A savana tropical mais rica do mundo ocupa mais de 20% do território nacional e ainda reserva muitas belezas a serem descobertas. Dia 11 de setembro é considerado o Dia do Cerrado, uma data reservada para homenagear o bioma símbolo da resiliência, que se aproveita da passagem do fogo para renascer.
O segundo maior bioma da América do Sul compõe um mosaico com diversos tipos de vegetação. E há quem não imagine que, entre as 12 mil espécies de plantas diferentes do Cerrado, esse bioma reserve um espaço para especial para a beleza das flores.
A bióloga, pós-doutora em Ecologia, Alessandra Fidelis estudou os ecossistemas abertos no Cerrado e a ação das flores, rebrotando e florescendo nesses ambientes, após a passagem do fogo. Há dois anos, Alessandra resolveu se aprofundar em uma delas, o cabelo-de-índio.
“Fizemos nossos experimentos em Goiás e, após queimar as primeiras parcelas e voltar no dia seguinte, comecei a perceber que esta planta não somente era a primeira a florescer, como ela florescia imediatamente após o fogo”, descreve ela.
A pesquisadora ainda explica que sabemos, hoje em dia, que o homem é um dos principais responsáveis por incêndios descontrolados que ocorrem no Cerrado. “As mudanças no uso da terra, a destruição do bioma, o plantio de árvores exóticas e as queimadas descontroladas estão acabando com essa resiliência e com essa capacidade do Cerrado de renascer”, explica ela.
A falta de informação sobre as plantas pequenas do Cerrado faz com que as pessoas deixem até de aproveitar os benefícios das espécies que, por vezes, agem como plantas medicinais e ornamentais. Pensando nisso, alguns pesquisadores desenvolveram um livro para chamar a atenção para a importância das plantas pequenas do Cerrado.
577 espécies foram apresentadas no material, além de fotos e descrições elaborados através do levantamento feito da flora local. Os detalhes contidos no material mostram que o funcionamento do Cerrado depende fortemente das plantas pequenas, que protegem contra a erosão, armazenam carbono no solo e facilitam a infiltração da chuva.
Também através da análise da queimada natural, os pesquisadores pontuaram que algumas flores nem sequer florescem sem a passagem do fogo. No caso do cabelo-de-índio, Alessandra Fidelis observou que ele se aproveita da remoção das folhas velhas feitas pelo fogo para iniciar o processo de formação de flores. Agora, continuam a estudar a planta com o objetivo de desvendar de qual de suas partes vem esses nutrientes para a formação de flores.
O fogo está presente no Cerrado há milhões de anos e a maior parte dos incêndios naturais é causado por raios. Por conta disso, antes mesmo da presença do homem, muitas espécies criaram adaptações graças à ocorrência do fogo.
A pesquisadora explica que algumas plantas possuem cascas grossas, estruturas subterrâneas brotam após o fogo, há ainda folhas que rebrotam das copas e até novos ramos que são formados a partir do tronco. “Os capins também têm uma alta capacidade de rebrotar depois do fogo”, descreve a pesquisadora.
E, falando em capim, Alessandra explica que temos muitas espécies no Cerrado e, de uma grande variedade, uma rápida observação mostrará que nem todo capim é igual. “Convido a todos, da próxima vez que for a uma área de Cerrado, não olhar apenas para as árvores, mas sim para o chão. Você descobrirá um novo mundo: o mundo das plantas pequenas, com flores belíssimas”, contou.