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ASTRONOMIA - Salto de qualidade

Publicado em 19 abril 2004

O cume do Cerro Pachón, nos Andes chilenos, bem que poderia ser considerado um pedacinho do Brasil. É que ali, a 2.700 metros de altitude - onde o ar seco e o céu limpo o ano inteiro favorecem a observação astronômica -, começa a funcionar, no sábado 17, o telescópio Soar (Southern Astrophysical Research Telescope, o Telescópio Austral para Pesquisas Astrofísicas). O Brasil investiu US$ 12 milhões e é sócio majoritário desse telescópio de ponta, que vai garantir aos pesquisadores do país cerca de cem noites de observação por ano - bem mais que as 16 a que temos direito em outros dois observatórios de última geração, o Gemini Sul, no Chile, a 400 metros do Soar, e o Gemini Norte, no Havaí. ''O Soar é o melhor e mais moderno telescópio do mundo, com espelho de 4,1 metros de diâmetro'', anima-se Thaisa Storchi Bergman, astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista em galáxias próximas e buracos negros. Num telescópio, o espelho é responsável por coletar a luz emitida pelas estrelas. Embora seja considerado pequeno (os dois Geminis, por exemplo, têm espelhos de 8 metros de diâmetro), o Soar terá capacidade de obter imagens de excelente qualidade, com resolução semelhante à do telescópio espacial Hubble. ''Ele tem recursos que suprem antigas deficiências dos telescópios terrestres'', explica João Steiner, astrofísico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da USP, e presidente do consórcio que coordena o Soar. Para contornar o problema da turbulência atmosférica, que faz com que os raios luminosos emitidos pelas estrelas cheguem fora de foco aos telescópios, o Soar alia duas tecnologias modernas: as óticas ativa e adaptativa. Na adaptativa usa-se um conjunto de três espelhos. Um deles, muito pequeno e flexível, perto do foco, vibra cem vezes por segundo para corrigir a trepidação causada pela turbulência. Na ótica ativa são colocados 120 apoios sob o espelho do telescópio, que tem 10 centímetros de espessura e cerca de 3,2 toneladas, para evitar que ele trema. Em alguns casos, os astrônomos nem precisarão ir ao Chile. Os laboratórios de diversos centros de pesquisa estão sendo equipados com computadores ligados diretamente ao telescópio. ''Qualquer aluno de pós-graduação na área, por exemplo, poderá assistir a uma aula de Física Teórica à tarde e, sem sair da universidade, passar a madrugada analisando os dados colhidos pelo observatório no Chile'', diz José Renan de Medeiros, professor de Astronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Raio X do Soar Confira a participação brasileira no empreendimento científico. Sócios: o CNPq (órgão que representa o Brasil), 34%; o National Optical Astronomy Observatories (Noao), dos EUA, 33%; a Universidade da Carolina do Norte, 19%; e a Universidade Estadual de Michigan, 14% Investimento total: US$ 42 milhões, sendo US$ 12 milhões do Brasil (US$ 10 milhões do CNPq e US$ 2 milhões da Fapesp) - O Brasil desenvolve dois instrumentos que, acoplados ao telescópio, permitem a análise da luz coletada. A coordenação é de Jacques Lépine (IAG-USP) e Bruno Castilho (Laboratório Nacional de Astrofísica) - O gerenciamento da construção da estrutura da cúpula foi feito pela Equatorial Sistemas, de São José dos Campos, São Paulo - O aço de alta resistência à corrosão atmosférica usado na cúpula é da Usiminas - O torneamento da estrutura do anel de 19 metros de diâmetro que apóia a cúpula pesa 20 toneladas e foi feito na Atlas Metalúrgica, de São Paulo - O prédio que abriga o telescópio é revestido de 137 toneladas de aço brasileiro