É só pegar o telefone, entrar em contato e agendar uma reunião. É tão simples que os empresários têm dificuldade em acreditar", diz Eduardo Couto, coordenador da unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapü) no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
Couto despacha de um gabinete equipado com o básico para o atendimento às empresas. Telefone, computador, estante e uma mesa para reuniões. Como adorno, apenas um banner que ilustra a especialidade da unidade, a biomassa. O objetivo da estrutura é atrair tecnologias com potencial de mercado e endereçar, com agilidade, os projetos de inovação. A avaliação é feita pela equipe técnica, sem edital ou qualquer outro instrumento burocrático. "No si te da Embrapü, o empresário encontra uma lista com as unidades em todo o Brasil, lá estão os contatos dos coordenadores e as áreas de atuação."
Cada unidade tem autonomia para definir os passos da análise e aprovação das propostas. No CNPEM, os técnicos conversam com os empreendedores, ajustam os planos de negócio e preenchem a documentação necessária. O processo -da reunião à assinatura do contrato -consome, em média, 75 dias. "É um prazo excelente quando falamos do acesso a verbas para inovação."
A Embrapü entra com até um terço do valor do projeto em recursos não reembolsáveis, o centro de pesquisa e a empresa respondem pelo restante do orçamento. Em geral, a maior parcela do investimento fica por conta dos empresários. A unidade do CNPEM já fechou seis contratos para projetos e negocia outros 13. "O ritmo acelerou no último ano", diz.
Para Couto, o interesse pela rede de inovação da Embrapü tem aumentado exatamente por conta da simplicidade. "É um processo inteligente, que divide os riscos da inovação e dá à indústria o apoio necessário para tocar os projetos", comenta. Quando a empresa precisa contratar empréstimos para compor sua parte no capital, é possível acionar entidades parceiras da Embrapii como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Finep, bancos e agências regionais de fomento que possuam linhas para inovação.
Jorge Guimarães, presidente da Embrapii, comemora os resultados alcançados em três anos de operação. Segundo ele, a Embrapiijá aplicou recursos da ordem de R$ 520 milhões, somando 330 projetos e beneficiando 220 empresas. Do total de iniciativas, 61 foram concluídas e 58 projetos geraram registro de patente. A rede também avança a passos largos e conta, atualmente, com 42 unidades e polos de tecnologia credenciados. "Mesmo em um cenário econômico difícil, as empresas estão buscando a inovação como estratégia", diz Guimarães.
A Embrapii possui um contrato de gestão de seis anos com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e com o Ministério da Educação (MEC). Pelas regras, a instituição deve aplicar, até 2019, R$1,5 bilhão em projetos. ''Até agora não tivemos problemas com recursos", comenta Guimarães. Ele explica que, mesmo com atraso nos repasses (os de 2017 ainda estão sendo negociados), os projetos não foram prejudicados. "Comparados com os outros gastos públicos, o nosso orçamento é baixo", avalia.
Além dos recursos do governo federal, a Embrapii tem parcerias para engordar a carteira de projetos. Recentemente fechou acordo de cooperação técnica, com duração de cinco anos, com o BNDES para promover projetos em áreas estratégicas como saúde, internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e manufatura avançada. "A unidade Embrapii faz toda a avaliação de risco, facilitando a liberação de crédito no banco", explica Guimarães. A lista de parceiros tem crescido e engloba, entre outros, Finep, Fapesp, Desenvolve SP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Banco do Nordeste.
Outro desafio da Embrapii é ampliar a participação das empresas de pequeno porte nos projetos de inovação. No caso do BNDES, a Embrapii foi credenciada como fornecedora do Cartão BNDES, o que permitirá às micro e pequenas empresas o financiamento de serviços e materiais necessários para o projeto de inovação por meio do cartão. "Também fechamos acordo com o Sebrae, que vai aplicar R$ 20 milhões em projetos via Embrapii", destaca Guimarães. Segundo ele, o Sebrae já liberou um terço da verba.
Para Marcelo Fogolin Calori, coordenador técnico da Unidade Embrapii CPqD, em Campinas, a Embrapii tem reduzido o tempo para levar a inovação ao mercado. "Em alguns projetos concluídos, já estamos discutindo o recebimento de royalties", afirma. Essa dinâmica, diz, renova a capacidade de investimento da unidade. "Outra vantagem é a possibilidade de combinar diferentes linhas de fomento em um projeto de tecnologia."
Como exemplo, Calori cita o cabo híbrido para rede elétrica, desenvolvido pela Unidade Embrapii CPqD e a Furukawa. O projeto - inédito no mundo - resultou em um cabo metálico com fibra óptica em seu interior, capaz de conduzir energia elétrica e, ao mesmo tempo, transmitir dados em alta velocidade. "É um produto para o segmento de cidades inteligentes", explica.
O produto permite que concessionárias de energia automatizem suas redes, com a instalação de sensores e medidores inteligentes. "Elas poderão receber e enviar dados para os equipamentos, sem precisar instalar infraestrutura excedente para a comunicação." O desenvolvimento do cabo contou com recursos da Embrapii. Depois de pronto, o produto encorpou o projeto para a construção de uma rede elétrica sinérgica, desenvolvido pela Cemig, em parceria com o CPqD, com apoio de programas de pesquisa e desenvolvimento do setor.