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Arqueólogos descobrem gravura primitiva em Minas Gerais (1 notícias)

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Escavações arqueológicas realizadas por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) descobriram uma gravura esculpida na rocha produzida por povos primitivos há cerca de 10 mil anos. A figura, que representa um ser humano, teria sido feita com lascas de pedra. A descoberta aconteceu no sítio arqueológico Lapa do Santo, localizado na Fazenda Cauaia, município de Matosinhos, em Minas Gerais, a cerca de 60 quilômetros da capital do Estado, Belo Horizonte.

A gravura, que é a representação de figura antropomórfica (com forma humana), foi localizada numa caverna a 4 metros de profundidade do solo. "Ela possivelmente foi produzida entre 9.500 e 10.400 anos atrás", aponta o professor Walter Neves, do IB, que coordenou a pesquisa. "Utilizando a técnica de datação com Carbono-14, a mais usual em pesquisas arqueológicas, analisaram-se fragmentos de carvão de uma fogueira feita em cima da gravura para definir em que época teria sido elaborada".

Petróglifo encontrado em Lapa do Santo é representação da figura humana Petróglifo encontrado em Lapa do Santo é representação da figura humana

A figura possui 30 centímetros de altura por 20 centímetros de largura, tamanho semelhante ao de uma folha de papel sulfite. O professor aponta que a gravura foi picoteada na pedra. "Ela pode ser considerada um petroglifo, já que foi produzida com o auxílio de outras pedras", descreve. "O autor deve ter batido uma pedra em outra para fazer a gravação na rocha".

Moradia

De acordo com Neves, toda a região da Lapa do Santo é riquíssima em gráficos rupestres, com predomínio das pinturas. "Existe uma grande quantidade de representações da figura humana", afirma o o professor. "A gravura que foi encontrada é um indício de que o local serviu como moradia e cemitério".

O professor relata que por volta de 11 mil anos atrás, todo o território hoje ocupado pelo Brasil já era ocupado por grupos pré-históricos. "Todos provenientes da Ásia, que é a origem comum dos povos nativos das Américas", explica. "A descoberta tem relevância por se tratar da evidência mais antiga de arte rupestre já encontrada no continente americano".

As escavações em Lapa do Santo fazem parte de um projeto coordenado pelo Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) do IB, realizado entre 2002 e 2009. "Os trabalhos chegaram a envolver uma equipe de aproximadamente 50 arqueólogos", diz o professor. "Uma grande quantidade de material arqueológico foi encontrado, inclusive 27 esqueletos humanos, com mais de 8.500 anos de existência". Ao final das escavações, a gravura foi mantida no local, com o aterramento do sítio arqueológico com 4 metros de sedimentos, a fim de preservá-lo.

Os estudos tiveram apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A descoberta da gravura é detalhada no artigo "Rock Art at the Pleistocene/Holocene Boundary in Eastern South America", escrito por Walter Neves, Danilo Bernardo, do IB, Astolfo Araújo, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, Renato Kipnis, da Scientia Consultoria, e James Feathers, da Universidade de Washington, em Seattle (EUA). O texto, publicado no último dia 22 de fevereiro, está disponível na plataforma científica PlOs One.

Da agência de notícias da USP