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Plástico Moderno

Arrefecimento da crise aliviou os fabricantes, com exposições focadas em sustentabilidade (1 notícias)

Publicado em 01 de maio de 2009

Por Maria Aparecida de Sino Reto

Fruto da consolidação da petroquímica nacional, o redesenho da indústria brasileira de resinas commodities conferiu novos contornos aos corredores da Brasilplast. Resultantes do processo de integração, os grupos Quattor e Braskem estamparam sua imponência em estandes gigantes, os maiores da feira, proporcionais à sua posição no mercado. Talvez por conta da “marolinha”, notou-se a ausência de empresas renomadas do setor, como a produtora de poliestireno Innova (de Triunfo-RS), entre outras.

Instalada quase ao lado de sua concorrente, a Quattor debutou nesta feira. Animado com a tendência de recuperação das vendas, fortalecida em março e abril, segundo seu testemunho, Vítor Mallmann, presidente da empresa e também do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp), comemorou as manifestações e receptividade dos clientes em seu estande. Sua percepção é a de que o movimento de realização de estoque está se encerrando, favorecendo a retomada da demanda, com sinais  positivos de uma normalização. Maio deve ser um bom divisor de águas e as expectativas são de retomada das vendas ao patamar pré-crise.

A feira serviu de palco para a Quattor reforçar a linha de nanocompósitos de polipropileno, herdada da extinta Suzano Petroquímica, com foco em novos desenvolvimentos, em fase de projeto piloto. Os produtos nanoestruturados envolvem opções de compostos de PP com maior resistência ao risco, antimicrobianos e aditivados com substâncias antichamas livres de halogênios e sinérgicas com as nanoestruturas. Este último caso ainda reúne vantagens adicionais de melhor balanço rigidez/impacto, teores reduzidos de aditivos e menor densidade.

A empresa também aproveitou o evento para celebrar a inauguração da sua nova linha produtiva de 250 mil toneladas anuais de polietilenos (de alta densidade, de baixa densidade linear convencional e de base metalocênica), em Mauá-SP, com tecnologia Chevron Phillips.

A maior novidade, porém, da qual Mallmann fala com empolgação, diz respeito ao projeto em andamento para a produção de propeno “verde”, obtido de uma fonte renovável, e, com essa rota, fabricar polipropileno.  A tecnologia propõe unir o útil ao rentável: transformar em propeno um subproduto do biodiesel: a glicerina. “O seu reaproveitamento atende a uma equação de custo, além de uma demanda de mercado por fontes renováveis”, concebeu.

Ainda falta consolidar o desenvolvimento do processo, mas a patente já foi depositada e ele aposta que obterá um propeno de menor custo em relação às rotas convencionais.

O presidente da Quattor ressaltou que a tecnologia, desenvolvida em conjunto com um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é inédita em âmbito mundial e sua expectativa é de consolidá-la no final de 2010, quando os planos contemplam uma operação em escala piloto. O local da produção, porém, ainda não foi definido.

Do processo produtivo do biodiesel resulta como subproduto a glicerina, na proporção média de um quilo para cada dez quilos de biodiesel. A demanda atual brasileira de glicerina, da ordem de 30 mil toneladas anuais, é abastecida principalmente pelas indústrias de sabão (também geradoras da glicerina como subproduto). Porém, com a previsão da utilização do B5 (adição obrigatória de 5% de biodiesel no diesel petroquímico) para meados de 2010, o país deverá gerar da ordem de 260 mil toneladas de glicerina como subproduto de uma fabricação anual estimada de 2,5 bilhões de litros de biodiesel. A produção do propeno verde contribuiria, assim, para resolver uma questão ambiental, visto que não há mercado para tal nível de excedente de glicerina.

A tecnologia patenteada pela Quattor se baseia em um sistema catalítico capaz de promover uma reação que transforma seletivamente a glicerina em propeno. Esse biopropeno servirá de insumo para a produção de polipropileno verde, que dispõe das mesmas propriedades do polímero sintetizado com o propeno oriundo da nafta.

A Braskem está igualmente investindo em pesquisas e desenvolvimento de um propeno de fonte renovável, a fim de fabricar também polipropileno verde. O projeto deve absorver monta da ordem de R$ 8,25 milhões, prevista para aplicação nos próximos três anos, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp, detentora de 50%) e parceria com a área de biotecnologia da Universidade de Campinas (Unicamp). A tecnologia se encontra em teste em escala piloto.

