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Revista Cultivar Máquinas

Associação eficaz

Publicado em 01 janeiro 2012

Populares na mesa dos brasileiros, alface e tomate são hortaliças exigentes e produzí-las demanda esforços como oferecer nutrição adequada as plantas, protegê-las contra os rigores do clima e dos ataques de pragas e doenças. Técnicas associadas de ambiente protegido, consórcio e sucessão estão entre as ferramentas para auxiliar o produtor a transpor esses desafios

O tomate e a alface são as hortaliças mais populares na mesa dos brasileiros. O tomateiro (Solanum lycopersícum L.), de origem andina, cujo o fruto é o tomate, é a hortaliça com maior volume de produção do país. É consumido tanto na forma de saladas quanto processado (massa de tomate, molho, entre outros). As cultivares de tomate de mesa, de crescimento indeterminado, exigem tutoramento, amarrio e desbrota, operações que, em conjunto com a adubação, determinam o custo de produção. A cultivar Saladete DRW 3410 é um tomate tipo italiano, altamente produtivo, precoce e com cachos uniformes, possui ótimo sabor, os frutos são firmes e uniformemente coloridos. A alface (Lactuca sativa L.), originária da região do mediterrâneo, é a hortaliça folhosa mais importante no mundo, sendo consumida principalmente in natura, na forma de saladas. O segmento de alface crespa predo-mina no mercado, com 70% nacio-nalmente. No entanto, o segmento varietal da alface americana tem registrado crescente aceitação pelo mercado consumidor e atualmente abrange 15% do mercado. Até início da década de 80 esse tipo de alface era praticamente desconhecido da maioria do público consumidor. Nesse segmento, segundo os pro-fessores Fernando César Sala e Cyro Paulino da Costa (UFSCar/CAA), a cultivar Gloriosa apresenta como principais características, que as diferenciam das demais cultivares americanas, a precocidade, a boa cobertura foliar que protege a cabeça do excesso de sol e garante seu transporte e manuseio durante a comercialização e a formação de cabeça não compacta.

DESAFIO DE PRODUZIR ALFACE NO VERÃO

O grande desafio do alfacicultor em clima subtropical é a produção no período de verão, em que há temperaturas elevadas associadas à alta pluviosidade, o que favorece o ataque de fungos e bactérias. Outra dificuldade que agrava o problema de perdas no verão é o pendoamento precoce da alface, induzido pelas altas temperaturas, o que reflete diretamente rjp preço e na oferta do produto no mercado, devido à maior demanda pelo produto nesse período.

A alface responde à adubação orgânica e no cultivo de hortaliças frequentemente se utilizam elevadas doses de composto orgânico como forma de adubação. Contudo, a aplicação exclusiva desses adubos tem se mostrado prática onerosa, uma vez que as quantidades neces-sárias são grandes para se atender às produções comerciais. Nesse contexto, o ideal seria optar por formas de adubação mais eficientes de maneira a reduzir custos e gasto energético. Assim, a adubação verde pode complementar a adubação com composto, incrementando a produtividade, contribuindo no aporte de nutrientes, principalmente o N, através da fixação biológica do nitrogênio (FBN) quando se utiliza das leguminosas para esse fim. Adubos verdes são plantas usadas para melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de favorecer a nutrição das plantas cultivadas em sucessão ou em consórcio. E essencial para a otimização dos efeitos benéficos considerar as diferentes caracterís-ticas das várias espécies de adubos verdes para garantir o sucesso na produção orgânica.

Em Piracicaba, no Polo Regio-nal Centro-Sul, já havia se estudado a contribuição do nitrogênio para alface em cultivo consorciado e verificado que o tremoço-branco plantado simultaneamente à alface contribuiu com 20% do nitrogênio encontrado na alface no momento da colheita. No mesmo experimento, verificou-se que o cultivo consorciado da alface Pira-roxa com os adubos verdes aveia-preta, caupi e tremoço-branco, quando semeados simultaneamente trans-plantio da alface, não influenciou o desempenho da alface. Apesar das várias vantagens relacionadas ao uso de sistemas consorciados, algumas desvantagens da adoção deste sistema são o aumento da mão de obra em alguns casos e a competição entre espécies, o que precisa ser avaliado antes da adoção da tecnologia. Outra limitação é em relação ao pré-cultivo do adubo verde como forma de fornecer nitrogênio à cultura principal, pois, devido à temperatura excessiva e à elevada umidade que resultam em mineralização acelerada no clima tropical, a taxa de decomposição pode ser elevada e, dessa maneira, caso não haja sincronicidade entre a demanda da cultura sucessora e a mineralização do N, corre-se o risco de perda do nutriente. Além disso, outro fator limitante para a adubação verde solteira de pré-cultivo é o fato de haver a necessidade de cultivo e manutenção de áreas sem o retorno financeiro imediato com uma cultura economicamente rentável, sendo este um entrave principalmente para pequenos produtores. Como alternativa a essa técnica de manejo, existe a consorciação dos adubos verdes com a cultura principal. Nesse esquema, os adubos verdes são cultivados juntamente com a cultura principal em parte de seu ciclo ou no ciclo todo. O cultivo consorciado é proposto para o cultivo do tomateiro.

