tamanho da letra A Anvisa autorizou a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto e o Instituto Butantan a iniciar os testes, em seres humanos, de um tratamento que usa células modificadas do próprio paciente para combater o câncer.
O publicitário e escritor Paulo Peregrino descobriu há cinco anos que tinha um câncer linfático. Fez quimioterapia, transplante de medula, mas, em 2021, um exame indicou que a doença tinha avançado. Sem perder a esperança, ele fez parte de uma pesquisa do Hemocentro de Ribeirão Preto com células modificadas geneticamente.
As imagens mostram a evolução do tratamento: as manchas escuras são nódulos que aparecem em várias partes do corpo. Trinta dias depois, o resultado é que os tumores estão desaparecendo.
"Para mim, isso aí é um ganho absurdo, na minha cabeça. Me fortalece ainda mais para eu poder ficar divulgando, fazer as coisas, ficar repercutindo isso. Porque muita gente está tendo muito mais esperança agora do que tinha com a minha história", diz Paulo.
As pesquisas pioneiras no Brasil, como a que tratou do Paulo, começaram em 2019. Nesta nova terapia, os cientistas colhem linfócitos - que são células de defesa do próprio paciente - e, no laboratório, modificam o material genético delas para que aprendam a identificar as células causadoras do câncer e se multipliquem. Quando são devolvidas aos milhões à corrente sanguínea do paciente, essas células modificadas - conhecidas como CAR-T - passam a atacar especificamente as células cancerígenas, levando à extinção do tumor.
A Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, autorizou o uso dessas células no tratamento experimental de pacientes com alguns tipos de câncer - como linfoma, um câncer do sistema linfático, e leucemia linfoide aguda B. Agora, a Anvisa vai acompanhar os testes com 81 pacientes. O objetivo de verificar a segurança e a eficácia da nova terapia.
Os testes clínicos, que vão se feitos em cinco hospitais do estado de São Paulo, devem durar um ano. Mas os primeiros resultados já saem nos próximos meses. Os pesquisadores estão esperançosos de que, já em 2024, a Anvisa possa registrar essa nova terapia para que ela fique disponível para todos os pacientes do SUS.
O diretor científico do Hemocentro explica que a tecnologia brasileira traz economia para o tratamento e esperança para os pacientes.
"É uma tecnologia nacional, desenvolvida integralmente aqui. Quando você compara essa tecnologia com a tecnologia comercial, disponível na Europa, nos Estados Unidos, lá, o preço é de R$ 2 milhões um tratamento. Então, nós estamos fazendo todo esse esforço para entregar isso ao paciente do SUS. Ou seja, tornar acessível um tratamento que salva a vida das pessoas", explica Dimas Covas, diretor científico do Hemocentro Ribeirão Preto.