Proteína identificada por pesquisadores da USP no carrapato-estrela pode ser chave para um imunizante contra a doença
Estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista Parasites & Vectors aponta um potencial alvo para o desenvolvimento de uma vacina contra a febre maculosa.
A doença ganhou destaque na última semana depois da confirmação de nove mortes decorrentes da infecção no Estado de São Paulo. Quatro vítimas estiveram no mesmo evento realizado em fazenda de Campinas . Três faleceram no dia 8 de junho e uma adolescente na última terça-feira (13).
No Brasil, a doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela e comum na região do Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica. Segundo dados do Ministério da Saúde, nos últimos três anos, foram registrados, em média, 160 casos por ano, com letalidade de cerca de 28%.
Estudos anteriores do mesmo grupo da USP, sediado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), já haviam mostrado que, ao infectar o carrapato-estrela, a Rickettsia rickettsii é capaz de inibir no hospedeiro um processo chamado apoptose (que é a morte programada das células do aracnídeo), favorecendo seu crescimento. Essa “sobrevida” dá à bactéria tempo para se proliferar e infectar novas células.
No trabalho mais recente, apoiado pela Fapesp por meio de três projetos, a ideia foi silenciar a expressão gênica da principal proteína inibidora da apoptose, a IAP (do inglês, inhibitor of apoptosis protein), com o objetivo de reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção. Para isso, a alimentação dos aracnídeos foi reproduzida em laboratório, com sangue de coelhos infectados e não infectados por R. rickettsii.
“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo. “Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”
As taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela durante o experimento ficaram acima de 92%. Esses resultados sugerem que a alimentação do carrapato, independentemente de estar infectado, gera radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não conseguem sobreviver.
Foco no hospedeiro
A importância de centrar esforços científicos no carrapato-estrela para criar uma possível vacina contra a febre maculosa é simples: “Além de transmissor, o carrapato funciona como um reservatório de Rickettsia rickettsii no ambiente”, explica Fogaça. “Uma vez infectada, a fêmea pode fazer a transmissão para a prole, mantendo a bactéria ativa por gerações consecutivas nas populações de carrapatos.”
Além da importância médica, com a diminuição da transmissão da bactéria para seres humanos, a pesquisadora destaca o impacto econômico que uma vacina capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária.
Por se tratar de uma espécie sem preferência de alimentação determinada, o aracnídeo afeta também outros animais que estejam à disposição, como o gado, causando anemia e marcando seu couro. Apesar de ainda não haver estimativa de valores de prejuízos para a atividade, já há relatos de aumento da infestação.
*Com informações do Portal do Governo SP
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