Expansão é constante e sempre dolorosa. Confortável é a retração. A inércia é a morte.
Quando um afrikano do continente diz pro diaspórico que ele não é “afrikano de verdade” ou coisas do tipo “nunca pisou na Áfrika”, ele está dizendo que nossos antepassados em comum que foram sequestrados são culpados pelo sequestro que sofreram. Ora, nem o antepassado nem o descendente, nenhum deles queria estar aqui nessa Senzala-BR moderna.
Em outras palavras, dizer que o diaspórico é menos afrikano do que o afrikano do continente, é atacar o ANTEPASSADO em comum de ambos. Quem não reconhece linha temporal passada como sendo atual, é o yurugu.
É o mesmo que encontrar um morador de rua com esquizofrenia que fala sozinho, e você dizer que é culpa dele mesmo. Ele não queria tá naquele inferno.
E é fácil entender porque esse apontamento injusto acontece. Porque o mecanismo de funcionamento e pensamento desse mano acusador é igual o das feministas. É separatista pra quem é igual, e integracionista pra quem é diferente. Autoódio faz isso.
Tanto feministas quanto esses continentalistas tem a sensação, uma certeza, de que são os maiores sofredores do mundo. Tem a sensação de que os diaspóricos se deram bem, vivem em gastura, se esbaldam em belezas. Feministas e acusadores desses não enxergam a desgraça que o racismo causou aqui. Acham que é pouca coisa o sofrimento do diaspórico, assim como as feministas que julgam o homem preto sempre injustamente. É o ponto de partida que está errado. Com premissas erradas, todo método e toda conclusão sempre estará errada.
Quando acidentalmente entram em contato com a realidade, esperam um tapete vermelho, como se seu alvo de julgamento estivesse em débito. No caso das feministas, o homem preto, já pros continentalistas é o diásporico que ta em débito.
Continentalistas dizem “vocês dão as costas à Afrika pra viver bem aqui”. As feministas mudam pouca coisa: “vocês abandonaram a mulher preta”. As duas frases são ilusões da cabeça desse pessoal. Fantasias de dor que ficam afirmando como se fossem verdades pra que todo o resto faça sentido.
Ambos são cegos para o fato de que todos os sujeitos descritos sofreram um violento processo colonizatório igual, que não deixa ninguém em débito com ninguém. A diaspóra mal conseguiu deter os 20 mil pretos mortos por ano aqui há décadas. Ainda querem que a gente salve os de lá. Também não faz sentido eu dizer que o continente deveria ajudar aqui, saca?
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Mas o sentimento da feminista e do continentalista acusador sempre é de abandono. E quer saber mais? Se você explicar pra feministas e separatistas todo esse processo, eles parecem estar cagando absolutamente. Nos seus corações já decidiram que tudo que o outro fala é bobagem. Um sujeito assim jamais aceita ser corrigido ou cobrado em sua postura, porque ele já sente que foi prejudicado a vida inteira. Sente que o outro tem débito com ele. Foi convertido(a) pelas emoções.
E porque existe essa sensação?
Isso se responde com a resposta de outra pergunta: Quem são esses sujeitos que se sentem assim? Quais as características deles?
E é aqui que o texto divide as pessoas. Porque ele implica pessoas reais que não vão gostar de serem descritas aqui.
Quem faz essas merdas de análise pautadas no próprio umbigo é sempre o mesmo perfil: pessoas que empilham diplomas universitários, classe média alta e classe alta. Pessoas que foram formados para serem melhores em branquices que os próprios brancos. Dominam linguagem da hipocrisia e da esquiva e JAMAIS se dedicam a resolver os problemas que apontam. A culpa é sempre de alguém. O diploma branco lá faz ter certeza que não precisam se esforçar pra entender mais nada. Foram já eleitos explicadores da realidade.
Cê não vê afrikanos pobres acusarem a diaspóra de nada, assim como sabemos que a feminista que desumaniza as dores do homem preto, é sempre a preta universitária, patrocinada por edital e bolsa FAPESP, e cheia das amiga branquinha do shop pra gerar concordância.
O Kilumbû Ókòtò percebeu isso há anos, e já é protocolo que é preciso escrotizar essa galera. Não reconhecemos explicadores que falam merda e vivem como merdados hipócritas, independente de gênero ou geografia. Serão apontados pelo conteúdo e pela forma.
Os que apontam a si mesmos de serem “afrikanos de verdade”, são tão melhores que os daqui, que pagam cerca de 1.000 dólares de passagem aérea pra vir pegar emprego em multinacional branca aqui na diáspora. (As vezes a mesma empresa patrocina genocidio de pretos daqui e de lá AO MESMO TEMPO).
Esses pretos separatistas aí não se importam nem com os pretos de lá nem com os daqui. Engraçado que 99% dos pretos daqui não tem mil dólares pra gastar com avião, e muitos desses 1% que tem, são os vendidos da Senzala-BR que também criticamos igualmente. São os equivalentes aos de lá. Esses sim, tem mil dólares pra viajar JUSTAMENTE porque vendem seus irmãos.
Nós do Kilumbû Ókòtò não. Aqui quem esboçar fazer 10% disso toma no meio das pernas, toma pesado.
Conheço pessoalmente alguns desses que gastaram esses mil dólares pra vir pra cá, (uma grana que 99% dos irmãos de lá não tem) esses separatistas aí ganham mais que 99% dos pretos daqui (mais de 3 mil nessa Senzala-BR).
Fazem tudo isso e usam suas habilidades pra engordar cada vez mais essas empresas brancas racistas que patrocinam assassinatos de pretos do morro daqui. Assim como tem preto aqui na Senzala-BR usando suas habilidades pra engordar empresa branca que extrai minério no Congo, tem pretos de classe média-alta láá do continente patrocinando genocídio aqui pra tirar o seu salário individual, e ainda pagam o custo de ficar longe da família de boas.
Tudo cristão até ano passado, aprenderam aqui mesmo que preto-cristão é uma contradição brutal, mas porque nasceram no continente acham que são autoridade moral. Cê não vê fulano postar uma foto da família, mas já vi texto de um deles falando que os irmãos de Angola são interesseiros porque quando aterrissam de volta lá os irmãos “ficam pedindo um tênis”. Não querem ser cobrados por ninguém. Não gostam de sentir culpa e constrangimento, e vão colocar todas as fichas em negativar qualquer um que os constranja com verdades duras demais.
Essa é que é a diferença entre verdadeira Afrika e Ocidente: enquanto o ocidente usa certidão de nascimento, diploma, cromossomo sexual e qualquer outro dado estático pra chancelar sua suposta autoridade, o berço afrikano tem a vigilância da conduta cotidiana. Você é o que você vive como conduta. Nenhum dado estático te livra de justificar sua conduta. Vamo repetir porque as vezes tem burro lendo:
Nenhum dado estático te livra de justificar sua conduta.
É por isso também que apenas mudar de feminismo pra mulherismo não resolve, mesmo tendo conhecimento afrikano ali…mas e a conduta? Mudou, ou não aceita ser cobrada também tal como feminista?
Ah, tu é retinto? Tu nasceu no Congo? Então tu acha que pode patrocinar genocídio no Brasil e no Congo sem ser cobrado, é isso?
Suportar o constrangimento e se corrigir é o melhor atestado de moralidade, sendo que o atestado só dura até a próxima cobrança. Quem reage mal à cobrança, é definitivamente imoral e antiafricano. Saber entender essa conduta, depois da melanina, é o principal ingrediente de afrika. Não é o Global Positioning System. Nenhum dado estático te livra de justificar sua conduta.