Um levantamento feito com 2.422 jovens frequentadores de baladas na cidade de São Paulo revelou que 30% da clientela deixa a casa noturna com um nível alcoólico que se enquadra no chamado binge drinking. A expressão significa consumo de risco, que ocorre quando se bebem cinco doses de bebida alcoólica no período de duas horas, para homens, ou quatro doses, para mulheres. Apesar de não haver pesquisa parecida em Santos, jovens que frequentam as boates da Cidade estão agindo de forma parecida. O relato é de donos de casas noturnas (veja em um dos destaques à direita da página).
Em São Paulo, pesquisadores entrevistaram 2.422 jovens entre 21 e 25 anos. Além de questionados na entrada e saídada balada, eles foram submetidos ao teste do bafômetro. O estudo foi coordenado por ZilaSanchez, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp).
Segundo ela, a maior dificuldade foi conseguir aval das 31 baladas participantes, para que se abordassem pessoas dentro e fora dos ambientes, com garantia de anonimato a estabelecimentos e clientes. ''Vimos que de 80 a cada 100 jovens abordados não se negavam participar da pesquisa. Não tinham vergonha de dizer o quanto bebiam. E o bafômetro confirmava a quantidade que eles diziam", explica Sanchez.
O motivo da pesquisa foi mostrar a esses jovens que quem bebe em binge se expõe mais a riscos. "Por estarem intoxicadas, essas pessoas se sentem mais confortáveis em arriscar. Nem estou falando de danos crônicos, por beber sempre, mas do comportamento de risco", lembra a pesquisadora. Segundo ela, nesse estado, as pessoas se expõem mais a ocorrências de abuso sexual, tentativas de suicídio, sexo desprotegido, gravidez indesejada, infarto, overdose alcoólica, quedas e problemas de saúde variados, de acordo com estudos em vários países.
EM SANTOS
Na Cidade, os responsáveis pelas baladas que aceitaram falar com a Reportagem explicaram que a quantidade de bebida consumida depende do dia e, principalmente, se há open bar (quando a casa cobra um valor padrão para quantidade livre de doses) ou promoções. Entre as explicações em co mum, estão o fato de que jovens mais perto dos 18 anos bebem menos, e adultos mais velhos, mais, pelo maior poder aquisitivo. O que ninguém consegue medir, no entanto, é o esquenta- quantidade de bebida ingerida antes de entrar na balada, visando a gastar menos nas comandas das casas.
Sanchez, que também é pesquisadora do Centro Brasileiros de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), idealizadora e coordenadora geral do projeto Balada com Ciência e representante brasileira na Comissão de Diretrizes Internacionais de Prevenção ao uso de drogas da Organização das Nações Unidas (ONU), traduz os números. "O padrão de consumo de risco é estudado em diversos países, para se implantarem políticas públicas. Mas o que a gente percebe é que há frequentadores que sabem que podem comprar, querem ir mesmo para beber até cair. Aí, não tem política pública que resolva", diz.
A cientista afirma ainda que a pesquisa só entrevistou maiores de 18 anos. E que, para adolescentes, não há quantidades seguras para a ingestão de álcool "porque o sistema nervoso central está se desenvolvendo até 18, 21 anos, e o seguro é não beber. O jovem adulto pode reduzir os danos, intercalando bebidas alcoólicas e água ou comendo junto".