Diferentemente das edições passadas da Brasilplast, a Braskem antecipou os diversos lançamentos – novos produtos ou aplicações –, planejados para a feira (ver PM nº 414, abril de 2009, página 102), frutos do Programa de Inovação Braskem (PIB). Desde a sua criação, há cinco anos, o projeto respondeu por 100% dos lançamentos da empresa, um total de 120 novos produtos.

A fabricante ainda aproveitou o clima da feira para divulgar seu balanço do primeiro trimestre do ano. A boa notícia foi que os resultados mostraram aumento das exportações e também uma recuperação nas vendas no mercado doméstico, observada em março. A má, que essa reação foi insuficiente para compensar o cenário adverso de janeiro e fevereiro, de acordo com o presidente da Braskem, Bernardo Gradin. Por conta, principalmente, da queda dos preços das resinas no mercado doméstico e da redução nos volumes no primeiro bimestre, a receita líquida encolheu 24% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com os últimos três meses de 2008, com um resultado de R$ 3,2 bilhões. “Apesar do trimestre difícil, março e abril foram meses mais regulares”, comentou. Os segmentos de embalagens, bens de consumo, higiene pessoal e limpeza se destacaram entre os de melhor desempenho.

O presidente da Braskem também avaliou o cenário internacional, com o início de operação adiado, mas iminente, das megaplantas de commodities no Oriente Médio. “Foram postergadas, mas virão muito competitivas no segundo semestre”, ressaltou. O quadro que se delineia gera expectativas de novas quedas nos preços das resinas.

A propósito, Gradin admitiu que as importações incomodaram, atingindo participação de 35%, provenientes principalmente de países da América Latina – Argentina e Colômbia, em particular –, que buscaram novas oportunidades perante a queda na demanda do mercado internacional, em especial dos Estados Unidos e Europa.

Por conta desse cenário, mais os reflexos da parada programada para manutenção da unidade de PVC, em Alagoas, o volume de resinas comercializadas pela Braskem no mercado doméstico recuou 7% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao anterior. O recuo nas vendas internas, porém, foi compensado pela forte alta nas exportações, mais que dobradas em volume, no período.

Um dia antes da divulgação dos seus resultados, o Conselho de Administração aprovou a incorporação da Petroquímica Triunfo pela Braskem, decisão referendada em Assembleia Geral Extraordinária das duas empresas, concluindo acordo de investimentos pelo qual a Petrobras aportou na Braskem suas participações acionárias em empresas petroquímicas.

Foco na sustentabilidade – Nome forte no mercado de commodities, a Dow procurou reforçar sua marca na feira com o lançamento de diversos grades e linhas de produtos, bem como mostrar que o seu projeto de construir uma fábrica com escala mundial de polietilenos no país, utilizando a rota alcoolquímica para a obtenção de etileno, se mantém na lista de prioridades.

Em tempos em que sustentabilidade é a palavra de ordem em âmbito global, a Dow fez questão de empunhar essa bandeira na Brasilplast. De acordo com Eide Francisco Garcia, gerente de produto e mercado de PEAD para a América Latina, as soluções desenvolvidas pela empresa possibilitam reduzir o consumo de matéria-prima e eventuais desperdícios. “A empresa segue o conceito dos três Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e as novidades permitem produzir as mesmas peças ou embalagens com menos resinas”, assegurou.

Os novos produtos beneficiam diversos segmentos. Para injeção, a empresa desenhou dois grades de polietileno linear de baixa densidade, destinados, em especial, ao mercado de embalagens rígidas: o DNDA 1081 e o  DNDA 1082, com índices de fluidez mais elevados, sinônimo de maior velocidade de ciclo e produtividade. “Conferem 15% mais produtividade em comparação às resinas similares disponíveis no mercado nacional”, garante Garcia. Os novos polímeros apresentam distribuição de peso molecular estreita e são ideais para a injeção de peças de paredes finas e ciclo rápido.

O novo PEAD Continuum 6650 foi desenvolvido para atender o segmento de bombonas e tambores. Resina bimodal, proveniente do processo Unipol 2, o produto embute propriedades mecânicas e químicas superiores. Além disso, sua alta resistência à fissuração sob tensão (stress cracking) permite produzir embalagens com menores espessuras de parede.

O segmento de rotomoldagem foi contemplado com uma linha completa de resinas de média densidade ofertadas com pacote de aditivos para cada tipo de uso. Também há opção sem aditivação. Com índices de fluidez de 3,5 a 7, os quatro produtos da série cobrem toda a gama de aplicações, de acordo com Garcia, e ainda conferem 10% de redução no ciclo produtivo, sinônimo de maior produtividade.

