DA AGÊNCIA ANHANGUEHA
O primeiro querosene para aviões produzido de cana-de-açúcar será testado em uma aeronave Embraer da Azul Linhas Aéreas no início de 2012. Desenvolvimento pela Amyris, centro de pesquisa instalado no Techno Park, em Campinas, o combustível renovável é parte de uma linha de pesquisa em busca de bio-combustíveis que podem diminuir as emissões de gás de efeito estufa e fornecer uma alternativa sustentável aos combustíveis de petróleo para aviões. A empresa planeja comercializar o querosene de cana para aviões em 2014.
Os testes iniciais, segundo a empresa, mostram que o biocombustível tem bom desempenho em baixas temperaturas. A empresa informou que começou a testar o querosene de cana para aviões em motores maiores e com fabricantes de aeronaves e outras indústrias participantes do setor como o Air Force Research Labo-ratoryE.U., Southwest Research Institute, e a GE Aviation. No Brasil, um projeto com a Embraer, General Electric e Azul está avaliando os aspectos técnicos e de sustentabilidade.
No voo teste, uma das turbinas GE, por questões de segurança, levará o querosene tradicional e a outra, o de cana-de-açúcar. No voo experimental será avaliado como o combustível reage em testes fora de bancada As fabricantes de aviões Boeing e Embraer e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)-estão financiar»;--do uma análise de sustentabilidade para a produção do biocombustível para jatos desenvolvido pela Amyris. O estudo está fazendo uma análise do ciclo de vida das emissões associadas com o combustível de fonte renovável, incluindo mudança do uso indireto da terra e seus efeitos. Programado para ser concluído no início de 2012, o estudo está sendo coordenado pelo ícone, uma incubadora brasileira de pesquisas que atua na agricultura e análise de biocombustí-veis. No projeto, o World Wü-dlife Fund (WWF) atua como consultor independente. Ele avaliará o potencial da produção em larga escala de combustíveis alternativos para jatos a partir da cana.
A Amyris já desenvolveu um diesel de cana, o primeiro renovável, não poluente, obtido da cana-de-açúcar. Os testes de bancada com motores Mercedes foram concluídos e mostraram que a utilização de 10% do diesel de cana no tanque misturado ao biodiesel tradicional reduziu em 9% a emissão de material particulado, não aumentou a emissão de óxido de nitrogênio, não afetou o desempenho do motor e nem o consumo de combustível. A Mercedes está testando o novo diesel no transporte coletivo de São Paulo.
Com 100% de diesel de cana, o desempenho é muito superior. Os testes-mostram redução de 6,3% de oxido de nitrogênio, 12,5% de material particulado, 3,2% de dióxido de carbono, 11,8% de hidrocarbonetos, 34,5% de monóxido de carbono. É o combustível ideal, segundo a empresa, para ser utilizado nos motores que, a partir de 2012, deverão atender à norma denominada P7 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que fixa os limites de emissões que deverão ser respeitados no Brasil.
O diesel pertence à segunda geração de combustíveis renováveis a partir da cana-de-açúcar (o primeiro foi o etanol). Ele é biologicamente formulado por meio da fermentação da cana para criar hidrocarbonetos, a mesma estrutura molecular encontrada em combustíveis tradicionais de petróleo. O processo de produção do novo diesel em uma usina é semelhante à da produção de açúcar e álcooL A diferença é que, no momento da fermentação, a levedura Sacaromice cerevisiae (tradicional fermento biológico) que passou por um processo de reengenharia, separa o óleo existente no processo do caldo da cana O óleo passa então pela finalização química obtendo, assim, hidrocarbonos.
A Amyris investiu cerca de US$ 100 milhões no desenvolvimento de uma plataforma de tecnologia que permitiu a reengenharia de microorganismos em "fábricas vivas" para a produção sem danos ao meio ambiente de inúmeros produtos utilizando matérias-primas renováveis, como cana-de-açúcar e celulose. Essa tecnologia surgiu de um projeto para desenvolver uma fonte secundária de Artemísia um ingrediente chave para um remédio contra a malária Nesse caso, a Amyris fez a engenharia de micróbios que podem produzir sinteticamente Artemisia para suprimir limitações atuais no fornecimento desse ingrediente.
Unicamp pode ter centro de pesquisa de biocombustíveis
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é uma candidata, entre universidades paulistas, a sediar um centro de pesquisas em biocombustíveis para aviões. A definição da localização desse centro será feita com base em estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) e as fabricantes de aviões Boeing e Embraer. O. estudo fará um mapeamento das pesquisas relacionadas coma produção e distribuição do combustível renovável e vai pautar o edital que selecionará a sede do centro. O diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, disse ontem que o maior desafio do centro de pesquisa será encontrar um biocombustível que preencha os requisitos físicos, energéticos, econômicos e de mercado (fornecimento). "Tara aviões grandes, esses requisitos são muito restritivos. O que se busca é um combustível que seja o que os americanos chamam de "drop-in", isso é, que possa substituir o querosene de aviação sem se mudar nada no resto da turbina e dos controles", afirmou. Vai pesar na escolha, a qualidade científica e técnica do plano de pesquisa apresentado. Brito Cruz informou que os detalhes ainda serão definidos, mas deve ser um plano de longo prazo até 11 anos com conteúdo de ciência fundamental conectado ao de ciência aplicada e tecnologia. "Espera-se que haja uma equipe básica com excelente experiência nos vários aspectos do tema. Além disso as instituições sede deverão garantir perfeita , infraestrutura, apoio administrativo e de gestão e conexão do centro com ensino de graduação e pós-graduação", disse. A primeira parte do projeto, que vai durar de 9 a 12 meses, será liderada por Lufe Augusto Barbosa Cortez, coordenador adjunto de Programas Especiais da Fapesp e professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, que terá como pesquisador associado Francisco Nigro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (1PT). (MTC/AAN)