As Ciências Sociais ocupam uma posição de importância surpreendente na produção cultural brasileira. As primeiras obras sobre a sociedade e cultura brasileira, a exemplo de Os Sertões, de Euclides da Cunha, continuam sendo lidas e são merecedoras de estudos importantes; a elas juntaram-se ao longo de um século um conjunto notável de pesquisas cujos temas se diferenciaram e/ou foram reatualizados a partir de novas perspectivas analíticas.
A par disto, a institucionalização do ensino e da pesquisa é tida como um sucesso, distinguindo-se de diversos países da América Latina. Estima-se que, no Brasil, haja atualmente 13 mil estudantes de Ciências Sociais freqüentando um total de 87 cursos da rede pública e privada, além de 54 programas de pós-graduação, incluindo mestrado e doutorado com cerca de 2.3 alunos.
Qual a razão deste sucesso? O pensamento social brasileiro se funda numa questão própria que lhe marca a fisionomia até os dias de hoje. Ao indagar sobre a vida social e a cultura, os intelectuais brasileiros não indagaram o que é sociedade, o que é um grupo social, o que é uma região, nem questionaram as possibilidades metodológicas de conhecer a vida social, porém, a pergunta fundante de nossa produção intelectual diz respeito à nossa própria identidade - quem somos nós? O que é a sociedade brasileira? Como entender o enigma Brasil?
A pergunta "quem somos nós?" teve e tem um sentido essencialmente pragmático. O "quem somos nós?" sempre esteve associado ao desejo de medir nossas capacidades de integrar o concerto das nações modernas. A pergunta esteve, portanto, associada à nossa capacidade de progredir, modernizar, desenvolver.
Poderiam os brasileiros levar a cabo um projeto de Brasil moderno?
Contudo, o que mais chama atenção nas Ciências Sociais não é apenas sua questão fundante mas a riqueza e variedade das respostas dadas a ela. Na realidade, muito tem se escrito sobre as motivações da produção das Ciências Sociais, mas muito pouco se sabe ainda sobre o repertório das respostas, conhecimento que nos permitiria avaliar com clareza os meandros de nossa tradição sociológica.
É nesse sentido que o seminário Ideais de Modernidade e Sociologia no Brasil, a ser realizado hoje e quinta-feira, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, tem como objetivo debater questões cruciais presentes no debate sociológico, a saber: relações raciais, mudança social e modernidade, o papel dos intelectuais, ensino e institucionalização das ciências sociais no país.
Por fim, cabe ressaltar que a Ciência Social que não se pensa a si própria e desconhece o que pensaram diferentes gerações vem a perder o seu vigor.
Doutora em Sociologia pela USP, professora do IFCS/UFRJ
Doutor em Ciência Política pelo luperj, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Notícia
Jornal do Brasil