Computadores permitem diagnósticos mais rápidos e precisos
Dentro de pouco tempo computadores ligados a câmeras digitais montados em microscópios reduzirão de semanas para horas o tempo necessário para diagnosticar enfermidades sérias. Essa nova técnica, conhecida como Telepathology, ligará os melhores cérebros médicos mundiais capazes de examinar sangue e tecidos em slides e oferecer segundas opiniões quase no mesmo instante.
Num nível mais corriqueiro, os computadores também poderão dar aos pacientes acesso direto a seus clínicos gerais sem sair de casa. "Antes do fim do século toda essa tecnologia revolucionará a medicina por causa da velocidade de transmissão de dados", declarou durante entrevista o médico James McGee, professor do Departamento de Patologia e Bacteriologia do Hospital Nuffield na Universidade de Oxford.
McGee examinava um monitor de computador em seu laboratório de Oxford. Em cores e com alta definição a tela mostrou um tumor canceroso ampliado mil vezes por um microscópio. McGee troca slides, produzidos por câmeras colocadas em microscópios, com colegas de todo o mundo. Eles dão e recebem segundas opiniões com a rapidez que o computador e as linhas telefônicas permitem.
A Telepathology dará aos pacientes mais poder para exigir o melhor da profissão médica, e isso aumentará significativamente a rapidez do trânsito de informações pela via tortuosa do diagnóstico. A velocidade em si mesma conduzirá a mais curas e menos ansiedade.
McGee acredita que as mulheres que suspeitam ter câncer dos seios estarão entre as primeiras beneficiárias. "A mulher faz uma consulta e se submete a uma biópsia da mama. A biópsia é conservada numa garrafa e enviada para cá. Mesmo que seja enviada pelo Fedex (o correio expresso) demorará dois ou três dias, desde que não seja fim de semana. Até que chegue aqui e nós a processemos, passam-se outras 48 horas. Então eu a examino, e até aí a mulher esperou uma semana. Esse é o tempo mínimo, pelo sistema atual", explicou.
A Telepathology apressa significativamente o processo. "Ela pode decidir que quer que a biópsia seja examinada pelo melhor médico do mundo e manda a imagem para mim ou para outro especialista. E essa mulher, que poderá estar no Canadá ou na Austrália, tem uma resposta em 48 horas. Isso diminui a ansiedade da paciente e ela pode iniciar o tratamento imediatamente. "Ou então você está tossindo, alguém enfia um tubo por sua traquéia e pega uma biópsia para ver se você tem ou não câncer nos pulmões. Você ficará impaciente; desejará um diagnóstico imediato". "E em alguns casos a velocidade terá impacto sobre o sucesso do tratamento", destaca.
A informatização da medicina dá uma chance até às nações pobres de oferecer diagnósticos médicos de qualidade internacional.
"Na África do Sul existem médicos muito capacitados para fazer diagnósticos em Johanesburgo e Durban. As pessoas não podem se deslocar centenas de quilômetros para ir a Johanesburgo, mas técnicos locais podem preparar lâminas, colocá-las sob um microscópio, e o cara de Johanesburgo a examina. O paciente não precisa se locomover. Ele pode estar a 1,6 mil quilômetros ou ainda mais longe." A próxima etapa no desenvolvimento da medicina computadorizada será a automação do diagnóstico.
"Um computador pode examinar uma mancha cervical durante 24 horas por dia (ao contrário dos técnicos humanos) e conseguir o diagnóstico correto em no mínimo 90% do tempo ou ainda menos", disse McGee.
"Eles trabalham num ritmo fantástico. Digamos que sejam 50 mil células, o computador separa as 100 mais preocupantes, então as divide num grupo pouco problemático, outro moderadamente problemático, e o grupo possivelmente com câncer. Isso não é ficção científica, isso está acontecendo."
A disponibilidade dessas novas técnicas, que estão começando a ser introduzidas em hospitais como o Nuffield, difundirá capacitação e elevará os padrões. "Essa agilização do diagnóstico aumentará as chances de sobrevivência dos pacientes. Os diagnósticos serão mais consistentes, mais precisos, e existirão referências básicas para todas as formas de câncer na Europa. O não especialista poderá melhorar seus conhecimentos." "Toda essa tecnologia afetará todas as especialidades da medicina, da oncologia e oftalmologia à clínica geral."
Notícia
Gazeta Mercantil