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Jornal da Cidade - Bauru

Avanços no controle biológico de pragas e doenças (1 notícias)

Publicado em 23 de maio de 2021

Por Da Redação

Os inimigos naturais de pragas e doenças estão presentes nos diferentes ecossistemas agrícolas, realizando o tradicional controle biológico natural, sendo classificados em três grandes grupos denominados: predadores, parasitóides e patógenos. As pesquisas com insetos nas últimas décadas avançaram muito nos sistemas de criação em grande escala nas biofábricas, viabilizando o registro de macro e microbiológicos. Estatísticas do MAPA e da Embrapa mostram um crescimento médio de 20% do setor de biológicos, sendo que em 2020 ocorreu o recorde de 95 novos produtos comerciais registrados, o que irá auxiliar de maneira significativa o manejo integrado de pragas e doenças, para produção certificada e orgânica de alimentos. Qual a importância desta mudança de gestão na produção de alimentos, principalmente de frutas e hortaliças? Basicamente, trata-se de uma exigência dos consumidores no mundo, que anseiam por um alimento de aparência externa perfeita, agregado aos aspectos de sabor e segurança alimentar. 

No mercado externo este processo teve início em 1997, quando um grupo de supermercados europeus se reuniu e passou a exigir um conjunto de normas baseadas na rastreabilidade, boas práticas agrícolas, segurança alimentar, ambiental e do trabalhador, para a importação de frutas e hortaliças de outros países. Esta certificação foi denominada EUREP.GAP, que pelo pioneirismo e aceitação internacional, teve alteração para marca GLOBAL.GAP em 2007, indispensável para exportações de frutas e hortaliças ‘in natura’. Mas e o mercado interno? Em 2019 o MAPA em parceria com a ANVISA publicou a Portaria Federal no 01, que passou a exigir de maneira progressiva a rastreabilidade das frutas e hortaliças ao longo da cadeia de comercialização, a fim de poder identificar se o alimento não possui resíduos de defensivos químicos acima do limite máximo permitido (LMR), o que representa um avanço importante na valorização de boas práticas agrícolas como o controle biológico aplicado. 

Dentre os casos de sucesso mais tradicionais encontra-se o controle da broca da cana de açúcar, conhecida por Diatrae saccharalis, através  da introdução da vespinha ou microhimenóptero Cotesia flavipes pelo Departamento de Entomologia da ESALQ/USP, bem como o desenvolvimento de todo o sistema de criação do inseto praga e seu inimigo natural específico, permitiram o controle biológico eficiente em 100% dos canaviais brasileiros, líder mundial deste produto. 

Outro exemplo histórico é a utilização da bactéria Bacillus thurigiensis (Bt), que na formulação pó molhável é pulverizada sobre várias culturas que possuem infestação de lagartas, que ao ingerirem o bacillus presente nas folhas ou frutos, se contamina e são controladas. Este mesmo ‘gen Bt’ passou a ser incorporado através do melhoramento genético por ‘transgenia’, o que vem a representar um fator de redução significativa de agroquímicos no agronegócio, porém estas variedades são suscetíveis a maior indução de resistência por parte da praga, o que não ocorre nos programas de controle biológico aplicado. Como exemplo mais relevante e que representa uma verdadeira revolução do controle biológico, consiste no emprego do parasitoide de ovos de lepidópteros (borboletas) através da vespinha do gênero Trichogramma. 

As fêmeas de Trichogramma colocam seus ovos no interior de mais de uma centena de pragas de grande importância econômica tais como: soja, milho, algodão, tomate, mandioca, citrus, abacate, etc. As liberações no campo ocorrem em quantidades de 100 a 200 mil ovos parasitados por hectare, dependendo da praga objeto de controle. O crescimento do uso de Trichogramma é exponencial nos dias atuais e seu desenvolvimento foi proporcionado pelo surgimento da microempresa BUG, que com apoio do programa de inovação da pequena empresa (PIPE) da FAPESP, conseguiu transformar os resultados de pesquisa do setor de entomologia da ESALQ em um produto comercial eficiente e econômico para o empresário rural. 

Aliada a esta inovação foram agregadas as contribuições de tecnologias de liberação do insumo biológico através de drones, o que reduziu significativamente os custos de mão de obra. Como um processo de evolução contínua, o agronegócio brasileiro amplia sua competitividade com as certificações disponíveis, sendo que o topo da pirâmide de qualidade consiste no sê-lo de produção orgânica. Neste objetivo mundial o Brasil conta no momento com um conjunto de insumos biológicos indispensáveis para um crescimento sustentável de alimentos seguros, respeitando o meio ambiente, o consumidor e o trabalhador.

Prof. Associado do Departamento de Ciências Biológicas da Unesp – FC/Bauru Aloísio Costa Sampaio