Um software que opera e controla reator sem interferência manual foi desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e aplicado em trabalho de parceria com a Rhodia. Em fase de finalização, o projeto, iniciado em 1995, dentro do Programa de Inovação Tecnológica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), teve a coordenação o professor Rubens Maciel, diretor do Laboratório de Otimização, Projeto e Controle Avançado (Lopca) e do Departamento de Processos Químicos daquela faculdade. Avaliado em US$ 1,5 milhão, por comparação com outros produtos similares, o software, com aplicabilidade em indústrias de processos contínuos de produção, representa um avanço para a indústria química. Ele foi testado na unidade da Rhodia, em Paulínia (SP), para controle de um reator de hidrogenação do fenol, elemento utilizado como intermediário na fabricação do náilon.
O software amplia a competitividade dos processos produtivos, fundamental nesse segmento. Na indústria química, diz Maciel, há necessidade de os equipamentos trabalharem com alto desempenho, especialmente os reatores, pois dessa forma os produtos apresentam melhores resultados com custos mais baixos. Uma das maneiras de se atingir esse alto desempenho é justamente a operação supervisionada por computador, com o uso de técnica de controle avançado e otimização em tempo real. Grupos como
Rhodia, Copene Petroquímica do Nordeste e Petrobrás têm, segundo Maciel, feito grandes esforços para a implementação dessas técnicas. Persiste, porém, uma grande carência de desenvolvimento de tais técnicas no Brasil - carência que esbarra ainda em outro problema: o da dependência tecnológica. Para se ter uma noção do grau de carência de tais técnicas basta saber que empresas de porte médio de biotecnologia não têm controle avançado de otimização nas suas linhas de produtos. Por sua vez, empresas de porte grande gastam em tomo de US$ 1,5 milhão por planta. Ocorre que o volume investido geralmente não é revertido na qualificação interna das empresas. Em geral, tais softwares são adquiridos de empresas estrangeiras, sob o formato de pacote fechado e com treinamento de uso dado pelo pessoal de fora. Esse tipo de software requer ajustes dos parâmetros de uma análise dinâmica do processo para definir as variáveis de operação mais- importantes, o que exige supervisão periódica. Resultado: altos custos e a não transferência de tecnologia.
De fevereiro de 1995 até o momento, o software, segundo Maciel, já passou por seis etapas: a primeira tratou da modelagem dos processos (equipamentos) através de desenvolvimento de modelos matemáticos determinísticos. A seguir vieram a validação dos modelos com os dados industriais, o desenvolvimento dos algoritmos (conjunto de regras expressas sob formas matemáticas que realizam funções com vistas a um determinado objetivo) de controle avançado; o teste de desempenho por simulação; a implementação e teste de desempenho em processo real; e, por fim, o desenvolvimento de algoritmos de otimização para procura de condições ótimas de produção. Maciel afirma que a Unicamp já entrou na última fase do projeto: a de preparação de relatórios finais de prestação de contas, que está prevista para fevereiro do ano que vem. Além disso, o software já está sendo registrado no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.
O professor enumera algumas vantagens que o software desenvolvido pela Unicamp tem com relação aos similares no mercado: é adaptável, o que garante encontrar melhores parâmetros do controlador para atingir finalidades específicas do processo, sem necessidade de interferência humana; possui facilidades de análises dinâmicas pelo seu acoplamento com algoritmos de ajustes de parâmetros em tempo real; é um software aberto, o que permite ao usuário o entendimento de todos os procedimentos de cálculos e, portanto, possibilita a qualificação do pessoal envolvido.
O software da Unicamp tem aplicabilidade em indústrias com processos contínuos de produção, como reatores de leito fixo para produção de anidrido maleico; reatores de hidrogenação para a produção de margarinas e cremes vegetais; indústrias de craqueamento (quebra de moléculas) do óleo natural do petróleo, através de processos catalíticos ou térmicos, indústrias de produção de etanol; fabricação de penicilinas pelo processo fermentativo.
Alexandre Tresmondi, pesquisador do Centro de Pesquisas da Rhodia em Paulínia, explica que o software foi testado naquela unidade com um modelo matemático específico para esse tipo de processo e foi desenvolvido com parâmetros de operação e parâmetros geométricos desse específico reator. Segundo Tresmondi, há ainda um longo caminho a ser percorrido. O projeto está interrompido desde maio, quando foi feito o pré-teste. Mas, segundo ele, o estudo será retomado no segundo semestre e existe um potencial futuro de aplicação para o ano que vem.
De acordo com Maciel, parte dos conhecimentos adquiridos com esse projeto do software deu origem a outras colaborações com empresas como Copene Petroquímica do Nordeste e outros processos dentro da própria Rhodia. No caso da Copene parceria está sendo feita com o engenheiro Luiz Falcon, que desenvolve sua tese de doutoramento para o desenvolvimento de um software de simulação de processos de adsorção, ou seja, processos que utilizam o princípio da adsorção seletiva para a separação de compostos químicos. Falcon diz que a Copene tem tradição de trabalhos conjuntos com universidades: Atualmente temos 12 engenheiros em cursos de mestrado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Unicamp e Universidade de São Paulo (USP). No total, nosso investimento no desenvolvimento de tecnologias e em melhorias nos processos e tecnologias já existentes é de R$ 3 milhões.
Notícia
Gazeta Mercantil