Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), acende um alerta sobre os impactos da urbanização nas zonas costeiras do Estado de São Paulo. O estudo, publicado na revista científica Anthropocene Coasts, mostra que o litoral paulista já tem 245 km de estruturas artificiais construídas diretamente na linha de costa, como muros de contenção, espigões e cais, afetando ecossistemas e aumentando riscos de erosão, inundações e avanço do mar.
A Baixada Santista, por ser a região mais urbanizada, concentra 63% dessas estruturas, que somam o triplo da distância entre Santos e a capital paulista. Embora úteis para atividades portuárias e náuticas, essas infraestruturas reduzem habitats naturais e favorecem a entrada de espécies invasoras, segundo os cientistas.
A pesquisa também revelou que mais de 300 km do litoral já têm ocupações humanas em áreas de alta vulnerabilidade climática, como faixas próximas a praias, manguezais e estuários. Em 55% das praias do estado, há urbanização a menos de 100 metros da areia – número que chega a 81% na Baixada Santista e 74% no Litoral Norte
Segundo os pesquisadores, o Litoral Sul de São Paulo é hoje a região com maior potencial natural para resistir aos efeitos das mudanças climáticas, justamente por ainda preservar vegetações como manguezais e restingas. Mas a pressão urbanística crescente pode colocar isso em risco.
"Precisamos urgentemente de planos de gestão para restaurar áreas degradadas e conservar o que ainda resta de vegetação nativa", afirma o professor Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar da Unifesp. "Nosso estudo também reforça a importância de proteger os terrenos de marinha, especialmente diante da discussão sobre a PEC das Praias", conclui.
Um relatório completo em português foi apresentado em Santos, durante o 3º Fórum do Corredor Azul.
Rosaly Avelar