O antropólogo Ronaldo de Almeida, professor e mestre pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é reconhecidamente uma das maiores autoridades no estudo das religiões pentecostais no Brasil. Seu mais novo livro, A Igreja Universal e seus Demônios (Terceiro Nome/ Fapesp, 152 págs, R$ 28,00), pode ser considerado o trabalho mais completo já publicado no País sobre a igreja fundada por Edir Macedo.
Apesar de manter, em sua análise, a distância própria do pesquisador acadêmico, o autor expõe os bastidores da instituição para defender a tese de que o universo simbólico da Igreja Universal tem como base a satanização das outras religiões, sobretudo dos cultos afro-brasileiros, como a umbanda e o candomblé.
Segundo Almeida, que realizou extensa pesquisa de campo e bibliográfica para redigir a tese, o antagonismo com outras religiões é fundamental para a Igreja Universal do Reino de Deus definir sua identidade. Alvo de polêmicas e controvérsias, justamente pelas mudanças que introduziu no meio evangélico, a Universal não pode ser compreendida sem a contraditória relação de dependência que mantém com o que ela chama de “macumba”: os demônios combatidos em seus cultos, advindos da umbanda e do candomblé, são também a base da estrutura de seu repertório.
O livro, cujo prefácio é assinado por Alba Zaluar, está dividido em quatro capítulos: Expansão pentecostal; O diabo no templo; Trânsito das entidades; e Chute na Santa. O conjunto da obra traz informações até então pouco divulgadas sobre o funcionamento dos cultos — como as técnicas usadas pelos pastores para forçar o transe dos fiéis — e inaugura uma linha argumentativa para o entendimento de um fenômeno novo no campo religioso brasileiro: a expansão pentecostal.
Um de seus pontos altos é a descrição etnográfica do ritual de exorcismo acompanhado e vivido por todos os presentes nos cultos da Universal. Por humilhar e combater frontalmente toda forma de espiritismo, faz da intolerância religiosa a sua bandeira — ainda que tal posição não seja admitida oficialmente e seja, muitas vezes, confundida com preconceito ou com ignorância pura e simples. Mas Ronaldo de Almeida mostra que a ideia da “guerra santa” não é aleatória, mas uma poderosa estratégia empresarial.
“Enquanto na umbanda e no candomblé a possessão é o ponto culminante do sagrado e se expressa como uma festa, na Universal a possessão é o sagrado negativo, o mal absoluto, a irrupção de Satanás (...) O fim das religiões afro-brasileiras implicaria o esvaziamento da mensagem de libertação do diabo, pois as entidades propulsoras teriam desaparecido. O seu sucesso, baseado no tripé cura, exorcismo e prosperidade financeira, poderia ser seu fim”, comenta Zaluar, na introdução da obra, sobre o curioso paradoxo estabelecido pela Universal.
Paradoxo que só poderia funcionar países com altos índices de desemprego, violência e pobreza. Nele, a Universal vê aumentar anualmente o seu número de templos e fiéis. Assentada sobre virulento discurso que associa problemas financeiros à influência de entidades malignas na vida das pessoas, o diagnóstico da possessão demoníaca dado pelos pastores passa por sintomas mais ou comuns a todos os seres humanos: insônia, medo, estresse, enxaquecas, vícios, depressão e falta de dinheiro.
Apesar de destacar o combate às religiões afro-brasileiras por parte da Igreja Universal, o pesquisador analisa também o episódio do “chute na santa”, que teve grande repercussão nos anos 90 e revoltou os católicos brasileiros. “A Igreja Católica também é vista como uma adversária devido à devoção aos santos e às suas imagens, o que é considerado pela Universal como idolatria”, diz.
Sem deixar de lado o rigor analítico, A Igreja Universal e seus demônios é uma leitura acessível ao leitor pouco acostumado a textos acadêmicos. Sem fazer julgamentos, mas expondo o problema da intolerância religiosa verificado no seio da Universal, o livro de Ronaldo de Almeida ajuda a entender o fenômeno do avanço das igrejas pentecostais no Brasil. E é também um libelo a favor da Constituição de 1988, que garante a todos os cultos religiosos o direito de existir.
DEZ+
Os mais vendidos da semana
FICÇÃO
1) A Cabana (William P. Young, Sextante)
2) Crepúsculo (Stephenie Meyer, Intrínseca)
3) Lua Nova (Stephenie Meyer, Intrínseca)
4) Anjos e Demônios (Dan Brown, Sextante)
5) Eclipse (Stephenie Meyer, Intrínseca)
6) O Vendedor de Sonhos (Augusto Cury, Academia de Inteligência)
7) O Vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anônimos (Augusto Cury, Academia de Inteligência)
8) Os Homens que Não Amavam as Mulheres – Millennium 1 (Stieg Larsson, Companhia das Letras)
9) A Menina que Brincava com Fogo – Millennium 2 (Stieg Larsson, Companhia das Letras)
10) A Caça de Harry Winston (Lauren Weisberger, Record)
NÃO FICÇÃO
1) O Monge e o Executivo – Uma História Sobre a Essência da Liderança (James C. Hunter, Sextante)
2) Investimentos Inteligentes (Gustavo Cerbasi, Thomas Nelson Brasil)
3) Marley e Eu (John Grogan, Prestígio)
4) Clássico do Mundo Corporativo (Max Gehringer, Globo)
5) Uma Breve História do Mundo (Geoffrey Blainey, Fundamento)
6) A Arte da Guerra – Os Treze Capítulos Originais (Sun Tzu, Jardim dos Livros)
7) Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal (Allan e Barbara Pease, Sextante)
8) Maioridade Penal – 18 Anos de Histórias Inéditas da Marca da Cal (André Plihal, Panda Books Original)
9) Mentes Perigosas o Psicopata Mora ao Lado (Ana Beatriz B. Silva, Fontanar)
10) A Cabeça de Steve Jobs (Leander Kahney, Agir)
Fonte: Fnac-Campinas (www.fnac.com.br)
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