A Bahia segue imune ao novo coronavírus, epidemia que surgiu na China no final do ano passado e chegou ao Brasil na última quarta-feira, 26 de fevereiro. De acordo com boletim divulgado no início da noite dessa segunda-feira (2) pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), há no estado 17 casos suspeitos da doença respiratória. Do total de 49 casos notificados, 32 foram excluídos, seja por não se enquadrarem no protocolo do Ministério de Saúde ou por serem descartados após análise laboratorial.
Até o momento, onze cidades baianas estão com o sinal de alerta ligado para a doença. Há pessoas com suspeita de terem contraído o vírus em Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Feira de Santana, Jequié, Itabuna, Ilhéus, Jacaraci, Teixeira de Freitas, Tucano e Vitória da Conquista.
Conforme explicou a Sesab, o diagnóstico da doença é feito por meio de coleta de materiais respiratórios (aspiração de vias aéreas ou indução de escarro). Em casos suspeitos, são coletadas duas amostras, a serem encaminhadas com urgência para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA).
“Para confirmar a doença, é necessário realizar exames de biologia molecular que detecte o genoma viral. O diagnóstico do coronavírus é feito com a coleta de amostra, que está indicada sempre que ocorrer a identificação de caso suspeito”, destacou o órgão.
Quando o paciente suspeito apresenta diagnóstico positivo, explica a secretaria, há a divisão em três categorias: grau leve, moderado ou grave. O estado em que se encontra o portador da doença vai definir onde ele será tratado, se em unidades primárias de atenção básica, unidades secundárias ou se precisará de internação.
“Mesmo definindo unidades de referência, não significa que ele só pode ser atendido em hospital. Os casos graves devem ser encaminhados a um Hospital de Referência para isolamento e tratamento. Os casos leves devem ser acompanhados pela Atenção Primária em Saúde (APS) e instituídas medidas de precaução domiciliar”, diz a Sesab em nota.
Em todo o território brasileiro, conforme atualizou o Ministério da Saúde na tarde de ontem, são 433 casos suspeitos. Além dos dois já anunciados, nenhuma ocorrência foi confirmada. O número atual representa um aumento de 71% desde domingo, quando haviam 252 casos suspeitos. Ao todo, 162 pessoas sob suspeita receberam diagnostico positivo.
Em todo o mundo, conforme divulgou a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 2.977 mortes provocadas pelo coronavírus e quase 90 mil casos confirmados.
Atualmente os países com transmissão local do coronavírus são: Alemanha, Austrália, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Tailândia, Vietnã e Camboja, além da China.
Epidemia está sendo monitorada em tempo real por brasileiros
Os estudos de combate ao novo coronavírus avançaram muito desde que a doença chegou ao Brasil e pesquisadores se debruçaram sobre o tema. A mesma tecnologia que permitiu que duas mulheres sequenciarem o vírus 48 horas após a confirmação do caso no país também oportuniza monitorar a epidemia em tempo real.
A sequência completa do genoma viral, que recebeu o nome de SARS-CoV-2 foi divulgada por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido). Ester Cerdeira Sabino e Jaqueline Goes de Jesus foram as grandes responsáveis pelos estudos.
“Ao sequenciar o genoma do vírus, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia. Sabemos que o único caso confirmado no Brasil veio da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto na região da Lombardia, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras. Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes”, disse Ester Sabino, que é diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP.
A especialista explica que a sequência brasileira é muito semelhante à de amostras sequenciadas na Alemanha no dia 28 de janeiro e apresenta diferenças em relação ao genoma observado em Wuhan, epicentro da epidemia na China. “Esse é um vírus que sofre poucas mutações, em média uma por mês. Para entender como está ocorrendo a disseminação e como o vírus está evoluindo é preciso mapear o genoma completo”, reforçou.
Esse monitoramento, segundo ela, permite identificar as regiões do genoma viral que menos sofrem mutações – algo essencial para o desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos. “Caso o teste tenha como alvo uma região que muda com frequência, a chance de perda da sensibilidade é grande. [...] Por meio desse projeto foi criado uma rede de pesquisadores dedicada a responder e analisar dados de epidemias em tempo real. A proposta é realmente ajudar os serviços de saúde e não apenas publicar as informações meses depois que o problema ocorreu”, contou Ester Sabino à Agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).