Notícia

Jornal da USP online

As histórias culturais dos dois lados do Atlântico

Publicado em 13 janeiro 2020

Por Claudia Costa

Novo número da revista traz dossiê sobre projeto de cooperação internacional entre Brasil e França

A Revista USP acaba de lançar seu número 123, que traz em destaque o dossiê Histórias Culturais Transatlânticas. Organizado pelos pesquisadores franceses Anaïs Fléchet (Departamento de História da Université Versailles Saint-Quentin-em-Yvelines) e Olivier Compagnon (Institut des Hautes Etudes d’Amérique Latine da Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3) e pela brasileira Gabriela Pellegrino Soares (Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH da Universidade de São Paulo), o dossiê apresenta resultados do projeto de cooperação internacional Transatlantic Cultures – Cultural Histories of the Atlantic World 18th-21dt Centuries.

Financiado pelas agências de pesquisa Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e ANR (Agence Nationale de la Recherche), o projeto, como informam os organizadores na apresentação da revista, é voltado à construção de uma plataforma digital de livre acesso, reunindo narrativas sobre as dinâmicas de circulação cultural que, na época contemporânea, entrelaçam regiões do espaço atlântico (compreendendo a Europa, a África e as Américas). “A plataforma, em fase de experimentação, está baseada na Digital Humanities open plataforma – TGIR Huma-Num, vinculada ao CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), na França”, completam.

Ao lado das equipes, brasileira e francesa, o projeto ainda conta com uma extensa rede de colaboradores de diferentes países e instituições, e “as abordagens desenvolvidas dialogam com correntes hoje em voga no campo da história – as chamadas histórias conectadas, a história transacional, a história global”. Esse “laboratório” vai capturar os processos de mundialização e globalização cultural desde o final do século 18. “Nosso objetivo não é traçar um panorama exaustivo desses intercâmbios – o que naturalmente seria impossível –, mas propor uma reflexão crítica sobre as circulações e a mundialização cultural, assim como sobre os processos identitários e as fronteiras (políticas, linguísticas, culturais e simbólicas) que contribuíram para o estabelecimento e para a renovação dos grandes ares culturais no transcorrer dos últimos séculos”, concluem.

O dossiê reúne seis artigos de pesquisadores brasileiros, membros da equipe de colaboradores do projeto. Entre eles, Fernando Ortiz e a rede transatlântica de intercâmbios, de José Luis Bendicho Beired, que trata da trajetória do intelectual cubano Fernando Ortiz (1881-1969), conhecido pela criação do conceito transculturação, iluminando suas contribuições pioneiras para o estudo da população negra em Cuba, no campo da história e da cultura. Outros dois ensaios tratam da música: Cartografias transatlânticas da música popular nas Américas, produzido por Marcos Napolitano, percorre territórios da história da música popular em que se captura a circulação e reinvenção de instrumentos, ritmos e sonoridades, colocando em evidência apropriações musicais africanas e europeias nas Américas; e Música de concerto no Brasil: O modernismo musical e suas circulações transatlânticas, de André Egg, aborda o movimento a partir de duas personalidades da Semana de Arte Moderna: Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos.

Há também um artigo de Alexsandro de Sousa e Silva sobre a produção da cineasta Sarah Maldoror (Guadalupe, Antilhas), que, segundo os organizadores, mesmo tendo estudado na Rússia e com carreira na França, fez da África e da denúncia à violência colonial em meio às guerras da independência objeto principal de sua produção. Completam o dossiê os artigos As três eras do Atlântico Sul, de Luiz Felipe de Alencastro; e O cinema em perspectiva transatlântica: práticas históricas e culturais nas exposições universais, de Eduardo Moretin.

Além do dossiê, a Revista USP ainda traz, na seção Arte, uma reflexão de Alecsandra Matias de Oliveira (Associação Brasileira de Críticos de Arte) sobre o painel Etnias: do primeiro e sempre Brasil, da artista plástica Maria Bonomi, exposto desde 2006 no Memorial da América Latina, em São Paulo. Segundo a autora, “a instalação conta a história do Brasil, do período colonial à atualidade, com uma série de fotogramas gigantes e penetráveis”. E, na seção Textos, Charles Darwin (1809-1882), que em 2019 comemorou os 210 anos de seu nascimento e os 160 anos da publicação de sua obra fundamental A origem das espécies, é revisitado em artigo escrito por Lilian Al-Chueyr Pereira Martins (Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP).

A “Revista USP” número 123 tem 164 páginas e é uma publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP. Mais informações pelo telefone (11) 3091-4403. A edição completa da revista está disponível gratuitamente neste link.