Os inibidores de recaptação da serotonina em crianças com depressão são apenas uma pequena engrenagem dentro de um sistema bastante amplo, que envolve até os tribunais de Justiça e o mundo das indústrias farmacêuticas. Por estudar exclusivamente esses processos bioquímicos e - de forma indireta - interferir de maneira contundente no grande sistema, Craig Whittington e colaboradores ganharam, do conselho de administração do grupo The Lancet, o título de autores do artigo científico do ano. A robusta revisão - o autor é colaborador do Centro para Saúde Mental do Reino Unido - saiu nas páginas da revista médica The Lancet em abril de 2004. Apesar de o prêmio ser escolhido pelo conselho responsável pela edição da revista, ele não seleciona apenas artigos por ela publicados. Em 2003, por exemplo, o artigo vencedor havia saído na Science. Dos 18 executivos que participaram da eleição deste ano, 11 votaram em trabalhos de outros periódicos. Para Richard Horton, editor da The Lancet, o trabalho vencedor ofereceu muitos subsídios teóricos para os redatores da revista na polêmica instalada no início do ano sobre a prescrição de antidepressivos para crianças. Os estudos independentes mostraram, entre outras coisas, que os remédios não eram tão seguros como os fabricantes estavam anunciando. Um dos problemas que poderia ocorrer, por exemplo, era o aumento do número de tentativas de suicídio entre crianças depressivas que consumiam medicamentos que alteravam o metabolismo dos inibidores de recaptação da serotonina. Algumas empresas farmacêuticas, inclusive, tiveram que pagar indenizações para famílias de norte-americanos, que se sentiram lesadas e, por isso, entraram com ações na Justiça. (Agência Fapesp. 28/12)
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