A área de tubos consiste em um dos grandes focos de investimentos da empresa, que concebeu o novo 8818 YL-CF, um PE 80, composto amarelo livre de cádmio. “É a única resina do gênero sem metal pesado no Mercosul”, destacou Garcia, reticente em revelar o pacote de aditivos incorporado à formulação. A resina se destina à fabricação de tubos de pressão para distribuição de gás natural.

Um polietileno de alta densidade, o novo grade 90057L, destinado ao segmento de filmes termo encolhíveis, para empacotamento automático ou produção de embalagens stand-up-pouch, entre outros usos, apresenta como grande diferencial o altíssimo controle de gel. “Proporciona maior rigidez ao filme, o que possibilita reduzir sua espessura mantendo as propriedades mecânicas”, explicou Garcia.

O gerente de produto e mercado para a América Latina dos polietilenos de baixa densidade lineares da Dow, Agustín Argibay, discorreu sobre os outros lançamentos da feira, como a resina “EcoTurbinada”, dirigida ao segmento de filmes coextrudados para empacotamento de arroz. Além de maior processabilidade, traduzida em produtividade, o polímero oferece resistência superior a impactos e perfurações, bem como propriedades ópticas especiais. De acordo com Argibay, o produto dispõe de maior densidade, o que confere melhores propriedades mecânicas ao filme. Assim, com a nova formulação, o transformador pode reduzir a espessura do filme (e o consumo de matéria-prima), mantendo as mesmas características. “Permite produzir 69 embalagens contra 62 da resina antecessora”, comparou o gerente.

Outra novidade fica por conta do Elite XUS, um polietileno de base octeno, produzido com catalisador metaloceno, e primeiro polímero criado pela Dow para o mercado de monofilamentos. Na opinião de Argibay, essa resina assegura melhor processabilidade que os contratipos da concorrência. O gerente ainda ressaltou o novo Elite 5960G para filmes, um polietileno de alta densidade com alta barreira à umidade e moderada resistência à gordura. Com esse polímero, disse ele, o transformador consegue reduzir até 40% a espessura do filme, dependendo da aplicação.

Incorporado à geração dos PE’s lineares, o novo Dowlex NG 5085B se destaca por suas propriedades ópticas diferenciadas (brilho, transparência) e melhor processabilidade nas extrusoras do tipo balão. Em comparação com uma resina linear convencional, o novo produto possui, ainda, maior resistência à perfuração.

Atualizar e expandir – Reafirmar a disposição em manter os investimentos, mesmo perante a forte retração no consumo no último trimestre do ano passado, configurou a participação da Solvay na feira. A crise impactou os negócios, mas, no contexto geral, os resultados foram bastante positivos em 2008, na avaliação do gerente-comercial de PVC, Gibran João Tarantino.

Janeiro e fevereiro constituem meses historicamente marcados pela demanda mais baixa e, em 2009, o mercado hibernou nesse período. “Os clientes realizaram inventários para só depois adquirir novos estoques”, justificou. Março e abril, no entanto, registraram melhor desempenho. Embora ainda caminhe com demanda inferior à do ano passado nesta mesma época, o mercado sinaliza regularização. Nos três primeiros meses deste ano, o volume de vendas de PVC cresceu 15% no mercado argentino e 8% no brasileiro, segundo dados da Solvay.

Baseadas em conversas com clientes, as perspectivas de Édison Carlos, gerente de comunicação e assuntos corporativos da empresa, convergem para um cenário bastante positivo no segundo semestre. “Já saímos do fundo do poço e o espírito otimista é importante para tirar do setor o impacto negativo da crise.”

Os investimentos anunciados pela Solvay e reforçados durante a exposição contemplam a atualização do parque fabril de Santo André-SP, hoje com uma capacidade produtiva de 300 mil toneladas de PVC. O projeto prevê expansão de 50 mil toneladas, entre 2010 e 2011. Em paralelo, corre outro empreendimento, a construção de uma nova unidade de PVC verde, polimerizado com etileno de rota alcoolquímica. Para tanto, a empresa já assinou contrato de fornecimento de álcool com a Copersucar. A fábrica está sendo dimensionada para produzir 60 mil toneladas de bioetileno. Convertidos em PVC, correspondem a 120 mil t. “O projeto de engenharia está pronto”, comemora Carlos. Também a fábrica argentina de PVC receberá novos recursos. O intuito é desgargalar a unidade, elevando de 220 mil para 240 mil toneladas a sua capacidade, em 2010. “A Brasilplast aconteceu em um momento bom, pois ajudou a mostrar que o setor continua forte e as grandes empresas sustentam seus investimentos”, avaliou Carlos.