A cana-de-açúcar é a cultura mais importante do Brasil quando se trata da produção de açúcar e do biocombustível etanol. Com praticamente 8,5 milhões de hectares plantados, a cana é responsável pelo maior desenvolvimento do agronegócio envolvendo o etanol e energia em geral.
Porém, como toda a cultura agrícola, é atacada por pragas que causam prejuízos desde a parte aérea até as raízes. As pragas-chave da cana são a broca da cana (Diatraea saccharalis) e a cigarrinha das raízes (Mahanarva fimbriolata). As pragas de solo também são importantes em causar danos na cultura e precisam ser monitoradas e controladas corretamente.
Broca da cana - A broca da cana é considerada a principal praga da cultura, com capacidade de causar grandes prejuízos com um índice de infestação de apenas 1%, pois além de broquear o colmo causando perda de peso, esse orifício permite a entrada de fungos contaminantes que causam a diminuição da sacarose. O controle biológico com parasitóides é o mais eficiente método de controle, principalmente Cotesia flavipes que parasita as lagartas e Trichogramma galoi que parasita os ovos.
O monitoramento desta praga é realizado por meio do levantamento de lagartas na fase vegetativa da cana até a maturação, sendo a estimativa calculada no momento da colheita ou na usina, ao receber o carregamento do talhão. O método mais usado no Brasil é a liberação do parasitóide C. flavipes. Deve-se fazer a liberação do parasitóide quando se estimar 10 lagartas/hora/ homem ou 2.500 lagartas/ha. Libera-se em torno de 6 mil a 8 mil vespinhas por hectare, mantendo-se o monitoramento da praga.
Cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar - A cigarrinha-da-raiz é considerada uma das pragas mais importantes da cana no estado de São Paulo e no Nordeste. As ninfas, ao se alimentarem, ocasionam a "desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa.
Os adultos ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por microorganismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo.
A proibição da queima da cana no estado de São Paulo, Decreto-lei Estadual n" 42.056/97, têm ocasionado mudanças no manejo dessa cultura, devido ao aumento da área colhida sem queima e, como consequência, em muitas regiões têm ocorrido aumentos consideráveis na população de cigarrinha-da-raiz. A cigarrinha-da-raiz da cana tem se tornado um sério problema em algumas regiões de São Paulo, tais como Ribeirão Preto, onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente e crua. Não havendo queima da palhada, ocorre um acúmulo desse material no solo e um aumento da umidade, facilitando assim o crescimento e a disseminação da praga. E considerando que, com a nova legislação ambiental, São Paulo proibirá a queimada da cana, espera-se um aumento significativo na população de M. fimbriolata, causando sérios prejuízos para as usinas e fornecedores, além do aumento de custos para o controle desta praga.
A estratégia de controle da cigarrinha-da-raiz inicia-se com o monitoramento da praga que deverá ser realizado no início do período chuvoso e durante todo o período de infestação, para que se possa acompanhar a evolução ou o controle. O nível de dano econômico (NDE) é de 20 ninfas/metro linear de sulco e um adulto/cana; o nível de controle (NC) é de 2 - 4 ninfas/ metro e 0,5 a 0,75 adulto/cana. O Instituto Biológico desenvolveu pesquisas de controle biológico de M. fimbriolata com o fungo Metarhizium anisopliae. O projeto temático, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cuja coordenação foi do instituto, contou com a parceria da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/ USP) e Universidade Federal de São Carlos, campus de Araras/SP.
Em aplicação tratorizada, o fungo deve ser aplicado na vazão de 300 a 400 litros de água/hectare, utilizando um trator com bicos em pingente e com jato dirigido para a soca da cana. E, de preferência, após as 16h, para evitar a alta incidência de raios ultravioleta, até a madrugada, período em que a umidade relativa está alta e a temperatura mais amena, o que facilita o controle microbiano com o fungo. A aplicação aérea poderá ser utilizada com vazão de 40 a 50 litros/ha, com gotas grandes e altura de 2 metros da cultura.
Cupins - Os cupins são pragas das mais importantes, principalmente a espécie Heterotermes tenuis, pois é a mais frequente e de maior distribuição, sendo que os danos atingem 10 toneladas/ha/ano. O manejo por meio do levantamento de espécies e população em áreas de reforma de cana, o uso racional de inseticidas químicos e a melhoria do teor de matéria orgânica no solo produzem uma condição mais adequada para o controle e a convivência da cultura com essas pragas.
Os danos são causados em três períodos: a) logo após o plantio, nas gemas dos toletes da cana-planta; b) no início do crescimento e perfilhamento, causando injúrias; e c) após o corte, quando as soqueiras ficam vulneráveis devido ao estresse. Os danos podem ser reconhecidos por falhas de germinação, em reboleiras, galerias nos toletes e presença de fezes próximo às soqueiras.
A isca Termitrap permitiu realizar um levantamento de espécies de cupins na região de Piracicaba/SP durante três anos, sendo que a espécie mais atraída foi H. tenuis. Porém, foi possível coletar ainda as espécies Cornitermes cu-mulans, Procornitermes spp., Nasuti-termes spp., Anoplotermes spp., Cons-trictotermes spp., Ruptitermes spp., Syntermes molestus, Cylindroterm.es sp., Neocapritermes spp. e Coptoter-mes havilandi. Os danos nas raízes da cana foram associados à H. tenuis e Procornitermes sp. O monitoramento de cupins na cana deve ser realizado após a última colheita, antes da reforma da área.
O controle químico geralmente é feito com aplicação em área total, pulverizando o solo no momento do preparo dos sulcos para o plantio. Os inseticidas recomendados são Fipronil 250 a 500 g/ha e Thiamethoxam 400 a 800 g/ha
Besouro migdolus - O besouro Migdolus fryanus é uma praga subterrânea com grande capacidade de destruição do rizoma da cana, podendo atingir até o colmo. O seu controle é muito complicado, pois a larva atinge grandes profundidades e são necessárias aplicações de inseticidas com alto poder residual como o Fipronil a 500 g/ha, no plantio. Existe uma armadilha de feromônio sexual que pode ser utilizada no monitoramento da praga. Algumas pesquisas já apontam a possibilidade do uso de nematóides entomo-patogênicos no controle das larvas de Migdolus, porém ainda são necessários testes em campo e melhoria no sistema de produção do nematóide.
Bicudo da cana-de-açúcar - O bicudo da cana (Sphenophorus levis) também é uma importante praga que ataca o rizoma da cultura, tanto na fase de larvas como de adultos, causando prejuízos de até 30 toneladas/ha. Não se tem um controle químico eficiente para essa praga. Portanto, o mais indicado é fazer uma vistoria minuciosa nas mudas a serem plantadas, para não permitir o alastramento desta praga tão importante. Estudos com a aplicação de nematóides entomopatogênicos também demonstram o potencial de uso desses agentes de controle biológico dessa praga.
Formigas cortadeiras - As formigas cortadeiras são importantes pragas da cana, visto que cortam grande quantidade de folhas, causando a diminuição da massa verde e chegando a matar a touceira. As principais espécies são Acromyrmex landolti balz.ani, Atta capiguara, Atta bisphaerica e Atta laevigata. E os principais métodos de controle são iscas granuladas e termo-nebulizador. M