Notícia

Alô Tatuapé

Avanços científicos e falta de remédios para os doentes

Publicado em 29 julho 2015

Qual a relação entre esses dois pontos e um jornalista?

Gerson Soares

Quanto ao jornalismo sem comprometimento, independente, lhe cabe dar publicidade ou não à notícia, ao fato, sob pena de acertar ou errar em suas avaliações, comprovando-as, assumindo as consequências. Quando fatos ocorrem e a imprensa não divulga por algum tipo de interesse, ocorre uma deturpação nesta definição. Ao divulgar aquilo que irá permanecer na história mostrando a verdade doa a quem doer, beneficie a quem beneficiar, ela cumpre seu papel. Os fatos comprovados não se alteram, sejam divulgados em massa ou pulverizados por veículos com menos espectadores.

Os avanços científicos brasileiros, em razão das mentes brilhantes que aqui nascem e prosperam com todas as dificuldades enfrentadas é surpreendente; tão fascinante que exalta a nacionalidade. São peças de um mosaico composto por pequenas ações e conquistas mundiais nos campos da medicina, das pesquisas de modo geral, da tecnologia. Isto sem falarmos dos cientistas de renome que saem do Brasil para conquistar o mundo, deixando para trás suas famílias, levando consigo uma boa dose de incertezas, certos apenas que poderão fazer algo maior pela humanidade. No fundo do peito, leva uma bandeira verde e amarela, azul e branca, que gostaria fosse mais bem cuidada e lhe proporcionasse oportunidades mais compensadoras.

Doentes de baixa e até média renda se espalham pelas maiores capitais do País, que diria sobre as menores. São tratados à margem de uma outra camada da sociedade que possui planos de saúde e recebe tratamentos diferenciados, em hospitais de ponta, cuja tecnologia usada para atendê-los contêm partículas de trabalho daquelas mentes brilhantes citadas no parágrafo anterior. Outro setor que avança é o de doadores de órgãos, aumentando a cada ano; os receptores, para que sobrevivam, devem tomar imunossupressores pelo resto de suas vidas. Mas não são só esses que precisam de remédios caríssimos, há uma série de doenças, onde as tecnologias e pesquisas empregadas pelos avanços científicos ligados aos medicamentos, não lhes permite comprá-los. Devido aos altos custos dos remédios, ficam dependentes dos governos estaduais a quem cabe por lei, a função de fornecê-los aos doentes.

São Paulo é a maior cidade do Brasil, a locomotiva de antigamente que na atualidade corresponderia mais adequadamente ao trem-bala. Segundo divulgado ontem pela Prefeitura, antes pelo Governo do Estado, o maior centro para desenvolvimento de startups do país, capaz de despertar a volúpia financeira das parcerias nacionais e internacionais. Possui uma das mais conceituadas fundações de amparo à pesquisas do mundo, a FAPESP – através dela investe em projetos significativos e de suma importância que trazem melhorias em diversas áreas, gerando benefícios. Apesar disso, e de tantos outros fatos positivos, submete doentes e necessitados às mais humilhantes situações. O mais absurdo disso, é que os humilhados ajudam a financiar os grandes projetos científicos aos quais não tem acesso e quando a eles chegam as tecnologias geradas com parte do seu suor, lhes são dadas como se alguém lhes fizesse algum favor, mandando-os de volta para casa sem o mínimo que buscavam, o remédio.

Imagino o que pensam os investidores, as grandes empresas internacionais que chegam para operar no Brasil, deixando seus países em pleno desenvolvimento e vendo como aqueles que os convocam, que lhes oferecem oportunidades, tratam seus iguais, seu povo. O que devem imaginar? O que pensam dos brasileiros e o quanto se envergonham de investirem numa terra que não cuida da própria gente? Qual a visão de uma empresa que fabrica remédios, mas que não pode ser consumida por quem precisa, só por quem pode pagar? A medicina e a ciência estarão para sempre restritas àqueles que possuem dinheiro suficiente, como quem pode pagar R$ 1.500,00 por uma caixa de remédios mensalmente?

É nessa incongruência de fatores que há publicidade dos fatos, o jornalismo. Nessa infinidade de perguntas sem respostas. Divulgando essas disparidades, muitas vezes sendo posposto, é que o jornalista sente que fez a sua parte, mesmo sem ter saciadas as suas dúvidas. Como o cientista, ele se põe diante de um resultado satisfatório, uma descoberta para a evolução da humanidade e vislumbra o bem. Como o doente, se sente envergonhado e humilhado, às vezes travando quixotescas batalhas contra sistemas governamentais que ocultam as verdadeiras intenções. Utilizando as contribuições daqueles que humilha, através da arrecadação de impostos, o governo enxerga, mas usa uma venda nos olhos – onde nenhuma relação há com justiça.