Água quente é um luxo para a maior parte da população carente na zona rural de Itajubá (MG). Quem tem acesso, chega a gastar de 40% a 55% de seu orçamento com energia elétrica.
Mas os dias de banho frio estão contados para essas comunidades. Orientado pelo professor Jorge Henrique Sales, um grupo de estudantes de Tecnologia em Produção Mecânica do Centro Universitário de Itajubá criou um aquecedor solar alternativo de baixo custo e fácil manuseio, utilizando latas de alumínio descartadas.
"Nosso objetivo é usar a tecnologia que desenvolvemos na universidade para finalidades sociais, melhorando a vida da comunidade de baixa renda. O projeto atingiu esse objetivo", disse Sales à Agência Fapesp. Participaram do projeto os estudantes Alexandre Ribeiro Cardoso, Márcio Hessel Verraci, Paulo Fonseca Júnior e Paulo Henrique de Faria.
Importância ambiental
De acordo com o engenheiro, uma das maiores vantagens do aquecedor, que está sendo aperfeiçoado para produção em escala, é dar às latas de alumínio uma destinação intermediária antes da reciclagem.
"Isso tem uma importância ambiental, imaginando-se que o aquecedor possa ser uma alternativa em escala para comunidades carentes. A lata de alumínio é usada sem ser transformada, incentivando aplicação em locais distantes dos pólos de fundição", explicou Sales.
O aquecedor utiliza três eventos físicos: reflexão, efeito estufa e absorção da luz. "O segredo do projeto é cortar as latas longitudinalmente num ponto focal. A luz incidente, em qualquer ângulo, sobre o fundo da lata, reflete-se sobre o foco, onde passa o cano d'água", explicou.
70 graus
Além da reflexão, as latinhas são instaladas numa caixa com fundo preto e cobertas por um vidro. O fundo preto absorve a luz e o vidro causa o efeito estufa. "Os três eventos agem em conjunto para dar mais eficiência ao aquecimento."
O efeito conseguido, segundo Sales é que a água, que entra a com temperatura próxima a 0 grau celsius, sai numa temperatura em torno de 70 graus.
"Um aquecedor de mercado consegue 100 graus. Temos essa perda, mas 30 graus são suficientes para um banho. O aperfeiçoamento que estamos fazendo agora tem o objetivo de aumentar o rendimento para 80 graus, pelo menos", disse o engenheiro.
O custo do equipamento não passa de R$ 540, atualmente. Segundo o pesquisador, o modelo mais barato no mercado custa cerca de R$ 3 mil. "Mas, claro, não pretendemos competir com o mercado. A intenção é ter um equipamento disponível para comunidades que precisam de uma tecnologia muito barata e fácil de instalar e manusear", afirmou. (Fábio de Castro - Agência Fapesp)
Saiba mais
Para fazer em casa
Quem quiser montar um aquecedor solar caseiro, com capacidade para esquentar a água do banho de quatro pessoas, utilizando 200 embalagens longa-vida e 200 garrafas PET, já tem informações disponíveis na internet. Basta acessar o endereço eletrônico www.pr.gov.br/meioambiente/ pdf/solar.pdf. Lá, o interessado encontrará um manual com todas as dicas para montagem. Com o uso do aparelho é possível economizar até 120 quilowatts de energia elétrica por mês. Outra opção é o www.socieda dedosol.org.br.
Cidades Solares tem portal
Está no ar o novo portal 'Cidades Solares'. O endereço eletrônico foi criado para levar informações e se tornar fonte de pesquisas relacionadas ao aquecimento solar. Além disso, o objetivo da iniciativa é criar uma rede que impulsione o uso dessa alternativa energética para o desenvolvimento sustentável. Nele, o interessado encontra informações sobre produto, revendas, dúvidas gerais, benefícios, seminários, legislação, mercado, entre outros temas. O endereço do novo portal é www.cidadessolares.org.br
Portugueses vendem energia
Os pequenos consumidores de energia elétrica que dispõe de painéis solares em suas residências poderão vender o excedente da produção ao governo. A novidade vem de Portugal, país que acaba de inaugurar o maior parque solar do mundo. As instalações domésticas com até 5 quilowatts (kw) receberão 460 euros por megawatts (mw), enquanto as instalações entre cinco e 150 kw receberão 350 euros por cada mwh produzido. No Brasil, alternativa semelhante encontra-se em estudo pelo Operador Nacional do Sistema.
Luz solar contra vírus
A luz solar pode inativar vírus e bactérias presentes na água, segundo o pesquisador Jorge Gomes dos Santos. Garrafas PET transparentes e cheias de água são colocadas ao sol por um mínimo de cinco horas. Os raios infravermelhos e a radiação ultra-violeta elevam a temperatura a mais de 50º C, inativando parcialmente os microorganismos. Depois de resfriada, a água pode ser consumida por até 24h. Para inativá-los completamente, o ideal seria alcançar os 70º. "Mas dificilmente se consegue isso na garrafa PET".
40 milhões de famílias no Brasil utilizam chuveiro elétrico. Sozinhos, eles são responsáveis por até 20% da demanda nacional de energia. Cada kWh que deixa de ser consumido no chuveiro elétrico leva à redução de emissão de cerca de 0,6 kg de gás carbônico. Se todas essas famílias utilizassem a energia solar para aquecer a água do banho, haveria redução de cerca de 21.640.000 toneladas nas emissões de CO2, por ano. Na conta de luz, cada família poderia economizar, em média, R$ 388,00 ao ano.
Notícia
A Tribuna (Santos, SP) online