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Bancos de sangue vão ajudar no controle das próximas pandemias (33 notícias)

Publicado em 26 de outubro de 2022

Cientistas brasileiros e britânicos descobriram ser possível calcular a proporção de uma população previamente infectada (soroprevalência) por um vírus, através da análise de amostras de bancos de sangue . Este tipo de levantamento pode fornecer um raio-x da epidemia, revelar qual é o grau de imunidade coletiva e orientar políticas públicas. Muito provavelmente, a estratégia deve ser adotada no combate às próximas pandemias .

Publicado na revista científica eLife, o estudo sobre o uso de bancos de sangue como forma de calcular os efeitos e acompanhar uma epidemia foi liderado por pesquisadores do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde).

Na pesquisa, a equipe comprovou a hipótese sobre a eficácia deste tipo de vigilância, a partir da experiência com a covid-19. "Os resultados apontam a utilidade da sorovigilância de doadores de sangue para rastrear a maturidade da epidemia e demonstrar a heterogeneidade demográfica e espacial na disseminação do SARS-CoV-2", afirmam os autores.

Hoje, os cálculos de soroprevalência são feitos com amostras de sangue, colhidas de forma aleatória na população. O método é mais caro e existem inúmeras dificuldades em realizá-lo em tempo real.

Como foi feito o estudo com bancos de sangue e a epidemia da covid

No estudo, a coleta de dados foi feita por um ano, entre março de 2020 e março de 2021. Neste período, a equipe de cientistas testou mais de 97 mil amostras de doadores de sangue para anticorpos do tipo imunoglobina G (IgG), com foco em entender a imunidade para a covid-19, em oito capitais brasileiras:

Belo Horizonte;

Salvador;

São Paulo.

Segundo os autores, a epidemia da covid-19 foi heterogênea no Brasil. Em outras palavras, o vírus infectou populações diferentes em momentos distintos nos 12 meses analisados. Inicialmente, o principal perfil da doença era composto por homens e jovens e, em seguida, se expandiu para outros grupos.

“No início, algumas linhas de investigação pensavam que todos se infectavam simultaneamente, mas mostramos que isso não é verdade. Em termos de retrato da epidemia, concluímos que houve uma heterogeneidade extrema no Brasil, com diferenças de infecção por grupos e uma variação extensiva da taxa de letalidade. Esse era um resultado que não esperávamos”, afirma Carlos Augusto Prete Junior, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), para a Agência FAPESP.

A partir dessas informações em tempo real, seria possível desenhar estratégias e políticas públicas para combater a transmissão da covid-19 em grupos mais específicos, o que aumenta as chances da intervenção ser bem-sucedida, por exemplo.