Os principais desafios estratégicos para a inovação tecnológica a serem travados neste início de século passam pela necessidade de um novo arcabouço legal para o setor de ciência e tecnologia, além da aprovação em definitivo do projeto de reforma tributária pelo Congresso. Essa foi a conclusão a que chegaram políticos, pesquisadores, estudantes, empresários e representantes do poder público reunidos no último dia da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, encerrada sexta-feira passada, em Brasília.
Durante debate sobre os entraves de ordem institucional e estratégica para um desenvolvimento tecnológico mais condizente com a realidade e capaz de tornar o Brasil mais competitivo, os conferencistas também destacaram a necessidade de implantação de uma política científica integrada com o desenvolvimento econômico do País e a educação. E pediram a formação de mais pólos de pesquisa em todas as regiões, como forma de reduzir as desigualdades existentes no País.
"Num primeiro momento, a tecnologia no Brasil culminou com um grande desenvolvimento no setor industrial, mas a partir da década de 80 o setor se mostrou ineficaz e não foi capaz de superar os desafios apresentados", afirmou o diretor de tecnologia da OPP Química - empresa ligada ao Grupo Odebrecht, Antonio Bragança, que apresentou a debate uma retrospectiva do segmento nos últimos 30 anos.
A argumentação de Bragança teve seqüência na palestra feita pelo professor Sérgio Machado Rezende, secretário de Tecnologia de Olinda (PE). "O País tem condições de ocupar uma posição diferenciada na economia global, mas certamente não é lá que vamos chegar se continuarmos sem uma política científica", enfatizou. Rezende citou como exemplo a Alemanha, que logo após a unificação das partes oriental e ocidental, na última década, tratou de implementar centros federais de pesquisa aplicada de forma uniforme em toda a sua extensão geográfica.
"Infelizmente isso não é o que acontece no Brasil", acrescentou.
O secretário reclamou da necessidade que tem o programa de inovação em curso de estimular a criação de mais empresas de base tecnológica, já que as atualmente existentes, em sua opinião, "dependem da iniciativa dos estados e até dos municípios onde estão sediadas para que se desenvolvam". Outro ponto defendido por ele, foi a criação de uma rede de informação regional, sobretudo no Nordeste, o que deverá incentivar novos talentos, a seu ver.
Já o presidente do conselho superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, alertou para o fato de que as empresas precisam ter, daqui por diante, um papel fundamental no investimento feito em atividades de pesquisa científica e tecnológica. "Isto ajudará a explicitar as demandas das próprias empresas em termos de conhecimento e de pessoal", destacou.
Segundo Brito Cruz, um dos elementos fundamentais para que se possa traçar os chamados desafios estratégicos é a formação de uma aliança do conhecimento que envolva a academia e as empresas, além dos poderes legislativo e executivo. "O Brasil desenvolveu um sistema acadêmico de pesquisa que é capaz de produzir ciência de maneira notável e também, pessoas que sabem produzir essa ciência", afirmou.
O diretor desmistificou a tese de que no Brasil a pesquisa científica não contribui para a geração de empregos. "Fala-se muito que as universidades americanas geram empregos, mas aqui isso também acontece. Apenas o departamento de física da Universidade de Campinas (Unicamp) contribuiu para a geração de 12 empresas na região de São Paulo", comentou.
O grande problema, disse Brito Cruz, é que não está ainda difundida no País a idéia de que também é necessário investir fortemente nas empresas. "Não vamos nos confundir e achar que as universidades vão criar grandes produtos. As universidades vão, sim, formar grandes cérebros, mas é preciso o apoio do estado nas pesquisas feitas pelas empresas", alertou o professor.
O dirigente da Fapesp informou ainda que nos países desenvolvidos, para cada unidade de recurso que o estado injeta nas pesquisas tecnológicas realizadas pela iniciativa privada, as próprias empresas investem nove vezes mais. "Lá, o setor privado e o público têm a noção de que o investimento feito não vai substituir o da empresa", enfatizou, ao acrescentar que, no Brasil, o ideal seria que as pesquisas das empresas recebessem investimento de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões por ano.
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Gazeta Mercantil