Observações feitas pelo telescópio Cheops, da Agência Espacial Europeia (ESA), revelam que um planeta-anão no Sistema Solar tem um anel denso ao seu redor a uma distância considerada incomum. O esperado era que ele tivesse se condensado e formado uma pequena lua, mas não foi isso que aconteceu.
Conhecido como Quaoar, o planeta passou por uma série de observações entre 2018 e 2021, numa das quais constatou-se a presença do anel. Os achados foram divulgados na revista científica Nature nesta terça-feira (8).
Quaoar é um dos 3 mil pequenos mundos que se localizam quilômetros após a órbita de Netuno, os chamados transnetunianos (TNOs, na sigla em inglês), e ocupa o sétimo lugar na escala de tamanho. Nesse grupo também estão presentes Plutão e Eris, os maiores até então.
Anéis distantes
O ponto principal de curiosidade a respeito do anel é a distância em que ele se localiza de Quaoar. Segundo os pesquisadores, qualquer objeto celeste com um campo gravitacional próprio tem um limite dentro do qual pode orbitar sem se desintegrar pela força gravitacional emitida pelo objeto principal. Essa condição é conhecida como Limite de Roche.
A regra convencional é: se as matérias passam do limite de roche, se aproximando do planeta, elas se desfazem; caso se afaste do limite, o material se condensa formando uma pequena lua. “O que é tão intrigante sobre essa descoberta em torno de Quaoar é que o anel de material está muito mais longe do que o limite de Roche,” pontua Giovanni Bruno, do Observatório do Instituto Nacional Astrofísica, na Itália, em comunicado.
Saturno, por exemplo, conta com uma abundância de poeira e fragmentos de rochas e gelo que orbitam ao seu redor. Contudo, são corpos com baixa massa e todos dentro do Limite de Roche.
Para Bruno, a nova descoberta de Quaoar tornam necessárias revisões nos estudos já feitos sobre o assunto. Os primeiros resultados da pesquisa sugerem que as temperaturas frias do planeta podem impedir que as partículas se unam.
Dificuldades de observação
Estudar planetas-anões não é uma tarefa fácil por causa de seus tamanhos pequenos e distâncias extremas. Assim, uma boa maneira de conseguir enxergá-los é através das ocultações estelares, evento que ocorre quando um objeto é oculto por outro que passa entre ele e o observador. Como um pequeno eclipse.
Observar como a luz da estrela oculta cai, ou “some”, quando coberta por um corpo celeste fornece informações sobre o tamanho e a forma do objeto oculto e pode revelar se o objeto intermediário tem uma atmosfera ou não.
As ocultações são ferramentas particularmente valiosas, mas para que esse fenômeno ocorra é necessário um alinhamento extremamente preciso entre a estrela, o objeto e o telescópio de observação. Até pouco tempo atrás, era difícil prever exatamente quando e onde elas aconteceriam.
“Quando juntamos tudo, vimos que as quedas de brilho das estrelas não eram causadas por Quaoar, mas que apontavam para a presença de material em uma órbita circular ao seu redor. No momento em que vimos isso, dissemos: 'Ok, estamos vendo um anel ao redor de Quaoar', explica em nota Bruno Morgado, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e líder da análise.
Enquanto os pesquisadores trabalham em como os anéis Quaoar podem "sobreviver", o projeto continuará a observar Quaoar e também outros TNOs. A ideia é medir suas características físicas e ver quantos outros mundos como esse também possuem sistemas de anéis.
Por Redação Galileu