Um estudo publicado no periódico Conservation Biology, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, mostrou que apesar de o Brasil ser o país que abriga a maior concentração de ecossistemas tropicais em áreas protegidas, uma parcela dessas reservas pode estar vulnerável às mudanças climáticas do planeta. Essas áreas abrigam 225 povos indígenas, que se somam a 4,5 milhões de pessoas, entre fazendeiros e populações tradicionais. Mais de 50% das reservas estão na Amazônia.
Sob coordenação do ecólogo David Montenegro Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa avaliou 993 áreas protegidas com mais de 50 quilômetros quadrados, incluindo parques nacionais, estações ecológicas, reservas de desenvolvimento sustentável e terras indígenas. Ao estimar a resiliência das áreas e comparar com as projeções feitas para cada uma, 258 foram classificadas como de “vulnerabilidade média” e 17 como “altamente suscetíveis” às mudanças.
De acordo com a Agência Fapesp, as sugestões dos pesquisadores para as áreas consideradas como de vulnerabilidade mediana incluem o monitoramento e as ações de preservação. Já para regiões mais vulneráveis, a sugestão é que as intervenções sejam mais incisivas, como o deslocamento de espécies, reflorestamento da vegetação original e ações de manejo de populações tradicionais – decisões a serem tomadas em casos mais extremos de risco à biodiversidade.
Além da biodiversidade, cabe destacar que muitas dessas áreas são povoadas por populações tradicionais, como indígenas, caiçaras, ribeirinhos e produtores agrícolas. Das reservas classificadas no estudo como alta ou medianamente vulneráveis, mais de 80% são terras indígenas. “Esse é um ponto especial de atenção, pois há pouquíssimas discussões sobre o manejo e adaptação dessas populações frente às mudanças do clima, de modo que elas e seu modo de vida continuem existindo”, disse Lapola.