Envolvida com universo da literatura desde pequena, escritora e professora tem no ato de ensinar sua verdadeira paixão
Livros sempre fizeram parte do universo da escritora Luciene Paulino Tognetta. Desde criança ela já se envolvia no mundo mágico da leitura e escrita e aos poucos ia traçando aquela que, um dia, seria sua profissão.
Professora desde os 17 anos, Luciene tem verdadeira paixão por ensinar. Nos livros, ela encontrou as ferramentas ideias para tocar o coração das pessoas. E também, nos livros, ela se encontrou.
Sua obra mais recente, a coleção "Os medos que a gente tem" está fazendo o maior sucesso entre as crianças, principalmente por abordar um assunto pouco discutido com os pequeninos: o sentimento... Aliás, é exatamente falando de sentimento com os mais novos que Luciene consegue tocar os mais velhos.
Em bate-papo bem leve e super interessante com o TodaGente, a escritora falou sobre suas obras, projetos futuros e novos lançamentos.
Ela também contou um pouco da infância recheada de contos e seu brinquedo preferido: uma caixa de lápis de cor que levava para cima e para baixo aonde quer que fosse...
Como pais e professores, estamos todos preocupados com a formação de nossos filhos e alunos. Ninguém quer vê-los sofrer, ninguém quer tê-los intolerantes, desrespeitosos... o problema é que não sabemos como fazer para dar conta disso
Você divide seu tempo entre lecionar e escrever livros. Por qual das duas atividades se apaixonou primeiro?
Sou primeiro professora e me tornei escritora por conta da paixão por ensinar. Sou da época em que se fazia o curso do Magistério e então me formei aos 17 anos. Era uma menina que assumiu sua primeira turma no Colégio Dom Bosco de Americana... Mas essa não foi a minha primeira atividade como educadora. Desde os 13 anos eu participava como voluntária nas Faislândias, uma espécie de Colônia de Férias que os Salesianos faziam em bairros carentes... Aos 15 anos eu já era catequista em uma pastoral com crianças... e claro, antes disso, ensinava às bonecas e bichos de borracha que tinha...
Quanto tempo está em cada uma das profissões? Qual foi o primeiro livro que escreveu e quantos já lançou?
Então, sou professora desde as bonecas. Como escritora, meu primeiro livro acadêmico foi publicado pela Editora Mercado de Letras com auxílio da FAPESP em 2003. Intitulado "A construção da solidariedade e a educação do sentimento na escola", ele trazia minha pesquisa de mestrado sobre como um ambiente cooperativo na escola, em que as crianças podem falar o que pensam e o que sentem, podem fazer escolhas, podem avaliar o dia, podem tomar decisões, é um ambiente propício para formar meninos e meninas mais solidários. O livro também inaugura um novo rumo de minhas pesquisas: a intervenção na escola para se trabalhar com um aspecto tão esquecido - a afetividade.
Depois disso, foram vários livros publicados pela Editora Mercado de Letras: três deles são textos unicamente meus: "A formação da personalidade ética e as estratégias de trabalho com afetividade na escola"; "Perspectiva ética e generosidade". O livro "Quando a escola é democrática: um olhar sobre a prática das regras e assembleias na escola" é escrito com minha parceira de pesquisa, Telma Vinha. Outros, foram organizados por mim, mas tratam de artigos de vários pesquisadores: "Virtudes e Educação - o desafio da modernidade" e o mais recente organizado por mim e por Telma: "Conflitos na instituição educativa: perigo ou oportunidade?" Há outros capítulos de livros publicados em vários livros da Artmed, por exemplo, e de outras editoras...
Sempre foi apaixonada por leitura? Lembra-se do primeiro livro que leu?
Sempre. Mas por ler e escrever. Não só ler. Aliás, mais escrever do que ler.... Não tínhamos muito acesso a livros quando éramos pequenos. Mas lembro-me de clássicos que amava: "Mémorias de um cabo de vassoura", "Menino de Asas", "A Moreninha".... E lembro-me também de livros que ganhei como prêmios na escola: um em especial que me acompanha até hoje: "O menino no espelho".
