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Arquitetura com memória

Publicado em 01 abril 2008

Por Tuga Martins

Faltava apenas abordar o tema patrimônio humano para que a Vila Ferroviária de Paranapiacaba completasse o projeto do Circuito Museológico dentro da concepção de "museu a céu aberto", expressão cada vez mais freqüente atribuída aos sítios históricos brasileiros recentemente restaurados. A instalação da Casa da Memória foi contemplada pela terceira edição do Edital de Modernização de Museus do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). "Apresentamos a idéia do Circuito Museológico dentro de uma concepção de museu a céu aberto por entender que a Vila é um complexo grande museológico" — afirma o diretor de Paranapiacaba, Elisson Costa.

O Projeto do Circuito Museológico de Paranapiacaba, ao qual se integra o Projeto Colaborativo Casa da Memória - Núcleo da Memória Audiovisual da Paisagem Humana de Paranapiacaba concorreu com outros 328 de todo o País, dos quais apenas 37 foram aprovados. No Estado de São Paulo, além de Santo André, somente o Museu de Arte de São Paulo e o Museu da Unicamp foram escolhidos. O valor total do projeto é de R$ 91 mil, sendo R$ 60 mil do Iphan e R$ 31 mil de contrapartida da Prefeitura de Santo André.

Desde que a Vila foi comprada pela Prefeitura há seis anos, não faltaram esforços para fomentar o potencial turístico para além dos limites do patrimônio arquitetônico de 334 imóveis construídos no fim do século XIX pela companhia inglesa de trens São Paulo Railway. O Circuito Museológico é composto pelo Museu Castelo, que abriga o acervo da história de Paranapiacaba; o Clube União Lyra Serrano, que apresenta o patrimônio sociocultural; o Centro de Visitantes, com informações sobre o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba; e o Centro de Referência em Arquitetura e Urbanismo, que acolhe informações sobre a técnica construtiva em madeira e as tipologias arquitetônicas das casas, reunidas por uma pesquisa realizada pela Fundação Santo André e financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em parceria com o Centro Universitário Fundação Santo André e a Prefeitura de Santo André.

A concepção de museu ao ar livre data de 1870, graças ao carinho dos escandinavos pela natureza. O primeiro e mais famoso museu, ativo desde 1891, é o Parque de Skansen, em Estocolmo. Paranapiacaba também fez da paisagem natural forte aliada. Mas a preservação e a divulgação de tradições e rituais merecem atenção especial porque são os primeiros a se perder quando não transmitidos. "A idéia é criar um circuito pelo qual os visitantes possam conhecer a diversidade de patrimônios, equipamentos e histórias de Paranapiacaba" — afirma o diretor.

A instalação da Casa da Memória está nas mãos da artista visual e pesquisadora Lilian Amaral. O desafio apresentado à curadora da primeira mostra do projeto é completar o circuito e oferecer diferenciais, principalmente para atender jovens estudantes. "Trata-se de um público mais midiático, que exige caráter dinâmico com suportes mais contemporâneos como audiovisual e informática" — explica Elisson Costa.

Além da característica digital, o trabalho de Lilian Amaral tem traço colaborativo, agrega pessoas e coloca o humano em destaque em meio à tecnologia.

O processo de implementação passou por adequação física da Casa Fox e exigiu qualificar moradores como agentes da memória. "Decidimos capacitar inicialmente 30 pessoas, sendo 15 para proferir palestras" — adianta o diretor. Monitores e artesãos, que desenvolvem trabalhos na Vila participaram de encontros com profissionais renomados como o arquiteto e artista visual argentino Daniel Toso; a diretora e produtora de cinema argentina Elizabeth Chanampa; a arte-educadora e professora da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) Ana Mae Barbosa; o professor da PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica) e ex-presidente do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), Edgard Assis Carvalho; e até participação a distância da bióloga e artista visual norte —americana, Katherine Bash.