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Árvores contam a história da poluição na cidade de São Paulo (1 notícias)

Publicado em 20 de agosto de 2018

Quando a Companhia City construiu alguns dos primeiros bairros planejados da cidade de São Paulo, como Jardim Europa, Pacaembu e Alto de Pinheiros, na primeira metade do século 20, espalhou pelas ruas uma árvore de origem boliviana chamada Tipuana tipu. Hoje é uma das mais comuns nas ruas da cidade e ajudam a contar a história da poluição na cidade.

Junto com a água e os nutrientes que precisa para sobreviver, a raiz das árvores suga do solo os componentes químicos presentes no solo, como metais pesados, e na atmosfera, carregados pela água da chuva.

Os compostos são transportados junto com a seiva pelos vasos da planta, e vão ficando armazenados na madeira. As árvores, para crescerem, vão formando anéis. Eles crescem por aproximadamente um ano, antes de iniciar o seguinte.

Por ser grande e uma das que mais caem na cidade, pesquisadores do Instituto de Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estão fazendo análises químicas de cada um dos anéis das tipuanas, além da casca da árvore, para que sirvam como marcadores da poluição ao longo das últimas décadas.

“Se uma árvore tem 50 anos, por exemplo, ela contará a história da poluição na cidade nesse período”, disse Giuliano Maselli Locosselli, pós-doutorando no IB-USP e primeiro autor do estudo, à Agência FAPESP.

Já as cascas da tipuana permitem avaliar a concentração de elementos químicos presentes na atmosfera e que se depositaram passivamente nessa parte externa do tronco da árvore.

“Como a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é possível analisar as cascas de diversas árvores e cobrir uma grande área. Isso permite ver como a poluição por metais pesados e outros elementos químicos se distribui por toda a cidade”, disse Locosselli.

A Tipuana é uma das árvores mais comuns nas ruas da cidade de São Paulo. (Foto: Prefeitura de São Paulo)

Como experimento inicial, os pesquisadores analisaram a distribuição de cádmio, cobre, mercúrio, níquel, sódio, chumbo e zinco em anéis de duas espécies de tipuana plantadas no jardim da Faculdade de Medicina da USP, situada na zona oeste da cidade.

Para obter amostras dos anéis de crescimento anual das duas árvores, com 35 anos de idade, foi usada uma sonda Pressler,um instrumento semelhante à broca de uma furadeira, mas com o interior oco, é capaz de extrair uma amostra cilíndrica do interior da árvore, que mostra todos seus anéis de crescimento anual, da casca até o centro da planta, sem prejudicá-la. “É como se fosse uma biópsia da árvore”, contou Locosselli.

As análises dos dados indicaram que houve redução da poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo nas últimas três décadas na região. A redução dos níveis de sódio e zinco foi menos significativa.

“A diminuição dos níveis de chumbo pode ser atribuída à eliminação gradual desse elemento químico na composição da gasolina, enquanto a tendência decrescente da poluição por cádmio, cobre e níquel provavelmente está relacionada ao aumento da eficiência dos veículos e à desindustrialização de São Paulo”, disse Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.