CONSÓRCIO TOMATE E ALFACE

A agricultura é uma atividade de risco elevado, pois, entre outros fatores de dificuldades, não se tem controle sobre os elementos climáticos. Nesse sentido, o cultivo realizado em ambientes protegidos é uma das tecnologias que têm contribuído para a modernização da agricultura e diminuição dos riscos frente às adversidades climáticas. O custo inicial de implantação do cultivo em ambiente protegido é alto e para maximizar seu uso e lucratividade é importante o plantio de culturas de alto valor agregado, como é o caso do tomate orgânico e da alface no cultivo de verão. Com o objetivo dessa otimização, em Piracicaba, São Paulo, no Polo Regional Centro-Sul (Apta/SSA), cultivou-se por dois anos consecutivos (2009 e 2010) o tomateiro'(cultivar Saladete DRW 3410) consorciado com adubos verdes (feijão-de-porco (Canavalia ensiformis L.), feijão-mungo (Vigna radiata (L.) Wilczek) e sobre palhada de crotalária-júncea (Crotalaria júncea L.), na quantidade de cinco toneladas por hectare, além de um tratamento controle (sem adubo verde). Os ensaios foram realizados no período de inverno em área agroecológica em ambiente pro-tegido. Na sequência da cultura do tomateiro foram cultivadas as alfaces Gloriosa, cultivar tipo americana, e Pira-verde, tipo crespa. Concluiu-se pelo trabalho que a alface Pira-verde, tipo crespa, responde mais significativamente que a alface Gloriosa, tipo americana, à adubação verde em pré-cultivo, em relação ao peso fresco da cabeça. E que o feijão-de-porco foi o adubo verde que apresentou maior influência sobre a produtividade da alface Pira-verde.

O feijão-mungo apresentou uma produtividade de grãos de 1.450kg/ha, no primeiro ciclo de produção, que deve ter implicado na extração de nutrientes com sua co-lheita, interferindo nos resultados de produção do tomateiro. No entanto, convém salientar que o feijão-mungo também gera retorno econômico ao produtor, pois é comercializado para a produção do "moyashi" ou broto-de-feijão, muito apreciado na culinária oriental. O feijão-de-porco apresentou resultados menores para número e peso de frutos danificados em comparação ao tratamento com palha de crotalária-júncea, indicando haver alguma interação para a diminuição de ataques de pragas e doenças no sistema de condução em consórcio. A aplicação da palha da crotalária-júncea apresentou resultados superiores para peso de frutos comerciais, número e peso de frutos danificados na média dos dois ciclos e para número e peso total de frutos no primeiro ciclo. No segundo ciclo de produção, o tomateiro foi conduzido sobre resí-duo da palhada de feijão-de-porco (5,77t/ha) e feijão-mungo (2,22t/ ha), sendo que isso se refletiu no desempenho do tomateiro que apresentou maior número de frutos comerciais. No final do segundo ciclo de produção o feijão-de-porco produziu 9,26t/ha e, nessas con-dições, em que o adubo verde foi consorciado com o tomateiro, não se observou competição, haja vista que não houve diferença com o controle (sem consórcio) ou adição de palha de crotalária-júncea.

A utilização da palha como cobertura morta pode ser uma alternativa ao tomaticultor, que não domina a técnica do consórcio, sem prejuízo no crescimento do tomateiro e com grandes vantagens como a do controle de plantas espontâneas e fornecimento do nitrogênio através da mineralização da matéria orgânica da palha da crotalária-júncea adicionada, o que pode levar à queda nos custos de produção com a economia nas capinas e na aquisição de fertilizantes nitrogenados. Em relação ao alfacicultor, a recomendação é o uso da palhada de feijão-de-porco, que é eficiente em fornecer condições adequadas ao desenvolvimento produtivo da alface tipo crespa.

Fabrício Rossi

Apta/Fapesp

Edmilson José Ambrosano e Fábio Luis Ferreira Dias Apta Centro-Sul Paulo César T. de Melo, Esalq

Nivaldo Guirado e Gláucia Maria B. Ambrosano, Unicamp