A aquicultura emite dez vezes menos gases de efeito estufa e utiliza entre 20 e 100 vezes menos terra por tonelada de proteína animal produzida do que a pecuária. É o que aponta um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, com parte do financiamento garantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
O estudo identificou as potencialidades da criação de peixes e plantas aquáticas para segurança alimentar e renda de pescadores.
O estudo analisou dados da atividade em cinco países que abrigam a Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru). O Brasil lidera a produção de peixes na região, com o estado de Rondônia à frente na criação de espécies nativas.
“O tambaqui já possui um mercado consolidado na região Norte. Sua rusticidade, alta taxa de crescimento e eficiência na conversão alimentar ampliam seu potencial para expandir para outras regiões do país e até para mercados internacionais”, afirma Marta Ummus, analista da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), e coautora do estudo.
Os pesquisadores alertam que, embora a aquicultura tenha potencial de crescimento na Amazônia, é fundamental considerar fatores como a complexidade do licenciamento ambiental, que varia entre os estados, e a necessidade de monitoramento contínuo para assegurar a sustentabilidade da produção.
Por exemplo, o barramento de igarapés para criação de peixes ainda ocorre em algumas regiões, prejudicando a biodiversidade aquática e a conectividade dos corpos d’água. Além disso, o uso excessivo de ração pode acumular matéria orgânica no fundo dos viveiros, aumentando a emissão de metano e desequilibrando as cadeias alimentares ao contaminar rios com excesso de nutrientes.
Uma solução sugerida pelos pesquisadores é utilizar pastagens degradadas para instalar tanques de aquicultura, evitando o desmatamento adicional. Estudos mostram que essa prática emite menos gases de efeito estufa do que deixar essas áreas abandonadas e é mais produtiva, já que a produção de uma tonelada de peixe requer menos terra do que a de carne bovina.
“A aquicultura não pode repetir o que a pecuária fez em estados como Rondônia, onde grandes áreas foram desmatadas para pastagem, mas hoje são pouco produtivas ou abandonadas. No entanto, a atividade tem a vantagem de ocupar essas áreas já abertas de forma muito mais sustentável”, afirma Carolina Doria, professora da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e coautora do estudo.
A Amazônia brasileira se destaca na produção de espécies nativas, como tambaqui, pirapitinga, pacu e pirarucu. No entanto, há pressão para liberar o cultivo de tilápia, uma espécie exótica com grande mercado consumidor e tecnologia de produção consolidada, destaca a pesquisa.
Além da FAPESP, o estudo recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt) e pela Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero), no âmbito da Iniciativa Amazônia+10.
Por Isadora Camargo — São Paulo – Globo Rural