Lembro-me também que meu brinquedo preferido era uma sacolinha em que eu guardava um caderno e lápis de cor. Eram seis lápis, guardados como tesouros...Acho que por isso gosto tanto das caixas de lápis de cor do meu filho com 24, 36 lápis... passo horas apreciando! (risos)
Alguns de seus livros infantis falam muito sobre sentimentos e até abordam o bullying. Por que decidiu tocar nesse assunto especificamente?
Porque são assuntos que fazem parte do cotidiano das pessoas. A coleção "Falando de sentimentos" foi iniciada exatamente quando defendi minha tese de doutoramento, que tratava da necessária participação dos afetos para a formação da generosidade entre as pessoas. Ou seja, em outras palavras, não se pode ensinar a ser generoso porque não é algo que venha de fora para dentro: é preciso se sensibilizar com o outro para ser generoso e para que isso aconteça, é preciso que meninos e meninas estejam acostumados a falar sobre o que sentem, a se conhecer... então, quis transformar esses conhecimentos científicos em oportunidades das crianças pensarem sobre essas coisas... Os livros são de alguma forma, uma ajuda e motivação para que as crianças possam expressar o que sentem e saber o quanto são importantes...
Então, a violência chamada de bullying para mim era exatamente a falta dessa sensibilidade que eu tanto defendia para ser generoso. E portanto, eu comecei a escrever sobre esse tema considerando o que menos se tem dito por aí: para se vencer o bullying é preciso que as crianças (ou pessoas em quaisquer idades) possam desenvolver por si um autorrespeito.
A coleção "Os medos que a gente tem", lançada pela Editora Adonis, está fazendo o maior sucesso entre as crianças. A que você credita esse sucesso?
A coleção fala do cotidiano das crianças. Fala de coisas que acontecem no seu dia-a-dia. Seus medos são reais. Mas tão reais quanto eles é a sua capacidade de imaginar... O Medonho é querido pelas crianças exatamente por isso.
Aliás, uma grande amiga conta que outro dia sua pequena de 8 anos, Bruna, que ganhou um bonequinho do Medonho, foi questionada pelas colegas da escola sobre por que ela gostava tanto daquele bicho tão feio. Ela disse: "porque ele é meu medo. Sabe, ele era feio mas quando eu venço o medo, ele fica meu amigo e fica lindo!"
Por que o bullying é um assunto que interessa tanto aos leitores?
Como pais e professores, estamos todos preocupados com a formação de nossos filhos e alunos. Ninguém quer vê-los sofrer, ninguém quer tê-los intolerantes, desrespeitosos... o problema é que não sabemos como fazer para dar conta disso. Por isso as histórias vêm acompanhadas do suplemento que na verdade, é um texto que traz a teoria, ou as explicações para o fenômeno dos medos, da relação com as pessoas, do bullying... Acredito na formação das pessoas com fundamentação teórica para a educação. Somos pouco habituados a acreditar na ciência. Acreditamos na medicina mas não na educação. A educação tem ciências por trás que a sustentam.
De onde vem a inspiração para suas estórias?
Vêm também do cotidiano. Das histórias do meu pequeno filho... das histórias dos amigos...
Quais são seus projetos futuros?
Acho que me encontrei escrevendo livros infantis. Gosto também de escrever para adultos. Mas ultimamente, o senhor de todos os pesquisadores, o senhor Qualis (um sistema do governo para avaliar as publicações dos pesquisadores) tem exigido a publicação de artigos em revistas científicas... E então, lá vamos nós, deixar os livros.... uma pena!
Sobre o que ainda pretende escrever?
Eu e o Gabriel, meu filhinho, acabamos de escrever um novo livro que o "tio" Paulo (Paulo Masserani o ilustrador de meus livros infantis) já está desenhando... trata-se de uma história de um galo doido que não sabe direito que regras deve seguir... em fevereiro ele será lançado!