Nunca a aliança da universidade com as empresas foi tão urgente quanto agora, quando o Brasil se prepara para ingressar na nova era tecnológica. E tarefa prioritária da universidade pensar as soluções para a empresa do terceiro milênio. Assim como cabe às empresas levar à universidade as suas necessidades, de forma que, juntas, programem o setor produtivo de amanhã.
Essa é a aliança que deu certo em todo o mundo. Só ela evita que o trabalho acadêmico torne-se laboração inútil e que a pesquisa distancie-se da vida real. O casamento do currículo universitário com as necessidades práticas do setor produtivo acabará com o desperdício nos investimentos em pesquisa. A universidade existe para pensar o país real. Foi da elaboração acadêmica que nasceram as bases para o melhor programa de estabilização da moeda executado no Brasil.
Mais que isso, o Brasil não pode virar o milênio sem equacionar os seus problemas mais urgentes na área de educação. No mínimo, como apontou o presidente Fernando Henrique, oferecer a universalização do ensino básico. O país não conseguirá transpor a barreira tecnológica para a moderna sociedade da informação com 3,5 milhões de crianças fora da sala de aula. Nem com taxa média de repetência no ensino fundamental de 33% e 5,2% de evasão escolar.
Não só porque não há democracia, como diz o presidente, nem cidadania, sem educação. No mundo do próximo milênio não haverá espaço para países com mão-de-obra barata e não qualificada. O Brasil passou de nação agrária, que competia com matérias-primas brutas, para semi-industrializado e exportador de semi-elaborados, que sobreviveu com pouca instrução. Nem chegou à industrialização plena, já se depara com o mundo sofisticado das infovias e das redes: a networked society.
Países que não conseguirem ultrapassar a barreira tecnológica estarão excluídos do desenvolvimento. É questão de sobrevivência, não só para os 17,2% de analfabetos com mais de 15 anos apontados pelo Censo de 1994, mas para toda a classe empresarial, que precisará de mão-de-obra qualificada para competir.
O empresário brasileiro viveu décadas no isolamento do mercado interno. Com a abertura comercial forçada pela globalização e pelo Plano Real, que dela precisa para combater a inflação, a produção nacional ficou exposta à qualidade internacional. Terá que investir em educação e pesquisa se não quiser ser varrida da concorrência. Ou optar pelo fechamento comercial e caminhar para a barbárie.
O desafio proposto é aumentar o percentual de escolaridade básica a níveis semelhantes aos 95% dos Estados Unidos e da França. Se possível, aos 99% da Coréia do Sul. Não se chegará a isso apenas com o investimento oficial. O Brasil tem, hoje, 91% das crianças na escola.
É por essa razão que o presidente afirmou aos 400 cientistas que compareceram à 6" Conferência Geral da Academia de Ciências do Terceiro Mundo que o país precisa "desesperadamente" ampliar o acesso à informação e "manter e acelerar os níveis de excelência". Segundo ele, "se isso não for feito, não poderá enfrentar o futuro".
Notícia
Jornal do Brasil