Desde 2012, o grupo Nanobionics, localizados no Instituto de Química da Unesp, no câmpus de Araraquara, se dedica ao estudo de tecnologias úteis para o desenvolvimento de biossensores capazes de realizar diagnósticos de doenças de forma rápida acessível e a partir de dispositivos portáteis.
Em um recente artigo, assinado pela doutoranda Beatriz Lucas Garrote, o pós-doc Adriano Santos e o professor Paulo Roberto Bueno compartilha um protocolo de sucesso para aplicações biossensoras e analíticas do tipo label-free, ou seja, que não demanda o uso de reagentes para o diagnóstico, uma característica que dispensa laboratorios e leva o diagnostico para o consultorio medico.
O método compartilhado no artigo já demonstrou seu sucesso, por exemplo, para a detecção viral em casos de dengue, afirmam os autores. O artigo foi publicado em Outubro, na revista Nature Protocols.
No blog Behind the Paper, disponível no site da revista científica, o trio afirma que depois de todos esses anos que o grupo se dedicou a pesquisar o tema, era o momento de compartilhar detalhadamente o protocolo com a comunidade, na expectativa de tornar os biossensores e os dispositivos portáteis de diagnóstico o mais acessível possível.
“Nós acreditávamos (e ainda acreditamos) que ao fazer isso, outros pesquisadores terão acesso às ferramentas e às estruturas para aplicar a capacitância eletroquímica em suas pesquisas e fazer novas descobertas”, afirma a publicação no blog. “Temos o prazer de alcançar esse objetivo e esperamos que nosso protocolo receba a atenção tanto da comunidade científica envolvida com biossensores quanto a da química analítica”.
O professor Paulo Roberto Bueno explica que o tema central da tecnologia está no encontro entre a eletroquímica e a eletrônica. Sabe-se que correntes elétricas percorrem o corpo humano a todo o momento, mas quando elas ainda estão no nosso organismo, não são eletrônicas, mas sim eletroquímicas, explica o docente de Araraquara, em entrevista veiculada no podcast da revista Pesquisa FAPESP em agosto deste ano.
“Estudamos como a eletroquímica e a eletrônica se encontram para fazer um acoplamento melhor entre o que a gente faz em eletrônica com aquilo que é a corrente elétrica do corpo humano. Esse é o projeto em si”, destaca. A partir daí são desenvolvidos os biossensores capazes de detectar pequenas concentrações dos biomarcadores como anticorpos, proteínas ou uma molécula específica que identifique determinada doença.
A tecnologia já foi testada com sucesso no caso da dengue e recentemente o professor teve uma proposta de projeto aprovada para financeiro da FAPESP onde propõe desenvolver, em parceria com a USP, dispositivos eletroquímicos portáteis de diagnóstico para a detecção rápida de Covid-19.
A ideia é criar um dispositivo eletrônico que carregue este biossensor e que pode se conectar a um celular por meio da entrada USB. Sem a necessidade de reagentes, o dispositivo dispensaria a necessidade dos laboratórios, e o diagnóstico seria feito em minutos, no consultório do médico por meio de um equipamento que cabe na palma da mão. Pode parecer um sonho distante, mas um dispositivo semelhante já existe, mas para medição de diabetes. “A tecnologia é diferente, mas a prática é a mesma”, afirma Paulo Roberto Bueno.
Essa tecnologia está patenteada e licenciada internacionalmente. A tecnologia desenvolvida na Unesp está licenciada para a empresa Osler, uma startup da Universidade de Oxford, da qual o professor é co-fundador. Para se ter uma ideia do potencial da tecnologia, a empresa é hoje a startup de crescimento mais rápido na história da Universidade britânica.