Franca - Faltam os testes pré-clínicos, em animais, e o clínico, em seres humanos, mas a equipe de pesquisadores da Universidade de Franca (Unifran) e da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto aposta que chegou, finalmente, ao medicamento capaz de eliminar do sangue dos portadores do Mal de Chagas o temível protozoário Trypanosoma cruzi, descoberto há 95 anos pelo médico Carlos Chagas. Ele é transmitido por um inseto, o barbeiro, e afeta mais de 6 milhões de brasileiros - pelo menos 70 mil com os sintomas de morte anunciada. Mas não será o fim do drama: os doentes ainda terão de fazer transplante cardíaco ou receber células-tronco, porque a ação letal do parasita no coração é devastadora e irreversível.
Mamica de cadela. Esse é o arbusto que dá a cubebina e o metilpluviatolido, substâncias cujos derivados obtidos no Laboratório de Química da Unifran inibem a ação do Trypanosoma cruzi. As pesquisas começaram em 1993, conta o farmacêutico Márcio Luís Andrade e Silva, da Unifran. A ''mamica'' tem espinhos em forma de mama de cadela, daí o nome popular da Zanthoxylum naranjillo, encontrada principalmente no Sul do Brasil e, com menor frequência, em São Paulo.
Um laboratório particular estuda há dois meses a possibilidade de fabricar o medicamento. ''Só a coluna de purificação da substância, após a obtenção da forma sintética, custa US$ 500 mil'', diz o cientista Jairo Knupp Bastos, da USP, e membro da equipe. A patente já está reconhecida em 74 países, incluindo os da Europa, o Japão e os Estados Unidos, onde o Mal de Chagas chegou aos estados do Sul, numa forma mais resistente que a encontrada no Brasil, porém igualmente sensível à descoberta brasileira.
Em 1988, Jairo Bastos estudava as propriedades de 500 plantas para combater schistossosmose e malária. Percebeu que uma delas, a ''mamica'', apresentava atividade intensa contra os protozoários da malária e do Mal de Chagas.
Quando viu que a ''mamica'' era eficiente, Márcio passou a cultivá-la no sítio do sogro, em Ribeirão Corrente, perto de Franca. ''As que estudamos existem nas imediações da Unicamp, em Barão Geraldo, distrito de Campinas, mas a duplicação de uma estrada ali vai acabar com elas'', avisa.
Os derivados da cubebina não têm efeitos colaterais: não são tóxicos nem atacam o estômago, o fígado ou os rins, diz Márcio, baseado em experimentos com animais. Ele alerta: ''Há pessoas que costumam dar ao chagásicos chás de ''mamica'', na esperança de obter a cura, mas é certo que não existe ação positiva''.
Agora, os cientistas esperam recursos para começar os testes pré-clínicos, e certificar oficialmente que não há toxicidade. ''Cada ensaio em laboratório credenciado custa R$ 100 mil e dura oito meses'', avalia Márcio. Depois, será a vez de seres humanos passarem pela experiência. Mas os pesquisadores já sabem que estão no caminho certo: ''Sabemos como a droga age contra o parasita e já conhecemos a rota sintética para sua obtenção. Hoje, fazer 100 gramas custa US$ 7 mil.'' Os testes clínicos determinarão a dosagem e a forma do remédio: pode ser um óleo, um pó ou uma cápsula. Resta uma expectativa antes dos testes: descobrir se esse medicamento terá efeito curativo ou de tratamento eficaz.
Para ser curativo, o princípio ativo tem de sair do sangue do paciente e ir para o tecido, ''mas tudo é questão de formulação farmacêutica''. Ao mesmo tempo, a pesquisa indica que os derivados da cubebina podem agir contra a tuberculose e o vírus HIV. Os ensaios já começaram, confirma Márcio.
O estímulo veio quando Márcio Andrade conseguiu, com o programa Jovem Pesquisador, da FAPESP, apoio para intensificar as pesquisas com a ''mamica''. Até agora, a Unifran, que centraliza os estudos, investiu R$ 500 mil e a FAPESP, R$ 250 mil.
Mamica de cadela. Esse é o arbusto que dá a cubebina e o metilpluviatolido, substâncias cujos derivados obtidos no Laboratório de Química da Unifran inibem a ação do Trypanosoma cruzi. As pesquisas começaram em 1993, conta o farmacêutico Márcio Luís Andrade e Silva, da Unifran. A ''mamica'' tem espinhos em forma de mama de cadela, daí o nome popular da Zanthoxylum naranjillo, encontrada principalmente no Sul do Brasil e, com menor frequência, em São Paulo.
Um laboratório particular estuda há dois meses a possibilidade de fabricar o medicamento. ''Só a coluna de purificação da substância, após a obtenção da forma sintética, custa US$ 500 mil'', diz o cientista Jairo Knupp Bastos, da USP, e membro da equipe. A patente já está reconhecida em 74 países, incluindo os da Europa, o Japão e os Estados Unidos, onde o Mal de Chagas chegou aos estados do Sul, numa forma mais resistente que a encontrada no Brasil, porém igualmente sensível à descoberta brasileira.
Em 1988, Jairo Bastos estudava as propriedades de 500 plantas para combater schistossosmose e malária. Percebeu que uma delas, a ''mamica'', apresentava atividade intensa contra os protozoários da malária e do Mal de Chagas.
Quando viu que a ''mamica'' era eficiente, Márcio passou a cultivá-la no sítio do sogro, em Ribeirão Corrente, perto de Franca. ''As que estudamos existem nas imediações da Unicamp, em Barão Geraldo, distrito de Campinas, mas a duplicação de uma estrada ali vai acabar com elas'', avisa.
Os derivados da cubebina não têm efeitos colaterais: não são tóxicos nem atacam o estômago, o fígado ou os rins, diz Márcio, baseado em experimentos com animais. Ele alerta: ''Há pessoas que costumam dar ao chagásicos chás de ''mamica'', na esperança de obter a cura, mas é certo que não existe ação positiva''.
Agora, os cientistas esperam recursos para começar os testes pré-clínicos, e certificar oficialmente que não há toxicidade. ''Cada ensaio em laboratório credenciado custa R$ 100 mil e dura oito meses'', avalia Márcio. Depois, será a vez de seres humanos passarem pela experiência. Mas os pesquisadores já sabem que estão no caminho certo: ''Sabemos como a droga age contra o parasita e já conhecemos a rota sintética para sua obtenção. Hoje, fazer 100 gramas custa US$ 7 mil.'' Os testes clínicos determinarão a dosagem e a forma do remédio: pode ser um óleo, um pó ou uma cápsula. Resta uma expectativa antes dos testes: descobrir se esse medicamento terá efeito curativo ou de tratamento eficaz.
Para ser curativo, o princípio ativo tem de sair do sangue do paciente e ir para o tecido, ''mas tudo é questão de formulação farmacêutica''. Ao mesmo tempo, a pesquisa indica que os derivados da cubebina podem agir contra a tuberculose e o vírus HIV. Os ensaios já começaram, confirma Márcio.
O estímulo veio quando Márcio Andrade conseguiu, com o programa Jovem Pesquisador, da FAPESP, apoio para intensificar as pesquisas com a ''mamica''. Até agora, a Unifran, que centraliza os estudos, investiu R$ 500 mil e a FAPESP, R$ 250 mil.