da Fundação, onde é analisado o produto ou serviço que será desenvolvido e se é de base tecnológica. Caso seja aprovado o plano, o empreendedor tem 30 dias para se instalar na incubadora. A empresa paga inicialmente R$ 10 por metro quadrado, alem do rateio das despesas com material de uso comum. (AY) UMA IDÉIA NA CABEÇA E A AJUDA DO PARQTEC Nos 13 anos de trabalhos do ParqTec, 30 empresas já saíram da incubadora e continuam no mercado. Uma delas é a FlyEver Equipamentos que ficou incubada de 93 a 97 e há um ano e meio mudou-se para endereço próprio. O começo da empresa foi parecido com o da maioria dos atuais incubados: um projeto na cabeça, mas sem recursos para colocá-lo em prática. Maurício Carnevalli, sócio-proprietário, conta que o produto inicial da FlyEver foi um controlador de temperatura usado em processos técnicos da indústria. Durante o período em que a empresa ficou incubada, tinha espaço e infra-estrutura, mas sem capital. Com o apoio do ParqTec, a FlyEver pôs o produto em funcionamento e conseguiu cliente de grande porte. "Quando saímos do Parqtec estávamos preocupados com a administração, finanças e receio da fiscalização", afirma. Hoje a FlyEver domina as questões burocráticas que envolvem toda empresa. Carnevalli sabe que para sobreviver no mercado precisa investir em equipamentos. "Reinvestimos cerca de 70% dos lucros na própria empresa", diz o empresário. Com um quadro de seis funcionários foi possível expandir a linha de produção. "Começamos com o controlador de temperatura e hoje já fabricamos produto que mede a velocidade nos implantes odontológicos, um controlador para máquinas de sorvete e um monitorador de temperatura de fornos de cerâmica", conta Carnevalli. A FlyEver também faz softwares exclusivos para equipamentos de medição de temperatura. No ano em que a empresa saiu da incubadora o faturamento foi R$ 45 mil. No ano passado, chegou a R$ 88 mil. Carnevalli espera fechar 1998 na faixa dos R$ 115 mil. (AY)